Governo paraense afasta 29 policiais envolvidos em chacina
Corpo de 10 vítimas foram enterrados na sexta-feira em Redenção e Pau D'arco
Cidades|Do R7
O secretário de Segurança do Pará, o general aposentado Jeannot Jansen, determinou na última sexta-feira (26) o afastamento dos 29 policiais — 21 militares e 8 civis — envolvidos no confronto que resultou na morte de dez pessoas na fazenda Santa Lúcia, a 35 km da cidade de Pau D'arco, no sudeste do Estado. Eles não podem mais participar de qualquer missão policial e devem colaborar com as investigações para esclarecer os fatos.
Os policiais afirmam que cumpriam ordem judicial de prisão e de busca e apreensão de armas contra invasores da propriedade quando foram recebidos a tiros.
Segundo sobreviventes do grupo que ocupava a área, no entanto, os policiais já chegaram atirando. Eles prestaram depoimento sigiloso ao Ministério Público Estadual.
Peritos do Instituto Renato Chaves estiveram na fazenda e foram aos locais que eram ocupados pelo grupo. Segundo peritos, foram encontradas cápsulas deflagradas de projéteis calibre 380, que coincidem com o calibre de algumas armas que a polícia diz ter apreendido após o tiroteio. Eles também analisaram marcas de balas na vegetação do local.
A Ordem dos Advogados do Pará acusou os policiais de terem mexido no local do confronto, retirando os corpos antes da chegada dos peritos, o que prejudica as investigações.
O promotor militar Armando Brasil também criticou a atitude dos policiais.
— Não podiam ter feito isso, deveriam ter esperado a perícia fazer seu trabalho, com as vítimas no local, para só depois haver a remoção. Não posso aceitar que isso tenha acontecido. A cena dos crimes ficou inidônea, porque provas importantes podem ter desaparecido com a retirada dos corpos.
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A Polícia Civil informou que tudo está sendo apurado, mas disse que não comentaria as acusações da OAB e de Brasil até que tudo fique esclarecido.
O corpo das dez vítimas foram enterrados nesta sexta nas cidades de Redenção e Pau D'arco.
Integrantes de movimentos sociais, de direitos humanos e sindicatos compareceram e prestaram solidariedade às famílias. A Polícia Federal foi acionada para garantir a integridade física de oito pessoas que teriam sobrevivido durante o tiroteio na propriedade rural.
A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, defendeu ontem que a investigação do massacre em Pau D'arco seja controlada pelos órgãos públicos de Marabá, cidade a 426 quilômetros de distância que concentra delegacias especializadas em assassinatos no campo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
Em entrevista ao Estado, ela demonstrou preocupação com a perícia do local da chacina. Os peritos de Marabá e Parauapebas só chegaram à área do crime depois que policiais do município tinham retirado os corpos.
— Não podemos deixar que a coisa transcorra de qualquer maneira. A perícia tem de ser feita com muito empenho e dedicação.
Uma equipe do Ministério dos Direitos Humanos foi enviada ao Pará para acompanhar as primeiras informações e levantamentos sobre o massacre.
— A situação é vexatória, constrangedora e inadmissível. Em pleno século XXI, essa situação não pode ocorrer. Como ministra, como cidadã e como ser humano não posso aceitar o que ocorreu. Ninguém pode aceitar.
A ministra afirmou que confia no trabalho de juízes e procuradores na elucidação e punição de culpados. Ao comentar sobre a onda de violência no campo, Luislinda Valois disse que é preciso desencadear ações concretas em todos os níveis de governo.