Alvo da PF, Ramagem chefiou segurança de Bolsonaro e defendeu apuração de suposta espionagem
Em outubro de 2023, ex-diretor-geral da Abin afirmou que a operação só era possível por conta de ações do governo anterior
Brasília|Rafaela Soares, do R7, em Brasília
O deputado federal e ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem (PL-RJ) já defendeu a operação da Polícia Federal (PF) que investiga o suposto uso ilegal de uma ferramenta de espionagem em sistemas da agência. Em outubro de 2023, o parlamentar afirmou que as ações da Operação Última Milha só foram realizadas graças ao trabalho desenvolvido na sua gestão durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Rogamos que as investigações prossigam atinentes a fatos, fundamentos e provas, não se levando por falsas narrativas e especulações", publicou na época em uma rede social. Nesta quinta-feira (25), endereços ligados a Ramagem foram alvo de buscas em um desdobramento da operação do ano passado.
"Esse sistema objeto da operação de hoje na Abin foi adquirido em 2018, antes do governo Bolsonaro. Quando assumimos a Abin, em 2019, promovemos auditoria formal de todos os contratos. O referido sistema não faz interceptação, mas demonstrava fazer localização. Mesmo tendo passado por prova de conceito técnico e parecer favorável da AGU para aquisição (2018), nossa gestão resolveu encaminhar à corregedoria para instaurar correição", escreveu o parlamentar em uma rede social.
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De acordo com a Polícia Federal, o sistema de geolocalização permitia o monitoramento de até 10 mil celulares a cada 12 meses, bastando digitar o número da pessoa para ter acesso às informações. A aplicação também criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
Os alvos monitorados pela ferramenta seriam críticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ministros do STF, jornalistas, policiais e advogados.
Perfil
Ramagem chefiou a agência entre julho de 2019 e março de 2022, quando foi exonerado pelo ex-presidente. Ele foi candidato nas eleições do mesmo ano e se elegeu deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro. Antes de fazer parte do governo, o delegado de carreira da PF foi o coordenador da segurança de Bolsonaro na campanha de 2018, logo depois que o então candidato à Presidência foi vítima de um atentado a faca, em Juiz de Fora (MG).
O atual deputado federal foi cotado para assumir a direção da PF, depois da exoneração do delegado Maurício Valeixo. Essa saída levou o ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro a se demitir do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Alexandre Ramagem passou em concurso da Polícia Federal em 2005. Ele foi nomeado superintendente no Ceará, mas não assumiu o posto. O delegado foi convidado para trabalhar em Brasília, perto de Bolsonaro, como auxiliar direto de Carlos Alberto Santos Cruz, então chefe da Secretaria de Governo.
A operação
Ramagem é um dos alvos de uma operação da Polícia Federal que investiga o suposto uso ilegal de uma ferramenta de espionagem em sistemas da Abin. O gabinete do parlamentar é um dos locais onde os agentes fazem buscas. A ação também ocorreu em endereços de outras pessoas no Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A casa e o escritório do deputado também foram alvos. Ele deve prestar depoimento na sede da PF.
A RECORD e o R7 procuraram a assessoria de Ramagem, que disse que não iria se posicionar no momento.