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Terceirização requer lei, mas projeto atual tira vontade do trabalhador de ‘vestir a camisa’

Para advogados, atual proposta tende a precarizar relações de emprego e a produtividade

Brasil|Fernando Mellis, do R7

Se entrar em vigor, lei ainda pode ser questionada no Supremo
Se entrar em vigor, lei ainda pode ser questionada no Supremo Se entrar em vigor, lei ainda pode ser questionada no Supremo

A aprovação pelos deputados do projeto de lei que amplia a possibilidade de terceirização de empregados foi o primeiro passo para uma das mais sensíveis reformas trabalhistas dos últimos anos. O texto ainda passará por mais uma votação na Câmara e segue para o Senado.

Se em entrar em vigor, dizem os defensores da lei, o Brasil terá modernizado as relações trabalhistas e aumentado a eficiência do setor produtivo. Por outro lado, especialistas ouvidos pelo R7 discordam e dizem que a terceirização em excesso vai desmotivar os empregados.

O advogado Horário Ferreira, presidente da Comissão Empresarial do Trabalho da OAB-SP, diz que existe a necessidade de uma legislação específica sobre terceirização no Brasil. Hoje, isso é feito por meio de uma súmula — conjunto de decisões judiciais — do TST (Tribunal Superior do Trabalho). Mas, segundo ele, da forma como foi aprovado, o projeto “não reflete os anseios mínimos do pensamento moderno do direito do trabalho”.

— A gente imagina que trabalhadores terceirizados, sem identidade direta com a empresa, mas pulando de uma para outra, não se engajem nas melhoras dos processos produtivos, nos relacionamentos. Diminui o comprometimento dele. Ele vai perder esse empowerment [empoderamento] ou essa vontade de vestir a camisa, de melhorar o produto ou o serviço. A qualidade desse produto ou serviço vai piorar.

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Entenda o projeto de lei aprovado pelos deputados

Segundo a advogada especialista em direito do trabalho Williane Gomes Pontes Ibiapina, as empresas vão ter que avaliar muito bem quais setores vão terceirizar, sob o risco de perderem o controle do processo produtivo.

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— A empresa que quer um cargo de confiança não vai confiar em um terceirizado. Vai querer contratar para ter a segurança de que aquela pessoa vá ser empregada dele e, portanto vá responder exatamente o que ela [empresa] quer.

Para Ferreira, o atual projeto visa apenas a eficiência e modernização das relações trabalhistas, mas não pondera o efeito disso na vida dos trabalhadores. Na opinião dele, precarizar a situação dos empregados pode acarretar problemas para os consumidores, já que existe chance de a qualidade dos produtos ser afetada.

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— A empresa, no final, vai reconhecer que não adianta não ter vínculos estreitos com o trabalhador, porque a partir daí o produto ou o serviço que ela vai produzir tende a ser ruim.

Williane reconhece que um dos fatores positivos do projeto aprovado é a garantia de que empresas que oferecem mão de obra terceirizada terão que, antecipadamente, depositar 4% do valor do contrato, para eventuais pagamentos de direitos trabalhistas, além de recolher parte dos tributos.

— Caso aquela empresa terceirizada venha a falir, todos os direitos do empregado estarão depositados e assegurados. Diferente de como é hoje. Nesse aspecto, a mudança é positiva para o trabalhador.

Apesar das intensas discussões, se vier a ser aprovada, a lei ainda corre o risco de ser derrotada no STF (Supremo Tribunal Federal). De acordo com Ferreira, há elementos claros de que o atual projeto é inconstitucional.

— A Constituição Federal determina que nas inovações do direito do trabalho, há uma proibição de retrocesso social. Não é possível diminuir as condições já conquistadas pelos trabalhadores. 

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