Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Acordo de paz com Israel depende do controle de radicais em Gaza, diz embaixador palestino

Para Ibrahim Alzeben, é preciso controlar grupos militares na região

Internacional|Diego Junqueira, do R7

Artilharia israelense dispara foguetes na fronteira com Gaza: ataques contra palestinos devem cessar primeiro, diz embaixador palestino no Brasil
Artilharia israelense dispara foguetes na fronteira com Gaza: ataques contra palestinos devem cessar primeiro, diz embaixador palestino no Brasil

Para que israelenses e palestinos alcancem um acordo de paz de longo prazo, é preciso, “definitivamente”, controlar as facções militares que atuam na Faixa de Gaza. A afirmação é do embaixador palestino no Brasil Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben.

Em entrevista ao R7, Alzeben disse que “Israel tem que deixar de agredir e, por parte também da Palestina, devem parar as hostilidades”.

Alzeben afirmou ainda que os ataques entre as milícias islâmicas em Gaza e o exército israelense, que deixaram mais de 160 mortos em oito dias, devem servir de lição, principalmente para Israel, de que a solução é política, não militar. “A guerra não resolve”.

Palestino morre em ação de Israel na fronteira com Gaza


Embaixadores trocam acusações sobre crueldade da guerra

Leia a seguir a entrevista completa.


R7 – Na quarta-feira (21) foi alcançado um cessar-fogo entre Hamas e Israel, mas sem a participação do presidente palestino Mahmoud Abbas, do Fatah. Após os oitos dias de ataques e o posterior acordo, o Fatah saiu derrotado e o Hamas mais fortalecido politicamente?

Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben - Não, de jeito nenhum. Quem ganhou... Bem, as perdas de 162 mortos e mais de 1.222 feridos é de todo o povo palestino, não é do Fatah, não é do Hamas. Assim que não podemos falar de perdas de um e ganho de outro. O povo palestino perdeu vítimas mortais e feridos, perdemos infraestrutura. O que estamos ganhando é que o povo palestino em Gaza pode disfrutar agora de um cessar-fogo e o fim das hostilidades israelenses. O Fatah e o Hamas estão há algum tempo em um processo de reconciliação, e quem pode perder ou quem pode ganhar é o povo palestino em geral.


R7 – Após o cessar-fogo, o apoio ao Hamas vai crescer na Cisjordânia?

Alzeben - O povo é a fonte de poder. Isso quem pode dizer são eleições, tanto em Gaza como na Cisjordânia. Esperamos primeiro superar essa situação dramática, essa tragédia que causou esta agressão contra Gaza, e depois estar atento às eleições. Quem vai dizer a sua palavra é o povo palestino. Todos vamos respeitar, e espero que o mundo inteiro respeite essa decisão.

R7 – Qual o nível da separação entre os moradores de Gaza e da Cisjordânia? Todos se veem como palestinos?

Alzeben - Efetivamente. Todos somos palestinos, em todas as partes, [mesmo após] a diáspora, dentro de Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém. Aqueles que inclusive ficaram dentro de Israel somos palestinos. Os palestinos somos todos um povo, tanto os da diáspora, como nos territórios.

R7 – Embaixador...

Alzeben - Veja bem, as diferenças políticas de partidos não eliminam a identidade nacional. Assim como a pessoa cristã não deixa de ser palestina. Se é muçulmano não deixa de ser palestino.

R7 – A pergunta é justamente porque existe uma separação física, que provoca uma falta de contato, além da proibição de entrar e sair nas duas partes do território.

Alzeben - Essa separação vem do que? Mesmo depois da diáspora, depois da ocupação [israelense], não deixamos de ser palestinos.

R7 – Com relação a um acordo de longo prazo, travado desde setembro de 2010, uma das exigências de Israel é que seu país seja reconhecido como Estado judeu. Por que não dar esse reconhecimento? Quais são os riscos?

Alzeben – Porque em Israel há cidadãos que não são judeus. Isso não pode ser [o reconhecimento]. Se eles quiserem se chamar de Estado judeu, o que eles quiserem, é problema deles. Nós já reconhecemos Israel como Estado em 1988, foi assinado um acordo em 1993. Agora, se eles querem trocar seu nome, não me corresponde reconhecer ou não. Eles têm que ir às Nações Unidas e solicitar essa mudança.

R7 – Por outro lado, o Fatah pede o retorno dos refugiados palestinos e o desmantelamento das colônias judaicas. Uma delas, como Ariel, é uma cidade enorme com milhares de judeus vivendo. Essa exigência palestina ainda pode ser concretizada, depois de tantas décadas?

