Processo dos EUA contra Google pode beneficiar Apple e outras empresas
Queixa do Departamento de Justiça defende que a empresa venda a ferramenta de gerenciamento de anúncios
Tecnologia e Ciência|Do R7
Um processo aberto pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra o Google sobre seu domínio do mercado de tecnologia em publicidade digital pode ajudar rivais e sites que vendem espaço para anúncios, mas deixa um futuro incerto para os próximos anunciantes, afirmam especialistas.
A queixa do Departamento de Justiça contra o Google feita na terça-feira (24) defende que a empresa venda o Google Ad Manager, um conjunto de ferramentas que inclui uma que permite aos sites pôr espaço publicitário à venda e outra que serve como um mercado de anúncios que combina automaticamente os anunciantes com esses editores de conteúdo.
Se o processo do Departamento de Justiça for bem-sucedido, "anunciantes e editores poderão ter mais vantagens com mais opções com jogadores em expansão — e, consequentemente, mais concorrência", disse Neil Begley, do Moody's Investors Service.
A Apple, que está desenvolvendo constantemente seu negócio de publicidade nascente e promovendo-o como focado em privacidade, pode ser uma vencedora se os anúncios do Google se tornarem menos eficazes, disse Brian Mandelbaum, presidente-executivo da empresa de marketing Attain.
Executivos da indústria publicitária dizem que o negócio do Google, ao publicar anúncios em sites que não são de sua propriedade, fornece à empresa informações valiosas sobre a eficácia de uma propaganda.
A Apple tem "a capacidade de ser uma nova força dominante" na publicidade porque possui dados por meio da propriedade de telefones, do navegador Safari e da distribuição de aplicativos pela App Store, disse ele.
Os concorrentes do Google em tecnologia de anúncios estão cada vez mais criando produtos que atendem tanto a editores e sites de notícias, que vendem espaço publicitário, quanto a anunciantes que compram anúncios, como o Google faz atualmente, disse Paul Bannister, diretor de estratégia da CafeMedia, que ajuda pequenas e médias empresas de conteúdo que vendem espaço publicitário.
Se o Google for forçado a se desfazer das ferramentas que atendem aos editores, isso beneficiará concorrentes como o Xandr, da Microsoft, que ainda funcionará com os dois lados do ecossistema de compra de anúncios, disse Bannister.
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Com mais opções além do Google, os editores terão mais transparência sobre quanto espaço publicitário são capazes de vender e podem acabar pagando menos em taxas, disse Mandelbaum.
Se bem-sucedido, o processo pode ser "o início de mudanças sérias no modelo de negócios do Google", disse Paul Gallant, diretor-gerente do Cowen Washington Research Group.
Os ativos que devem ser vendidos podem resultar na perda de dados importantes que ajudam o Google a direcionar anúncios para consumidores relevantes, disse ele.
Se o Google perder o acesso a eles, os anunciantes poderão ver os anúncios do Google se tornarem menos eficazes, disse Nikhil Lai, analista sênior da empresa de pesquisa Forrester.
Pelo menos duas vezes antes, o governo dos EUA entrou com ações judiciais contra empresas dominantes, com resultados que variaram bastante. Um processo que desmembrou o conglomerado de telecomunicações AT&T, aberto em 1974, resultou em um acordo, em 1982, para desmembrar a empresa. Essa separação foi considerada um apoio a uma série de inovações na telefonia.
O processo do Departamento de Justiça dos EUA contra a Microsoft, aberto em 1998, refreou a empresa em um momento em que ela buscava estender seu sistema operacional Windows para navegadores de internet. Apesar de o processo ter sido encerrado com um acordo entre as partes, especialistas dizem que ele abriu caminho para que outras empresas se firmassem na então nascente internet, como o próprio Google.
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