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Trotes em faculdade de medicina da PUC Sorocaba envolvem ingestão de vômito e fezes 

Atos de violência têm sido relatados em audiências da CPI da Assembleia Legislativa de SP 

Educação|Do R7

Rodolfo Furlan, estudante de medicina da PUC Sorocaba, relatou as humilhações pelas quais alunos novatos são obrigados a passar
Rodolfo Furlan, estudante de medicina da PUC Sorocaba, relatou as humilhações pelas quais alunos novatos são obrigados a passar Rodolfo Furlan, estudante de medicina da PUC Sorocaba, relatou as humilhações pelas quais alunos novatos são obrigados a passar

Ao ingressar na universidade, calouros da faculdade de medicina da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Sorocaba, no interior de São Paulo, são surpreendidos. Ao invés de uma recepção acolhedora, trotes que incluem a ingestão de vômito, urina e até fezes marcam o início de suas vidas acadêmicas.

Em depoimento colhido nesta quarta-feira (14) durante audiência pública na Alesp (Assembleia legislativa de São Paulo) promovida pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga trotes violentos nas universidades do Estado, Rodolfo Furlan, estudante de medicina da PUC Sorocaba, relatou as humilhações pelas quais alunos novatos são obrigados a passar na instituição.

Furlan é um dos criados do GAP (Grupo de Apoio ao Primeiranista), entidade que elaborou um relatório sobre os trotes violentos cometidos na instituição em 2013. O conteúdo foi encaminhado para a reitoria, mas nenhuma resposta foi obtida.

Segundo o estudante, que atualmente mora nos Estados Unidos, existem dois tipos de trotes aplicados aos alunos de medicina da PUC Sorocaba: o mínimo, que é o corte do cabelo do calouro, a pintura do corpo, a obrigatoriedade do uso da camiseta; e o mais complexo, que chega a incluir a ingestão de vômito e fezes de terceiros e recepção de urina na cabeça.

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Em reportagem publicada hoje (15) no site da Alesp, Furlan diz que a ingestão forçada de fezes conta com a participação de alunos e de médicos formados, que são protegidos, uns e outros, pelo apelido com que são batizados.

Segundo o texto, o estudante também reconhece a prática de estupros cometidos contra alunas de medicina como algo frequente.

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— É uma enorme crueldade que se comete contra as vítimas.

Em nota, a universidade reitera que repudia a violência no trote.

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— Tais ações não podem ser consideradas meras brincadeiras: são antes agressões de aspecto físico e moral, condutas inaceitáveis por membros de nossa comunidade.

Afirmaram ainda que em 2013 e 2014 não receberam nenhuma denúncia desta natureza. As acusações anteriores foram apuradas e as providências foram tomada, como por exemplo, a expulsão de alunos que agiram de forma irresponsável.

Hoje (15), a CPI realizou audiência para a qual foram convocados os professores José Otavio Costa Auler Junior, diretor da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), e Edmund Chada Baracat, presidente da Comissão de Graduação da FMUSP.

Show medicina na USP 

Na última terça-feira (13), a CPI escutou cinco alunos (Felipe Scalisa, Alan de Oliveira, Caio Zampronha, Mauro Xavier e Andressa Oliveira) da FMUSP que contaram como é organizado o chamado Show Medicina.

O evento teatral funciona como uma espécie de fraternidade que há 70 anos é mantida pelos estudantes com ajuda de patrocínios de alguns ex-alunos.

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Na prática, o show é um meio de realização de trotes e humilhações feitas por estudantes mais velhos contra calouros.

Segundo relatos de alunos, o processo de admissão de um calouro no grupo de organizadores do evento inclui violações de direitos humanos.

De acordo com relato do estudante Allan Brum de Oliveira, de 23 anos, os calouros são levados para uma sala da faculdade e obrigados a tirar a roupa. Lá, os veteranos jogam bebida alcoólica sobre o corpo dos estudantes mais novos e os obrigam a beber até passar mal.

Os trotes continuam mesmo após os estudantes ingressarem para o grupo. "A escolha de quem passa pelo trote depois de entrar para o Show Medicina pode ser aleatória ou pode funcionar como uma forma de punição, quando alguém faz uma crítica ao show ou quando chega atrasado aos ensaios, por exemplo", contou Oliveira.

Ele relatou um trote pelo qual passou em 2012, quando foi obrigado a beber até ficar inconsciente. "O que me contaram foi que, quando não conseguia mais beber sozinho, colocaram um aluno para me dar bebida. Só acordei no hospital, sem um dente e com um corte no rosto", conta ele, que sofreu uma queda durante o trote.

O estudante Mauro Xavier Neto disse que também é comum os calouros serem "sequestrados" pelos veteranos do Show Medicina para passarem por algum trote. "Eles pegam a gente à força na faculdade, levam para uma sala e mandam todo mundo ficar pelado e alguns simularem o ato sexual com colegas", disse ele.

A violência que ocorre na FMUSP durante os ensaios do Show Medicina ou nas Intermed - torneios entre faculdades - fica envolta em uma aura de silêncio, segundo os depoentes. Seja vítima ou autor, todos se calam. 

"A violência é negada", frisou Felipe Scalisa, ao explicar que a FMUSP é sempre retratada de forma ufanista, "há uma cultura interna de que ali se encontra a elite do país". 

"Existe uma espécie de fraternidade com modus operandi semelhante a uma seita ou maçonaria, com privilégios e poder. É uma instituição conservadora e machista. Quem se opõe a essa tradição é estigmatizado e perseguido", narrou Scalisa.

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