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Para além
das críticas que sofre e das falhas que apresenta, o ProUni (Programa
Universidade para Todos) é apontado por especialistas em ensino superior e
pelos beneficiários do programa como uma importante política pública para a
garantia de acesso à universidade
Reportagem: Mariana Queen, do R7
Montagem R7
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Em seus dez anos de existência, o programa alcançou 1,4 milhão de bolsistas. Neste sentido, é uma das principais estratégias do governo federal para cumprir a meta do PNE (Plano Nacional da Educação) que prevê elevar de 15% para 33% a taxa de jovens entre 18 e 24 anos matriculados no ensino superior
Montagem R7
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Daniel
Cavalcanti Silva, da coordenação do Semesp (Sindicato das Entidades
Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), aponta
a efetividade do programa quanto à expansão do acesso às universidades.
— [Por meio
das intenções ficas para as universidades participantes], o ProUni garantiu o
acesso de várias pessoas carentes ao ensino superior e com um custo sabidamente
reduzido em face do benefício gerado
Divulgação
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Para Marcelo
Bemerguy, secretário de controle externo da Educação, da Cultura e do Desporto
do TCU (Tribunal de Conta da União), órgão que já fez auditorias sobre o programa,
os benefícios do ProUni têm relação com a restrição do acesso às faculdades no País
— Temos, no
Brasil, um déficit de acesso ao ensino superior. Temos certa urgência de proporcionar
condições para que, aos 18 anos, os jovens tenham acesso ao ensino superior. O
ProUni e o Fies [Financiamento Estudantil] são dois programa estratégicos nesse
sentido
Divulgação
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Diana Carla
Ferreira Neto, 30 anos, foi beneficiada com uma bolsa do ProUni (Programa Universidade para Todos) no primeiro
ano de implantação do programa, em 2005. Graças ao sistema de bolsas do governo
federal ela conclui o curso de jornalismo na PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo). Hoje, trabalhando como assessora de imprensa, ela
avalia que o ProUni mudou a sua vida.
— Como eu
vinha de uma escola municipal de São Vicente [na Baixada Santista], a defasagem era
muito grande, então fiz cursinho e, depois, prestei Enem [Exame Nacional do
Ensino Médio] para conseguir a bolsa. Sem o ProUni, não teria vindo para São
Paulo, feito uma faculdade de excelência como a PUC e não estaria trabalhando
Daia Oliver, do R7
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A jornalista
conta que, por ter sido bolsista no início do programa, passou por alguns
desafios. Ela foi uma das duas bolsistas em uma sala de trinta alunos.
— Tinham alguns
alunos que eram contra e colocavam o ProUni como cotas, falavam que era tudo a
mesma coisa. Eles se colocavam contra o programa em discussões em sala, mas não
chegavam a nos discriminar. Os docentes nunca falaram nada e ainda gostavam
quando falávamos que éramos bolsistas.
Depois da
graduação, Diana continuou os estudos. Fez pós-graduação em comunicação
organizacional e relações publicas, em 2010, para aperfeiçoar as técnicas de
trabalho como assessora de imprensa
Daia Oliver, do R7
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Quando tinha
12 anos, Telma Ferreira Maciel, atualmente com 33 anos, trabalhava como
faxineira para completar a renda da família no Ceará. Ela os irmãos precisaram
trabalhar desde novos para ajudar os pais, que pararam de estudar no
ensino fundamental.
Aos 17 anos,
quando terminava o ensino médio, Telma engravidou e, para criar a filha,
precisou parar de estudar por cinco anos. Após uma trajetória marcada por restrições,
em 2006, ela foi aprovada para ter bolsa de estudos integral no Centro
Universitário Estácio do Ceará por meio do ProUni. Atualmente trabalha na instituição
onde estudou ciências contábeis.
— Eu sentia que
algo estava faltando na minha vida e que isso era justamente os estudos. Resolvi
estudar por conta própria e via notícias na TV divulgando o ProUni. Eu não
acreditava que o programa chegaria aqui, no Ceará. Prestei vestibular na
Universidade Federal do Ceará e não passei. Daí, fiz o Enem e fui aprovada para ter uma bolsa integral
Arquivo pessoal
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— Meu filho tem 15 anos e ele apenas estuda, não tendo a obrigação que eu tive de trabalhar para ajudar no sustento da casa. Isso porque, hoje, tenho uma
condição financeira melhor que os meus pais graças aos estudos.
Telma lembra que,
por conta das regras do programa, que vincula o desempenho acadêmico à
continuidade da bolsa, os “prounistas” de sua época se uniram para estudar e
fazer trabalhos acadêmicos. “O aluno ProUni costuma se dedicar mais aos estudos
por medo de perder a bolsa. Inclusive, outros
alunos se juntavam ao nosso grupo para poder acompanhar o nosso ritmo de
estudos”, conta.
— Muita
gente acha que o ProUni é como se fosse uma doação ou uma esmola. Na realidade,
é uma oportunidade dada e conquista pelos bolsista por meio do desempenho
acadêmico e da dedicação dos alunos. Meu
pai dizia que com os estudos conseguimos conquistar qualquer sonho. O ProUni foi
o meu parceiro nisso
Arquivo pessoal
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Thaís
Pinheiro, 27 anos, faz parte da geração de sua família que teve acesso ao
ensino superior de maneira facilitada. Entre seus oito tios por parte de pai e mãe, apenas um fez faculdade.
