Governo espera ter 100% da tecnologia dos caças suecos
Fabricado pela Saab, Gripen venceu a disputa, mas algumas peças do avião são fabricadas nos EUA
Brasil|Carolina Martins, do R7, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff escolheu investir US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 10,5 bilhões) nos caças do modelo Gripen NG, da empresa sueca Saab, esperando ter 100% da propriedade intelectual dos aviões. Esse modelo ainda está em fase de desenvolvimento e todas as 36 aeronaves que serão adquiridas ainda vão ser construídas.
Questionado se não era arriscado investir tanto dinheiro em um avião que ainda não existe, o comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), brigadeiro Juniti Saito, defendeu a escolha da presidente.
Compra de caças é comemorada na Suécia
De acordo com Saito, o protótipo de teste já tem mais de 300 horas de voo na Europa e na Ásia.
— Tem um protótipo voando que é um protótipo conceitual. Já tem mais de 300 horas de voo. Agora nós vamos desenvolver, sim, da planta, por isso é que eu disse que nós vamos ter, juntamente com a Suécia, a propriedade intelectual de 100% desse avião.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, que fez o anúncio da escolha do Planalto na última quarta-feira (18), também viu vantagens em optar por um avião que ainda será desenvolvido. Para ele, essa é a oportunidade que o Brasil tem de adquirir tecnologia de aviação.
— Este avião permite, e esse é um aspecto importante para o Brasil, participar ainda do desenvolvimento do próprio projeto e ter propriedade intelectual desse projeto. [...] O importante é que a tecnologia de aviação seja transferida para o Brasil.
Peças americanas
A expectativa do governo é que as negociações para assinatura dos contratos leve até 12 meses e a conclusão do acordo seja firmada no fim de 2014. São nos termos contratuais que ficará definida a transferência de tecnologia.
No entanto, nem todas as peças do Gripen são fabricadas na Suécia. Partes importantes do caça, como a turbina do avião, são de propriedade dos Estados Unidos.
Se os americanos colocarem obstrução, as turbinas não poderão ser produzidas no Brasil e a tecnologia de desenvolvimento também não vai poder ser transferida.
Mas, para o ministro da Defesa, isso não é um problema. Ele acredita que as peças que são de fato importantes vão poder ser produzidas em território brasileiro.
— A turbina é norte-americana e, evidentemente, uma parte importante, mas não é tão sensível ao conhecimento. Embora seja uma parte importante, não é o coração do avião. [...] Não há pretensão de, necessariamente, fabricar todas as peças no Brasil, o importante é que a tecnologia de aviação seja transferida, para permitir que nós possamos desenvolver e passar para o de 5ª geração, que será o futuro.
Os Estados Unidos também estavam na disputa pelo contrato com o Brasil. O modelo 18E/F Super Hornet, da empresa americana Boeing, foi ofertado ao governo brasileiro. Esse tipo de caça é usado pelos Estados Unidos e pela Austrália.
Nos bastidores, a informação é de que a empresa americana saiu da disputa por uma decisão política do governo, depois do mal-estar gerado pelas denúncias de espionagem do Brasil monitoradas pelo governo dos Estados Unidos.
No entanto, o ministro Amorim nega e garante que a decisão foi baseada em aspectos exclusivamente técnicos.
O modelo Rafale, da francesa Dassault, também ficou entre os três finalistas e era um dos preferidos do governo Lula. O avião é utilizado na França e também devem ser adquiridos pela Índia. Os Emirados Árabes também negociam a compra da aeronave.