Novo ministro da Fazenda precisa ser uma pessoa do mercado, dizem especialistas
Analistas políticos avaliam que retomar credibilidade e crescimento serão maiores desafios
Eleições 2014|Carolina Martins, do R7, em Brasília
A nomeação de um novo ministério da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) tem gerado diversas especulações. A maior expectativa está em torno do novo ministro da Fazenda, que deve substituir Guido Mantega no cargo após a confirmação de sua saída do governo.
Para o economista Paulo Brasil, do Conselho Federal de Economia, o novo titular da pasta deve ser uma pessoa do mercado. Para ele, somente alguém com esse perfil terá condições de encarar os próximo desafios, como retomar o crescimento e combater a inflação.
— Teria que ser alguém que sinalizasse ao mercado que manteria os programas sociais, na medida em que fosse adotando outras práticas para inserir as pessoas no mercado de trabalho, e que também tenha preocupação com o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação.
O nome do substituto na Fazenda é importante para o mercado conhecer o direcionamento da política econômica de Dilma para os próximos anos. Os nomes devem ser divulgados até o começo de dezembro, reforça Paulo Brasil.
O professor de administração pública da UnB (Universidade de Brasília) José Matias-Pereira também acredita que a situação econômica do País exige uma pessoa do mercado financeiro para assumir o Ministério da Fazenda. De acordo com o especialista, o principal desafio será recuperar a credibilidade do Brasil.
— O cenário econômico hoje no Brasil exige uma pessoa de mercado, uma pessoa com muita experiência e, principalmente, que traga muita credibilidade. O perfil passa não só pela competência técnica, mas pela capacidade de ser um aglutinador, e que tenha essa facilidade de se relacionar tanto com mercado interno como com os investidores internacionais.
Dificuldades
O professor Matias-Pereira também avalia que o novo nome precisa ser anunciado o quanto antes. De acordo com o especialista, quanto mais tempo o mercado ficar instável, maior será o desgaste da economia.
— Essa instabilidade no mercado vai continuar. O cenário mundial já não é favorável e tem essa enorme desconfiança dessa vocação de intervenção da economia que reflete, inclusive, no preço das ações das empresas estatais. Isso não é bom para economia.
Mas, na análise de Paulo Brasil, o País passa por um momento muito delicado. O economista arrisca dizer quer “ninguém quer ser ministro da Fazenda”.
Ela avalia que, além dos desafios para manter o País crescendo, continuar economizando dinheiro para pagar a dívida pública e manter a inflação na meta, o novo ministro vai ter de lidar com um Congresso nervoso.
— É um momento extremamente delicado, tem uma pulverização da Câmara dos Deputados, vai ser muito difícil o Executivo trabalhar com o Legislativo nesse sentido. Vai ser um jogo de xadrez.
Possíveis nomes
Após a confirmação do segundo mandato de Dilma Rousseff, alguns nomes já foram cogitados para comandar o Ministério da Fazenda. O presidente executivo do banco Bradesco, Luiz Trabuco, foi um dos nomes ventilados.
Em sua primeira entrevista após o resultado das eleições, a presidente Dilma afirmou ao Jornal da Record, nesta segunda-feira (27), que “gosta muito” de Trabuco, mas que “este não é o momento nem a hora de discutir nomes”.
— No tempo exato eu darei o nome e o perfil.
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), Luciano Coutinho, também foi um nome levantado por especialistas, apesar de ter um perfil mais técnico que o esperado pelo mercado.
O ministro da Casa Civil, Aloisio Mercadante, também aparece na lista dos possíveis nomes para compor a nova equipe econômica do governo. Mas o cientista político da UnB (Universidade de Brasília) David Fleischer avalia que Mercadante não agradaria ao mercado.
— Eu calculo que ela deve ficar na Casa Civil, é um cargo que precisa de uma pessoa de confiança. Ele na Fazenda não agrada ao setor privado.
O economista Paulo Brasil também analisa que Mercadante será mais útil na articulação política do governo.
— Não é um nome que vingaria. Ele é muito mais importante politicamente do que na equipe econômica.
Para o especialista, um nome que atende às expectativas é o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, mas o economista acha difícil que ele aceite a proposta.