Medicina selvagem: orangotango usa planta medicinal para curar ferida e intriga cientistas
Esse é o primeiro caso registrado de um animal utilizando com sucesso uma planta para tratar sua ferida
Tecnologia e Ciência|André Naef, do R7
Em uma descoberta recente, cientistas observaram pela primeira vez um Orangotango-de-Sumatra (Pongo abelii) tratando uma ferida com uma planta medicinal. O estudo, publicado na revista Scientific Reports, detalha como o orangotango, chamado Rakus, utilizou uma planta local para cuidar de um ferimento aberto em sua bochecha. O evento ocorreu em junho de 2022, na Indonésia, e marca o primeiro registro científico de um animal selvagem aplicando uma substância natural com propriedades curativas em uma lesão.
A cena observada envolveu Rakus mastigando uma planta, Fibraurea tinctoria, popularmente usada na medicina tradicional local por suas propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas. Após triturar a planta, Rakus aplicou a pasta na ferida e, em seguida, pressionou folhas sobre o ferimento, como uma espécie de curativo. Em cerca de cinco dias, o machucado estava cicatrizado, sem sinais de infecção, reforçando a teoria dos pesquisadores de que ele sabia o que estava fazendo ao escolher aplicar essa planta específica.
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Esse comportamento chamou a atenção de especialistas como Isabelle Laumer, bióloga cognitiva do Instituto Max Planck, na Alemanha. Segundo Laumer, a escolha de Rakus de tratar apenas a ferida, e não outras partes do corpo, indica sua intenção.
Observações adicionais também indicam que Rakus descansou por mais tempo do que o usual, possivelmente buscando acelerar sua recuperação. Esse comportamento pode ser uma estratégia de autocuidado, demonstrando que orangotangos têm uma noção instintiva de repouso após lesões, uma habilidade raramente vista no reino animal.
Estudos anteriores já haviam documentado o uso de plantas com fins medicinais por grandes primatas, mas até então, o uso externo em uma ferida aberta não tinha sido registrado. Ainda no século passado, a primatologista Jane Goodall documentou chimpanzés consumindo folhas medicinais, mas o caso de Rakus se destaca por ele usar a planta de forma tópica, sugerindo um entendimento intuitivo de sua função terapêutica.