Ela e os primos mudaram essa estatística da família.
Em 2005, a jovem conseguiu uma bolsa de estudos integral por meio do ProUni para fazer jornalismo
na universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.
— Estudei a
vida inteira em escola pública e, na minha da época de ensino médio, o ProUni não
era tão divulgado. Um amigo meu que fazia cursinho foi que me avisou sobre o
programa. Eu pretendia trabalhar para fazer cursinho depois do ensino médio.
Mas daí fiz o Enem e consegui a bolsa
Daia Oliver, do R7
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Tendo feito
parte da primeira leva de bolsistas do programa, Thaís lembra de dificuldades
que enfrentou.
— Como era
um primeiro ano do ProUni, era um choque para todo mundo. A universidade
recebeu muitos alunos do nada. Os prounistas passavam dias inteiros fazendo
todo processo administrativo para entregar os documentos exigidos. Por conta
dos processos burocráticos, comecei o curso um mês depois do início das aulas.
— Em um dos
campi que estudei, no bairro da Vila Olímpia, às vezes, os alunos se dividiam entre
cotistas e a parte branca elitizada. Nunca me senti parte de nenhum dos dois grupos, mas talvez as pessoas negras bolsistas sentissem mais preconceitos e divisões do que eu, uma
bolsista branca
Daia Oliver, do R7
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Como outros
atuais e ex-bolsistas entrevistados pelo R7, a jovem conta que os “prounistas” estudavam
muito para não perder a oportunidade concedida.
— Eu e os outros
bolsistas éramos os melhores alunos da sala. Tínhamos que ter 65% de presença
e, se pegássemos recuperação, perderíamos a bolsa.
Atualmente, Thais
trabalha como assessora de imprensa e garante que o ProUni foi fundamental para
o seu sucesso profissional.
— Saí de um
bairro periférico, o Jardim Jaqueline, na zona oeste de São Paulo, e fui estudar em
uma universidade ótima para dar uma boa condição de vida para a minha família.
Há quatro anos a minha mãe deixou de trabalhar por problemas de saúde, e, hoje,
eu que sustento a casa
Daia Oliver, do R7
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Desde a
creche, Tamires Sampaio, 20 anos, estudou em instituições públicas. As únicas vezes
que estudou em instituições privadas foi por meio de bolsas: primeiro em um
cursinho, durante o terceiro ano do ensino médio, e, depois, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma das mais tradicionais de São Paulo, onde, atualmente, a jovem cursa
direito por meio de bolsa integral do ProUni.
— Quando
você tem acesso ao ensino, a perspectiva de vida acaba mudando, porque a
universidade abre um leque de possibilidades. No segundo mês de faculdade no Mackenzie,
consegui um estágio. Agora penso em fazer mestrado e seguir carreira acadêmica; quem sabe até ser professora universitária
Reprodução/ Facebook
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Em 2014, a
estudante, que irá terminar a graduação em 2016, tornou-se a primeira
aluna negra a presidir o centro acadêmico da Faculdade de Direito do Mackenzie
em 60 anos. Ela avalia que programas como o ProUni mudam vidas e a própria
composição da universidade.
— Alunos prounistas
se esforçaram muito, porque dão valor de estar em uma universidade muito boa
como o Mackenzie. Já vi pesquisas que mostram que os bolsistas do programa têm
rendimento maior ou igual aos demais estudantes. Então não se pode falar que esses
programas inferiorizam a qualidade da universidade, pelo contrário
Reprodução/ Facebook
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Márcio
Fernandes da Silva, 36 anos, mora em Taguatinga, no Distrito Federal. Depois
que terminou o ensino médio, ficou sem estudar por “quase três anos”, como ele
mesmo conta. Decidiu retomar os estudos aos 33 anos e, hoje, é recém-formado em
pedagogia, curso que fez no Centro Universitário Estácio Facitec – Brasília
graças à bolsa de 50% que conseguiu pelo ProUni em 2010.
— Desisti da
área de comércio com a qual trabalhava e fiz três anos e meio de pedagogia. Foi um
curso que gostei muito de fazer e que me deu a certeza da área na qual quero
atuar
Arquivo pessoal
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Atualmente,
Silva se prepara para fazer um concurso da Secretária de Educação do Distrito
Federal para a contratação de professores de ensino fundamental.
— Também vou distribuir os currículos em escolas particulares, mas o que quero
mesmo é dar aulas nas escolas públicas para turmas do primeiro ao quinto ano.
Por isso vou fazer o concurso assim que abrir.
O pedagogo
conta que a bolsa de estudos de 50% foi fundamental para que conseguisse pagar e
concluir a faculdade.
— Ter
participado do PoUni mudou muita coisa. A partir do momento que se tem a
oportunidade de estudar, você acaba fazendo parte de uma minoria que
consegue chegar ao ensino superior. Sabemos que a desigualdade social é grande
e que muitas pessoas desistem de continuar os estudos por conta do trabalho. O
ProUni é positivo, porque é uma oportunidade que o bolsista abraça para seguir
em frente na vida. ProUni também pode ser usado em cursos à distância; fique por dentro
Arquivo pessoal