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Relator de processo contra Cunha no Conselho de Ética avisa: “Não tem caminho de acordo”

Marcos Rogério (DEM-RO) diz que 80% das ruas rejeitam presidente da Câmara dos Deputados

Brasil|Raphael Hakime, do R7, em Brasília

Marcos Rogério, relator, deverá entregar relatório final sobre processo contra peemedebista Eduardo Cunha (foto) em maio
Marcos Rogério, relator, deverá entregar relatório final sobre processo contra peemedebista Eduardo Cunha (foto) em maio Marcos Rogério, relator, deverá entregar relatório final sobre processo contra peemedebista Eduardo Cunha (foto) em maio

O relator do processo contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética da Casa, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), afirmou, em entrevista ao R7, que a ação contra o peemedebista, por quebra de decoro parlamentar ao mentir na CPI da Petrobras, vai prosseguir no colegiado.

Nas últimas semanas, enquanto os holofotes estavam virados para o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional, dois eventos colocaram em dúvida uma eventual punição a Cunha: a troca de um deputado contra Cunha e uma manobra de um aliado do presidente da Câmara.

Na semana passada, o deputado Fausto Pinato (SP), que trocou o PRB pelo PP, renunciou à sua vaga no colegiado e deu lugar à Tia Eron (PRB-BA). Ele havia votado pela aceitação do processo contra Cunha e Tia Eron ainda está neutra e não se posicionou.

Já o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), decidiu limitar a investigação contra Cunha à suspeita de que ele omitiu contas no exterior – as supostas vantagens indevidas, por recebimento de propina, ficaram fora do pacote.

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Apesar das manobras, o relator do processo contra Cunha no Conselho de Ética garante: “Pode haver no campo político e em outras instâncias, mas por parte do relator vai ser feito dentro das regras do processo e com base nas provas. Eu não participo de acordo”. Rogério lembra ainda que pesquisas de opinião apontam uma rejeição de 80% do presidente da Câmara.

Leia a entrevista com o relator do processo a seguir:

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R7 – Todo mundo está com os olhos voltados para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso. Mas como fica a questão de Eduardo Cunha no Conselho de Ética?

Marcos Rogério – Houve uma substituição dentro das regras regimentais. Saiu o deputado Pinato e entrou a deputada Tia Eron (PRB-BA). Considero desconfortável qualquer mudança no Conselho de Ética no curso de uma investigação. Qualquer mudança. Ela acaba criando um ambiente de suspeição, muitas das vezes injusta porque quem chega é logo rotulado: “esse é do lado do representado ou contra o representado”.

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R7 – Existe alguma pista de que, com a mudança, Cunha será beneficiado?

MR - Às vezes, pode ser que não seja, pode ser que esteja ali para analisar as provas e fazer um julgamento adequado. Espero que seja esse o caso da deputada que chega, mas causa desconforto porque há essa suspeição. Você já conhecia as posições de cada um dos representantes que estavam no Conselho e essa mudança vem num momento decisivo do Conselho.

Sobre "acordão", Marcos Rogério diz que qualquer "decisão do Conselho de Ética está sujeita a um recurso no plenário" da Câmara
Sobre "acordão", Marcos Rogério diz que qualquer "decisão do Conselho de Ética está sujeita a um recurso no plenário" da Câmara Sobre "acordão", Marcos Rogério diz que qualquer "decisão do Conselho de Ética está sujeita a um recurso no plenário" da Câmara

R7 – Não há uma demora excessiva para a votação do relatório final?

MR – O que eu posso garantir é que o nosso trabalho está sendo feito dentro do devido processo legal, obedecendo as regras, até para evitar qualquer tipo de questionamento que posterga ainda mais qualquer o de finalização desse processo. Estamos na fase de instrução agora, que é a coleta de provas, a busca de documentos, dos testemunhos, enfim, todo acervo probatório está sendo juntado neste momento. Eu tenho até o dia 19 de maio para concluir a instrução probatória. Na sequência, teremos 10 dias para fazer o parecer final, que vai à votação no Conselho de Ética.

R7 – Corre nos bastidores do Congresso a história de que está sendo costurado um acordo para livrar Cunha...

