TikTok se defende no Congresso dos EUA, hostil com o aplicativo por laços com a China
O CEO Shou Zi Chew tentou desmanchar as suspeitas de que o app sirva a propósitos de espionagem do governo da China
Tecnologia e Ciência|Do R7
O CEO do TikTok, o singapurense Shou Zi Chew, defendeu-se como pôde, nesta quinta-feira (23), de congressistas americanos republicanos e democratas que acusam a plataforma — ameaçada de proibição nos Estados Unidos — de supostos vínculos com o governo chinês.
Chew foi submetido a um interrogatório incomumente intenso por parte de congressistas que temem que Pequim possa utilizar essa filial do grupo chinês ByteDance para fazer espionagem e coleta de dados e defender secretamente planos do Partido Comunista Chinês.
O ex-banqueiro formado em Harvard, de 40 anos, tentou em vão, por horas, desativar uma ameaça existencial para o TikTok. O aplicativo tenta sobreviver a um ultimato da Casa Branca, que exige que a ByteDance o venda para evitar seu banimento nos Estados Unidos.
Na sessão do Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes, os legisladores não deram trégua a Chew e, com frequência, lhe negaram a possibilidade de se estender em suas respostas ou de promover a popularidade mundial da plataforma entre os jovens.
"ByteDance não é propriedade nem está controlada pelo governo chinês e é uma empresa privada", disse Chew aos congressistas. "Acreditamos que são necessárias regras claras e transparentes que se apliquem amplamente a todas as empresas de tecnologia: a propriedade não é a base para abordar essas preocupações", acrescentou Chew.
Uma proibição seria um ato sem precedentes para uma empresa de mídia nos Estados Unidos e deixaria sem acesso ao TikTok 150 milhões de usuários mensais no país, sobretudo jovens.
"O TikTok escolheu, repetidamente, o caminho de maior controle, maior vigilância e maior manipulação. Sua plataforma deveria ser proibida", declarou a presidente do comitê, Cathy McMorris Rodgers, na abertura da audiência.
As dezenas de milhões de usuários no país são pessoas sobre as quais o Partido Comunista Chinês "pode coletar informações confidenciais e controlar o que, em última instância, vemos e ouvimos e em que acreditamos", acrescentou a republicana.
Em um momento, Chew se viu obrigado a reconhecer que alguns dados pessoais dos americanos ainda estavam sujeitos à lei chinesa, mas reiterou que isso mudará em breve.
Os congressistas também confrontaram Chew com exemplos nefastos de usuários jovens que promovem o suicídio ou acrobacias perigosas que provocaram mortes.
"A tecnologia deles está literalmente levando à morte", afirmou o republicano Gus Bilirakis, apontando para uma família presente na sessão, cujo filho foi morto em um acidente ferroviário que familiares acreditam estar relacionado ao TikTok.
'Não é a solução'
Antes da audiência, o Ministério do Comércio chinês disse que "se oporia firmemente" a uma venda forçada e declarou que qualquer acordo ou cisão do TikTok exigiria a aprovação das autoridades chinesas.
"Forçar a venda do TikTok [...] minará gravemente a confiança dos investidores de vários países, entre eles a China, para investir nos Estados Unidos", acrescentou o porta-voz Shu Jueting.
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O TikTok está sob escrutínio de várias leis, incluindo um projeto de lei apoiado pela Casa Branca que abre caminho para proibir o aplicativo.
"Senhor Chew, bem-vindo ao comitê mais bipartidário do Congresso. Podemos nem sempre concordar em como alcançá-la, mas nos preocupamos com a nossa segurança nacional, nos preocupamos com a nossa economia e nos preocupamos com nossos filhos", disse o congressista Buddy Carter, um republicano.
Na quarta-feira (22), cerca de uma dezena de pessoas protestou em frente ao Congresso contra a possível proibição.
"Existem outras plataformas? Com certeza, estou nelas, mas nenhuma tem o alcance do TikTok", argumentou uma empresária do ramo dos sabonetes, @countrylather2020, a seus 70 mil seguidores, em um vídeo gravado logo após sua chegada a Washington.
Defensores da liberdade de expressão também se manifestaram. "Bater no TikTok e, por extensão, nas proteções da Primeira Emenda dos americanos não é a solução correta para os riscos que o TikTok representa", estimou Nadine Farid Johnson, da PEN America.
O TikTok espera acalmar as autoridades. Chew promoveu um plano elaborado pela companhia, conhecido como Projeto Texas, para atender às preocupações de segurança nacional, segundo o qual o manuseio de dados de usuários em solo americano seria limitado a uma divisão administrada pelos Estados Unidos.
Os congressistas, porém, duvidam de sua eficácia e acham que isso não impediria que o aplicativo ficasse vulnerável à China.
"O TikTok deve ser uma empresa americana, com valores americanos, e encerrar todos os vínculos com o Partido Comunista Chinês", afirmou o democrata Darren Soto.
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