‘Quando comecei como matemático, nem pensava nesse tipo de prêmio’, diz ganhador da Medalha Fields
Para o pesquisador, críticas ao ensino de matemática no Brasil não devem desestimular jovens
Educação|Do R7
O pesquisador brasileiro Artur Avila Cordeiro de Melo, premiado com a Medalha Fields na última terça-feira (12), honraria equivalente a ganhar um Prêmio Nobel, sempre se destacou nos estudos. Aos 16 anos de idade, ficou em primeiro lugar na Olimpíada Internacional de Matemática no Canadá.
Frequentando o Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), no Rio de Janeiro, Avila terminou o mestrado junto ao ensino médio, e aos 19 anos de idade já trabalhava em sua tese de doutorado sobre a teoria de sistemas dinâmicos. O estudo foi concluído em 2001, ano em que o pesquisador foi fazer um pós-doutorado na França.
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Atualmente, o carioca atua como diretor de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, em Paris. Apesar da trajetória acadêmica de peso e de carreira como pesquisador estar consolidada aos 35 anos de idade, Avila afirma que a notícia de que havia ganho a Medalha Fields foi recebida com surpresa e alívio.
— O anúncio me surpreendeu. Eu não esperava ter chances em 2014, já que teria mais um ciclo de elegibilidade (em 2018). Minha reação inicial foi mais de alívio que de outra coisa, já que o prêmio agora significa que não vou ter de passar por mais quatro anos de pressão, diz em comunicado divulgado pelo Impa.
— Quando comecei como matemático, nem pensava nesse tipo de prêmio. Mas, desde 2008, começou a se falar nessa possibilidade e ficou impossível ignorar. A medalha ocupa um lugar importante no imaginário das pessoas, completa.
Conquista e pressão
O pesquisador revela que precisou fugir da pressão em meio a especulações sobre o fato de que receberia o prêmio.
— Esse tipo de pressão não é saudável, e tentei evitá-la ao máximo, embora com sucesso bastante limitado. O que eu mais queria (e continuo querendo) é fazer matemática da mesma maneira que no início. Por exemplo, escolhendo tópicos em que trabalhar por considerá-los atraentes, em vez de pensar em termos do reconhecimento que eles possam trazer.
Avila também demonstra estar consciente da responsabilidade que é ganhar a Medalha Fields: “Os grandes prêmios científicos são, essencialmente, símbolos que permitem levar a ciência para o imaginário popular.”
— No caso do Brasil, imagino que essa conquista tenha uma importância particular, já que demonstra, de maneira clara, que temos condições de fazer ciência do mais alto nível diz.
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O vencedor destaca que o Brasil precisa melhorar no ensino e nas pesquisa em matemática, mas sem fazer com que destaques dados às atuais defasagens desestimulem os jovens.
— Obviamente é importante termos noção de que as coisas podem — e devem — ainda melhorar muito, mas uma visão exageradamente negativa das reais condições também é nociva, porque pode desmotivar os jovens a seguirem uma carreira científica.
A Medalha Fields, comparada ao Prêmio Nobel, pela importância, é entregue a cada quatro anos a matemáticos de até 40 anos de idade. Em cada edição, são premiados de dois a quatro pesquisadores destacados. Este ano, também receberam a distinção o canadense Manjul Bhargava, o austríaco Martin Hairer e a iraniana Maryam Mirzakhani, primeira mulher a receber a distinção.