PSDB aposta em uma chapa puro-sangue para vencer a eleição
Beto Nociti/30.06.2014/Futura Press/Estadão ConteúdoCandidato a vice na chapa de Aécio Neves, o senador Aloysio Nunes, do PSDB, defende que o partido se concentre em fazer oposição clara à presidente Dilma Rousseff durante a campanha, sem se importar demasiado com a presença de Marina Silva (PSB) na disputa.
— Tenho a convicção de que o candidato do PSDB tem todas as condições de disputar o segundo turno como candidato da oposição. Temos uma estrutura partidária forte e experiência de governo.
A ex-ministra do Meio Ambiente apareceu na última pesquisa Datafolha com 21% das intenções de voto, à frente do candidato tucano, que alcançou 20%. Mesmo assim, Aloysio garante que a estratégia do PSDB nas eleições não se alterará. O candidato falou ainda sobre medidas para combater a inflação e cortar os gastos públicos no País.
Leia a entrevista completa a seguir.
R7: Passada a comoção pelo acidente que vitimou Eduardo Campos e já com os dados da pesquisa que mostra o crescimento de Marina Silva, o que o PSDB precisa fazer para se consolidar como principal candidatura de oposição?
Aloysio Nunes: O PSDB já está consolidado como candidatura de oposição. A última pesquisa mostra absoluta estabilidade tanto da presidente Dilma Rousseff quanto de Aécio Neves nas intenções de voto. Ambos tiveram os mesmos índices da pesquisa anterior. A novidade foi a presença forte da candidata Marina Silva, que chegou a 21% das intenções de voto. Algo que não surpreende. Ela tem prestígio, tem o recall da eleição passada.
R7: E isso não atrapalha o PSDB?
AN: Tenho a convicção de que o candidato do PSDB tem todas as condições de disputar o segundo turno como candidato da oposição. Temos uma estrutura partidária forte e experiência de governo. Isso é uma excelente credencial, especialmente nesse momento que o País reclama da ineficiência do governo federal.
R7: Como vocês farão para se contrapor a uma candidata com baixos níveis de rejeição?
AN: Sempre acreditei que Eduardo Campos iria crescer e iria ser uma candidatura robusta. Ele era muito desconhecido do eleitorado quando morreu. Sempre imaginei que cresceria durante a campanha por suas propostas, por sua presença carismática e sua história. Mas nosso adversário não é Marina Silva, é Dilma Rousseff. Não vamos fazer campanha contra Marina. Pretendemos mostrar que nesse universo tão amplo da população que deseja mudança, Aécio é a melhor opção. Não há mudança de roteiro desse ponto de vista.
R7: Como cuidar para que os votos que Campos certamente teria no Nordeste não migrem para o PT, que possui ligações históricas com a região?
AN: Dilma era forte na região com Eduardo em vida e continua forte agora. Mas não é mais o que era em 2010. Houve uma mudança na situação política de muitos Estados nordestinos registrada já nas eleições municipais de 2012. A presidente continua forte, mas em proporção infinitamente menor do que era em eleições passadas. Além disso, o sentimento de mudança é enorme na população, que está cansada dos desmandos do PT.
R7: Mas, em 2010 e 2012, o julgamento do mensalão não colou nas candidaturas petistas. Os escândalos que envolveram o governo Dilma podem causar algum impacto na campanha?
AN: Isso chega ao eleitor à medida que o PT, que se arvorava como proprietário monopolista da ética, aparece agora aos olhos do eleitorado como alvo de muitas denúncias comprovadas. Isso com certeza estará presente na cabeça do eleitor. Agora, a diferença fundamental para a eleição de 2010 era que naquele ano a economia brasileira crescia mais de 7% e hoje está estagnada, além da inflação que volta a rondar os brasileiros. Resta ao PSDB e aos partidos coligados mostrar que Aécio é a melhor opção para mudar esse quadro.
R7: A oposição vem criticando o crescimento da economia e os índices de inflação, mas não diz como resolveria esse problema. Se eleita, sua chapa vai continuar a reajustar os benefícios sociais e da Previdência acima da inflação?
AN: Sim, claro. Isso vem sendo objeto de chantagem eleitoral do PT, que diz que vamos acabar com o Bolsa Família. É mentira. O Bolsa Família veio para ficar. É um elemento estruturador da família e uma forma de garantir um mínimo patamar de sobrevivência para milhões de pessoas.
R7: E o salário mínimo?
Em relação ao mínimo, lembro que durante os oito anos de governo do PSDB o salário foi ajustado acima da inflação. Se for pegar o acumulado, o salário cresceu mais no governo Fernando Henrique do que no governo Lula. E, com o salário, os benefícios sociais atrelados a ele também sobem. Essa é uma política que vai continuar. Num País tão desigual como o nosso, isso tem que continuar.
R7: E de onde sairia a verba para isso sem aumentar a dívida pública?
AN: Cortando cargos inúteis, cargos de confiança, reduzindo o número de ministérios e sendo mais criterioso na concessão de renúncia e benefício fiscal.
R7: O PSDB também critica o congelamento de preços e afirma que no ano que vem ocorrerá um “tarifaço” no Brasil. Um governo tucano vai repassar a conta da eletricidade cara para os consumidores então vai se endividar mais para bancar o subsídio?
AN: O próprio governo Dilma Rousseff reconhece que no ano que vem terá que reajustar a tarifa de energia que, aliás, já está sendo reajustada. É mentira que ela está congelada. Em algumas regiões do Brasil que são mais dependentes de energia térmica ela subiu muito. As indústrias pagam mais caro hoje do que pagavam antes dessa intervenção desastrada do governo no setor elétrico. Mas não se pode fazer isso de uma hora pra outra, um reajuste abrupto, um cavalo de pau, sobre a pena de jogar a inflação que já está alta, para a estratosfera.
R7: O PSDB considera a hipótese de parar de repassar dinheiro ao BNDES?
AN: Isso tem que ser orçamentado. O tesouro pode sim passar recursos para o BNDES, mas desde que isso seja objeto de deliberação do Congresso Nacional quando da discussão da proposta orçamentária. O que não pode é ser feito nesse sistema que o governo federal utiliza hoje, de repasses de dinheiro do tesouro via aumento de capital sem uma discussão disso no Orçamento Geral da União.