Abusos na USP: Medicina promete suspender e expulsar alunos que perseguirem vítimas
Reunião do órgão máximo da faculdade aconteceu nesta quarta-feira no prédio da diretoria
Educação|Caroline Apple, do R7
O diretor da faculdade de Medicina da USP da capital, José Otávio Costa Auler Junior, afirmou em uma coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (26) que os alunos que perseguirem e intimidarem vítimas e denunciantes de abusos poderão ser suspensos e expulsos do curso.
A decisão foi tomada após os coletivos envolvidos nas denúncias afirmarem que as vítimas que depuseram na primeira audiência pública estavam sendo tratadas como traidoras entre os alunos.
De acordo com Ana Luiza Cunha, do coletivo Geni, os xingamentos e discursos de ódio não se estendem aos agressores.
— Não é a maioria, mas muitos alunos acham que as denúncias podem sujar o nome da instituição. Mas quem denigre o nome do curso são os estupradores, e não as vítimas.
O anúncio sobre as medidas contra agressores aconteceu após uma congregação (reunião do órgão máximo da faculdade), que contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre convidados, docentes e presidentes, como da Central Acadêmica e da Atlética da Medicina, departamentos envolvidos nos escândalos de abusos, principalmente, cometidos em festas da faculdade.
Durante a reunião foi, novamente, reforçada a iniciativa de criação de um Núcleo de Defesa de Direitos Humanos, que irá reunir representantes de fora da instituição para receber denúncias de todas as formas de violência e dar encaminhamento aos casos. Um dos nomes citados para estar à frente deste órgão foi o deputado estadual Pedro Dallari (PT), que é integrante da Comissão Nacional da Verdade da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Mesmo sendo lembrado por alguns dos presentes na reunião, não é certo que o deputado assuma alguma posição neste núcleo que ainda não tem data para começar.
Apesar de considerar a criação do Núcleo de Direitos Humanos uma vitória dos coletivos, Felipe Scalisa, 20 anos, estudante do 3º ano de medicina e integrante do coletivo Gênero, Saúde e Sexualidade, afirma que uma das pautas dos coletivos era a efetivação do ano de 2015 como o "Ano dos Direitos Humanos", porém, o pedido não foi acatado.
— Com a possibilidade de uma CPI sobre os casos e a criação do centro dos Direitos Humanos seria importante que o próximo ano fosse voltado à campanhas que abordassem o tema. Não argumentaram durante a congregação os motivos da negação. Tem que haver uma política educacional mais efetiva, e não tem.
De acordo com o diretor do curso de Medicina, as festas, que estão no olho do furacão das denúncias, permanecerão suspensas por tempo indeterminado.
Porém, os coletivos acreditam que vetar festas dentro dos campi não promove a queda da violência, e sim, poderá até mesmo piorar o número de casos de abusos. Ana Luiza, do coletivo Geni, afirma que ter festas no campus ainda é uma forma de reprimir a violência e institucionalizar o que acontece dentro delas.
— É uma forma de inibir os abusos. Mas com as festas acontecendo fora da jurisdição da universidade é possível que certos alunos se sintam mais livres para praticarem todos os tipos de abusos.
O deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp, protocolou nesta terça-feira (25) um pedido de CPI para averiguar casos de violações dos direitos humanos em universidades públicas e privadas que recebam verbas estaduais e federais.