O advogado Humberto Adami, que assumiu o caso Mirian França de Mello, de 31 anos, presa desde o dia 29 de dezembro, suspeita de envolvimento na morte da italiana Gaia Molinari, afirma que é "leviano" chamar a prisão temporária de Mirian de racismo. A declaração foi feita ao R7 na tarde desta segunda-feira (5).
De acordo com a Polícia Civil do Ceará, Mirian teve a prisão temporária expedida após cair em contradições em seus depoimentos.
Grupos de apoio à suspeita têm se movimentado pelas redes sociais afirmando que a prisão de Mirian é fruto do racismo e do preconceito contra pobre. A mulher, que é carioca nascida no subúrbio do Rio, morou sozinha durante nove anos no alojamento na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), voltado para alunos de baixa renda, enquanto cursava a faculdade de química. Atualmente, a carioca é estudante de doutorado no Instituto de Microbiologia da mesma universidade.
A mãe da doutoranda, a aposentada Valdicéia França, chegou a declarar ao jornal Folha de S.Paulo que a prisão da filha era um ato racista. Porém, o advogado, que assumiu o caso após pedidos de movimentos negros, atenuou as declarações e se diz focado na libertação de Mirian.
Polícia Civil do Ceará nega racismo em prisão de suspeita por morte de italiana
Italiana morta não queria ir para o Ceará
— Pretendo apresentar o habeas corpus nesta quarta-feira (7). Ainda não tive acesso ao depoimento, mas acredito que ela já colaborou o suficiente. O colaborador dá indícios do que pode ter acontecido e não resolve o caso para a polícia. Ela [Mirian] sabe tanto sobre o assassinato quanto qualquer pessoa que não estava presente na hora do crime.
Apesar de amenizar as declarações de apoiadores de Mirian a respeito do racismo, o advogado ressaltou o tratamento "preferencial" do negro no sistema prisional brasileiro e falou sobre dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que mostram que o jovem negro sofre mais mortes violentas do que jovens brancos, e essa margem só tem aumentado durantes os anos.
De acordo com o advogado, um representante da Defensoria Pública pedirá a revogação da prisão ainda nesta segunda-feira (5).
Violência na região não está sendo considerada, diz advogado
Adami afirma que pontos importantes estão sendo deixados de lado pela polícia durante a tratativa do caso. Entre eles, os dados de violência na região.
— Há um dossiê sobre casos nunca resolvidos de estupros de brasileiras e estrangeiras na região. As denúncias do Conselho Comunitário de Jericoacoara têm que ser resgatadas. A Secretaria de Políticas para as Mulheres, do Governo Federal, deveria intervir no caso.
Incomunicável
A aposentada Valdicéia, mãe de Mirian, afirma que está aflita por não conseguir falar com a filha durante a prisão. De acordo com a aposentada, a dificuldade de comunicação não tem explicação.
— Estou despedaçada. Eu tenho uma luz de esperança no fim do túnel, mas só terei tranquilidade quando ouvir a voz da minha filha e dar um abraço nela aqui no Rio. Não sei o que seria de mim se não estivesse recebendo tanto apoio.
Mochileira
Mirian França de Mello faz a linha mochileira. Em agosto de 2014, a carioca buscou pessoas em um site especializado para embarcar para Fortaleza e Jericoacoara, entre os dias 18 e 29 de dezembro. No mesmo site, a estudante procura pessoas para dividir despesas e ter companhia durante a Copa do Mundo e uma viagem para o Peru.
Um site italiano de notícias chegou a divulgar o depoimento de um amigo de Gaia, que afirma ter conversado com a italiana via Skype meia horas antes de a jovem sair para o passeio do qual nunca mais voltou. De acordo com o amigo da vítima havia a presença de um homem no local. O homem, que teve acesso às mensagens de Mirian no portal de mochileiros, chegou a relatar ao site que estaria desconfiado da conduta da estudante na internet.
Caso
Gaia chegou a Fortaleza em 16 de dezembro e estava hospedada em um hostel localizado no centro da cidade. Ela viajou para Jericoacoara no dia 21 e deveria ter retornado no dia 24.
O corpo da vítima foi localizado na tarde de quinta-feira (25) em um local conhecido como Serrote, na vila de Jijoca de Jericoacoara, e encaminhado à sede da Pefoce (Perícia Forense do Ceará) no município de Sobral.
Segundo a polícia, os exames lá realizados indicaram a causa da morte como asfixia por estrangulamento. Inicialmente, está descartada a hipótese de latrocínio.
Um rapaz conhecido da vítima foi identificado pela polícia como sendo suspeito do crime. Ele foi detido no fim de semana, mas liberado após prestar depoimento porque a delegada informou que não havia indícios suficientes que comprovassem a autoria.