MR – Esse negócio de falar que está ocorrendo um acordo, uma blindagem, penso que qualquer acordo que não passe plenário é um acordo natimorto. Porque qualquer decisão do Conselho está sujeita a um recurso do plenário. Então, dizer que houve mudança de um parlamentar ou vai haver mais uma ou duas para mudar o resultado final, pode mudar no Conselho, mas se tiver recurso no plenário, ele é soberano e terá a palavra final.

R7 – Qual a imagem que Eduardo Cunha passa para a sociedade brasileira?

MR – Acho que o presidente Eduardo Cunha tem feito uma gestão que tem dado protagonismo para a Câmara, tem fortalecido o Parlamento do ponto de vista das ações do Parlamento, embora sua imagem contribua para um dano à imagem do Parlamento em razão de tudo o que está acontecendo. Mas ninguém aqui questiona a habilidade dele na condução da Casa, ninguém questiona a habilidade no uso do regimento e a liderança dele nesse processo de impeachment.

R7 – Algumas pessoas questionaram a isenção dele para liderar a votação do processo de impeachment de Dilma...

MR – Querer deslegitimar o processo de impeachment porque foi conduzido por Eduardo Cunha é de uma ignorância brutal com o que está acontecendo nas ruas. Não foi Eduardo Cunha que viabilizou o impeachment, as ruas estão pedindo uma posição do Congresso Nacional. Então, sendo ele ou outro o presidente da Casa, duvido muito que o resultado seria diferente. Acho até que se fosse outro presidente que estivesse na Casa, o placar seria maior, porque o argumento de muitos que votaram contra o impeachment ontem foi simplesmente o fato de Eduardo Cunha estar presidindo a Casa. Então, acho que querer misturar as coisas é ignorar as vozes das ruas.

R7 – Após a discussão do impeachment passar da Câmara para o Senado, quais os próximos passos do Conselho de Ética e o futuro de Cunha?

MR – Ele pode sair fortalecido do processo de impeachment porque conseguiu tocar o processo para frente, conseguiu controlar os ânimos, o que não é fácil, mas em relação ao processo contra ele no Conselho de Ética, a mim me parece na mudar nada. As pesquisas que foram feitas nas ruas durante as manifestações apontaram uma rejeição que ultrapassa os 80% dele também. Então, os mesmos que queriam uma investigação e uma eventual punição à presidente Dilma pelos crimes que cometeu, também faz essa mesma avaliação em relação a ele. Então, ontem [domingo], era o dia de julgar a admissibilidade do processo contra Dilma. Vai chegar um momento que vai ser o processo dele. Então, cada momento é um momento e cada decisão é uma decisão.

R7 – O senhor trocou de partido recentemente. O senhor mantém a posição que teve no relatório preliminar?

MR – Não existe hipótese de eu mudar meu voto. Sou o relator do processo e meu voto foi no sentido da admissibilidade da matéria. Com relação ao desfecho da matéria, não tenho voto preparado nem predisposição para condenar nem para absolver. A minha convicção sempre é formada a partir dos autos, a partir das provas do processo. Havendo provas, meu parecer é um parecer sem surpresas. Não havendo provas, também não condeno sem provas. Estou no Conselho desde que cheguei na Casa. Estou no segundo mandato e já fui relator de pelo menos três processos. Quem conhece meu trabalho no Conselho não se surpreende com os meus pareceres.

R7 – A cassação de mandato de Cunha seria exagero? Qual punição Cunha deve receber?

MR – Na condição de relator, tenho limitações nas minhas opiniões. Eu só falo de processos, de procedimento. A avaliação do conjunto probatório só será feita quando da análise para a confecção do relatório. Esta é a fase em que estou buscando as provas e, a partir das provas, eu elaborarei um relatório que será compatível com as provas. Sem acrescentar e sem reduzir.

R7 – E a hipótese de um “acordão” para livrar Eduardo Cunha de eventual punição?

MR – Posso te garantir que, da parte do relator, não tem caminho de acordo em processo que julga comportamento. Em processo que julga o cometimento de crime ou atentado de decoro da Casa, não compete acordo. Pode haver no campo político e em outras instâncias, mas por parte do relator vai ser feito dentro das regras do processo e com base nas provas que eventualmente forem coletadas. Eu não participo de acordo.

R7 – O Conselho de Ética volta a se reunir na próxima terça-feira (26). O senhor prevê mais alguma dor de cabeça com o processo contra Cunha nesses próximos dias?

MR – Eu acho que a parte mais pesada já passou.

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