Corrida espacial dos bilionários pode trazer vantagens para todos
Virgin Galactic, Blue Origin e SpaceX impulsionam pesquisas científicas e o desenvolvimento de novas tecnologias
Tecnologia e Ciência|Giovanna Orlando, do R7
Dois dos homens mais ricos do mundo realizaram o feito histórico de ir ao espaço para viver uma experiência, até então, exclusiva para astronautas. O empresário e dono da empresa Virgin Galactic, Richard Branson, foi o primeiro e nesta terça-feira (20) foi a vez do homem mais rico do mundo, o empresário Jeff Bezos, fundador da Amazon e da empresa espacial Blue Origin.
Se antes eram necessários anos de preparação e treinamento para cruzar a atmosfera terrestre, hoje é preciso ter muito dinheiro. Um passeio espacial pela Virgin Galactic pode chegar a custar mais de R$ 1 milhão. A Blue Origin ainda não revela o preço, mas uma pessoa pagou a bagatela de US$ 28 milhões, cerca de R$ 142 milhões, em um leilão da empresa.
Há ainda um terceiro bilionário na corrida, Elon Musk, dono da Space X, empresa que tem acordos com a Nasa para transportar astronautas até a Estação Espacial Internacional e uma das principais para lançamento de satélites no mundo e deve enviar turistas ao espaço em breve.
Para o professor de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal do ABC, Annibal Hetem, a briga de ego entre os ricaços é muito saudável para o setor.
“Foi a corrida espacial entre os Estados Unidos e a Rússia que pôs o homem na lua. É sempre uma disputa saudável quando não é uma guerra”, diz.
Porém, chamar esses avanços e viagens de turismo espacial é incorreto, segundo o especialista, já que a atividade é apenas para pessoas muito selecionadas e é uma jogada de marketing das empresas, que querem divulgar as conquistas e tecnologias com o mundo.
Viagens do futuro
Com mais de um ano de pandemia e uma parte da população global ainda vivendo com medidas de restrição, o sentimento geral é de pessimismo e melancolia. Ver essas viagens e avanços podem trazer um sentimento positivo para o mundo novamente, segundo o professor.
“Isso é uma coisa boa, faz as pessoas voltarem a ter fé e acreditar na ciência. Cria um sentimento de esperança no futuro”, diz.
Por hora, apenas os mais abastados poderão sonhar em viajar ao espaço, seja por um foguete ou por um avião híbrido, mas toda a população global poderá sentir os efeitos dessas viagens e avanços tecnológicos.
Para uma aventura dessas, as empresas tiveram que criar novas tecnologias, materiais e softwares, o que podem, em algum momento, voltar para a sociedade.
“Mais cedo ou mais tarde, essas tecnologias voltam para a sociedade. Tudo o que é descoberto no setor aeroespacial volta”, explica o professor.
A câmera fotográfica, hoje comum no mundo, antes foi uma invenção para ser usada em telescópios e o titânio, usado até na medicina, foi desenvolvido para a construção de foguetes.
Apesar do investimento gerar um retorno no futuro, Hetem acredita que as viagens espaciais ficarão concentradas apenas nas empresas privadas, sem incentivos governamentais e públicos, o que pode manter o setor restrito por mais tempo.
“Os governos não têm interesse nenhum em custear isso. É um dinheiro alto, uma tecnologia cara”, analisa. Além do fato do dinheiro público na maioria dos países ter outras prioridades, como educação e saúde. “Turismo não é responsabilidade do governo.”
Surge um novo mercado
Com a atenção voltada para o desenvolvimento do setor espacial, o professor acredita que não vai demorar muito para novas empresas ligadas à tecnologia e mais milionários entrarem no setor. Com isso, um mercado aeroespacial e novas oportunidades de negócios podem nascer.
“Vai ter cada vez mais pesquisa para aprimorar a área. Se surgirem outras empresas nesse setor, isso vai fomentar o aparecimento de empresas pequenas que podem ser fornecedoras de serviço”, analisa Hetem.
Nesse segmento, empresários e pesquisadores brasileiros poderão encontrar espaço para crescer. O setor aeroespacial no país é pequeno e voltado principalmente para a parte de defesa.
“O que a gente precisa é ter uma sociedade mais sadia e voltada para o desenvolvimento das coisas. O Brasil é cliente de tecnologia de outros países, a gente compra ao invés de desenvolver”, conta o professor.
Enquanto as novas empresas não surgem e o setor começa a dar sinais de aquecimento, teóricos e empresários brasileiros seguem atentos às novas possibilidades de lançar o país no mercado. E, se der tudo certo, no espaço.