Alzeben - Quem vai definir isso é a negociação direta entre Israel e a OLP (Organização para Libertação da Palestina, que representa os palestinos em instituições internacionais). Entre o Estado da Palestina e o Estado de Israel. Esperamos, primeiro, que seja reconhecido o nosso Estado, e de um a um, de Estado a Estado, de soberania a soberania, discutir o sistema. Entendemos perfeitamente que Israel criou fatos consumados no terreno palestino, por isso esse território continua sendo ocupado ilegalmente por Israel contra o direito internacional. A ocupação e as armas não geram direito. Quem vai negociar isso não sou eu. Para isso temos lideranças. E tudo tem que ser de acordo com o direito internacional. Para mim, tudo é território ocupado, incluindo Jerusalém Oriental — [é ocupado] conforme o direito internacional. Não é um invento nosso.

R7 – Antes do cessar-fogo, ocorreu um atentado terrorista em Tel Aviv. Um dia antes, foram publicadas imagens de um palestino executado em Gaza por colaborar com Israel. Como essas ações podem ajudar a chegar a um acordo na região? De alguma forma elas legitimam a recente ofensiva israelense?

Alzeben - Não, de jeito nenhum. Violência gera violência. Nós não apoiamos nenhum tipo de ação violenta ou terrorista, como o senhor disse, nem de Estado nem de indivíduo. Nós consideramos que a violência não é a solução. Acredito que esta ofensiva, agressão de oito dias contra Gaza deva servir de lição para palestinos e, sobretudo, para israelenses, de que a solução não é militar, mas política.

R7 – Mas para sair uma solução política, essas facções palestinas na Faixa de Gaza têm que ser controladas, não?

Alzeben - Definitivamente. Israel tem que deixar de agredir e, por parte também da Palestina, devem parar as hostilidades. Agressividade não resolve, violência não resolve e a guerra não resolve. Quem deve aprender isso, em primeiro lugar, é Israel. Faça uma leitura dos últimos 60 anos e você vai perceber quem é o agressor, vai saber quem é que sempre usa a força para cumprir seus objetivos.

R7 – É possível controlar esses grupos terroristas sem a união do Hamas e do Fatah?

Alzeben - Não admito dizer “grupos terroristas”. São “grupos político-militares” atuantes, e esperamos que todos se incorporem à OLP, e se incorporem à política, respeitando o direito internacional e as regras do jogo. Espero que a violência por parte de Israel ao longo desses anos cesse, para que esses grupos militares deixem de existir e se convertam em forças políticas capazes de construir um futuro melhor para o nosso povo.

R7 – O senhor está dizendo que, para esses grupos pararem de atuar, é preciso primeiro Israel parar a agressão?

Alzeben - Parar a agressão. Se Israel invade Gaza, e um militante se levanta e repele essa agressão, isso é um ato de defesa. Só que nós não queremos nem atos de defesa nem agressão. Se Israel seguir agredindo a Palestina, sem dúvida haverá uma reação.

R7 – E se Israel parar de agredir, mas o bloqueio à Gaza continuar?

Alzeben - Isso é uma agressão, uma agressão indireta. Não pode. [O fim do bloqueio] é uma premissa não para que as coisas continuem como são. Essa é uma premissa para ir avançando no processo de paz. E o mundo tem que garantir que essas coisas não voltem a acontecer. Se não, vamos assistir de tempos em tempos um episódio dramático, uma barbárie, como a que aconteceu nos últimos oito dias [de 14 a 21 de novembro]. O mundo tem que ter uma atitude mais positiva e atuante no sentido de impor a paz a todas as partes envolvidas neste conflito, sobre a base do direito internacional. No dia 29 de novembro, o reconhecimento do Estado palestino será votado na Assembleia Geral [das Nações Unidas]. Esses são passos diplomáticos que estamos dando e esperamos que o mundo ajude essas movimentações políticas e diplomáticas e cale os canhões, mísseis e bombardeios.

R7 – Como o senhor avalia a mediação do Egito, do presidente Mohamed Mursi e da Irmandade Muçulmana no acordo de cessar-fogo?

Alzeben - Egito está tomando um papel central neste processo. Pelo qual estamos muito gratos porque conseguiu pôr fim ao conflito e à matança contra o povo palestino.

R7 – Com a Irmandade Muçulmana no poder egípcio, o diálogo com o Hamas será facilitado?

Alzeben - Esperamos que sim. Agora tudo indica que o papel do Egito é central e fundamental para conseguir, primeiro, essa trégua, e, em seguida, um papel central nas futuras negociações.

Quer ficar bem informado? Leia mais

O que acontece no mundo passa por aqui

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.