Famosa feira de tecnologia mira no otimismo em contexto sombrio
Consumer Electronic Show é realizada em Las Vegas, nos EUA. Atual situação econômica forma pano de fundo obscuro para evento
Tecnologia e Ciência|Do R7
A Consumer Electronic Show (CES), grande feira de tecnologia de consumo realizada anualmente em Las Vegas, abriu as portas na quinta-feira (5), e mira o otimismo, enquanto a indústria busca as últimas inovações para ajudar a curar os efeitos de uma economia global maltratada.
A alta inflação, as persistentes dificuldades na cadeia de abastecimento e as demissões nas empresas do setor tecnológico formam um obscuro pano de fundo para este tradicional evento.
De quinta a domingo (8), são esperados mais de 100 mil participantes de uma centena de países, para uma enorme operação de comunicação em torno de dispositivos e serviços ultraconectados.
Os estandes ocuparão mais de sete hectares, com o retorno presencial de diversos representantes do setor, após uma CES em formato virtual em 2021 e híbrido em 2022.
"A edição de 2023 representa um novo passo para a volta da normalidade", garantiu Steve Koenig, um dos diretores da Consumer Technology Association (CTA), que organiza a CES.
A CTA aposta na tecnologia para reativar a economia, como aconteceu com os smartphones e a internet de alta velocidade depois da "última grande recessão econômica", há mais de uma década.
"Desta vez, acredito que as poderosas novas ondas de mudança tecnológica que realmente irão remediar a inflação e restabelecer o crescimento do PIB global virão do lado empresarial", afirmou Koenig, citando robótica, realidade virtual e veículos autônomos.
A tecnologia aumenta a produtividade, o que reduz os custos de produção e, portanto, é "uma força deflacionária para a economia global", ressaltou Gary Shapiro, presidente da CTA.
Avanços em robótica
A CES apresenta novas televisões, patins elétricos, carrinhos de bebê com piloto automático e mais para surpreender o público.
Aproveitando-se do evento como uma vitrine para o mercado americano, a sul-coreana Samsung mostrou na terça-feira (3) à imprensa, máquinas de lavar que avaliam o nível de sujeira das roupas e determinam a quantidade de sabão necessária.
Também disse que está projetando um forno com câmera integrada para que o usuário acompanhe o cozimento ao vivo ou possa gravar um vídeo sobre, por exemplo, como cresce um suflê - função pensada sobretudo para os influenciadores digitais.
A LG Electronics apresentou o que descreveu como a primeira televisão sem fio e controlada por voz dirigida ao mercado de consumo.
A feira também se tornou um dos mais importantes salões do automóvel, com anúncios da BMW, Stellantis, entre outros.
"Acabaram-se os tempos em que a CES era focada exclusivamente em televisões, computadores portáteis e gadgets", declarou Thomas Husson, analista da Forrester.
"Agora que o software está integrado em todos os dispositivos, as marcas estão mostrando inovações em veículos elétricos, robótica e inteligência artificial aplicada", disse.
Por sua vez, John May, diretor executivo do gigante de equipamentos agrícolas John Deere, destacou em um discurso que "hoje em dia, a agricultura e a construção de estradas têm menos a ver com o tamanho das máquinas e mais com a tecnologia, a inteligência e a sustentabilidade".
Orçamentos apertados
Em meio ao pessimismo econômico, as empresas deverão se assegurar de que os preços atraiam os consumidores, que sofrem com a inflação e, devido à pandemia, estão cansados de viver online.
A CTA estima que o gasto em produtos eletrônicos e serviços de consumo nos Estados Unidos este ano cairá para US$ 485 bilhões, abaixo do recorde de US$ 512 bilhões em 2021.
Ainda assim, embora "a inflação e a recessão iminentes pesarão nos orçamentos dos lares", as "receitas da indústria tecnológica se manterão por volta de US$ 50 bilhões, acima dos números pré-pandemia", apontou a organização em nota.
Muitas empresas de tecnologia floresceram durante a pandemia, graças aos confinamentos, e fizeram contratações em massa. Com o retorno à normalidade, começaram as demissões e os estreitamentos de orçamento.
Na quarta-feira (4), a gigante Amazon anunciou que eliminará mais de 18 mil postos de trabalho, inclusive na Europa, no maior corte de funcionários de sua história.
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Mais cedo, o grupo Salesforce anunciou que demitirá 10% de seu quadro, o equivalente a quase 8 mil empregos.
Para Koenig, essa realidade não deveria, porém, ocultar o verdadeiro problema: a contínua falta de mão de obra qualificada. "Há 20 anos, a tecnologia era um extra para uma empresa. Hoje, o extra são as pessoas", resumiu.
Para as startups, no entanto, "pode ser mais fácil encontrar talento, mas se tornou muito mais difícil arrecadar fundos", por causa das altas taxas de juros, indicou Avi Greengart, analista da Techsponential.
A cadeia de fornecimento de semicondutores também segue sendo motivo de preocupação.
"Os custos de envio estão baixando e há menos atrasos nos portos de todo o mundo", lembrou Koenig, "mas basta olhar o que está acontecendo na China para compreender como a situação segue sendo incerta".
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