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Alvos de ataques, cristãos relatam violência e perseguição no Egito

Após massacre contra islamitas, ao menos 30 igrejas foram atacadas no país

Internacional|Fábio Cervone, colunista do R7

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Em Minya, igreja foi parcialmente queimada na quarta-feira
Em Minya, igreja foi parcialmente queimada na quarta-feira

Os confrontos de quarta-feira (14) entre forças policiais e partidários do presidente deposto Mohamed Mursi, nas ruas da capital egípcia, desencadearam uma série de ataques contra igrejas e prédios cristãos no país. Membros da minoria religiosa relatam que estão sendo perseguidos pelos partidários de Mursi e que, nesses dias de tensão, alguns preferem não sair de casa.

A mais recente crise no Egito se iniciou em 3 de julho, quando o islamita Mursi foi destituído por um golpe militar um ano após ser eleito. Desde então, vários protestos foram organizados pela Irmandade Muçulmana (grupo que levou Mursi ao poder) para exigir a volta do presidente, que segue detido pelo Exército.


Na quarta-feira, forças de segurança agiram com violência quando desmantelavam dois acampamentos tomados pelos apoiadores de Mursi. Centenas de islamitas morreram.

O confronto na capital atiçou os ânimos em outras partes do país, atingindo comunidades cristãs, segundo relatos de ativistas e agências de notícias. A ONU chegou a lançar na quinta-feira (15) um alerta contra esses ataques.


“Esses ataques ocorreram em Fayoum, Bani Suwief, Minya, Assiut, Sohag, Qena, Luxor, Cairo e Gizé em vingança pela evacuação forçada de membros da Irmandade Muçulmana”, relata Samir (nome fictício), um cristão egípcio colaborador da Portas Abertas (Open Doors), organização que monitora a situação dos cristãos em todo o mundo.

Em seu relato, obtido pelo R7 por meio da representação brasileira da Portas Abertas, Samir explica que os cristãos vêm sendo atacados porque se opuseram a algumas medidas de Mursi, antes de o islamita ser deposto por um golpe militar.


— Partidários da Irmandade Muçulmana, com armas de todos os tipos, de metralhadoras a coquetéis molotov, atacaram cristãos e queimaram suas igrejas, lojas e casas, primeiro para demonstrar domínio e poder e, segundo, para punir a multidão de cristãos que se colocou contra as políticas do ex-presidente Mursi e seu regime.

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Em entrevista à rede americana CNN, o pesquisador da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, Ishak Ibrahim, afirmou que, ao menos, 30 igrejas foram atacadas nos últimos dois dias. Já o bispo copta do Reino Unido, Angaelos, que nasceu no Cairo, disse à emissora ter recebido relatos de ataques a 52 igrejas.

Os cristãos representam cerca de 8 milhões (10%) da população egípcia. Eles são predominantemente coptas, apesar de também existir um grande número de católicos e evangélicos.

Sem segurança

Assim como foi relatado por agências de notícias, Samir conta que os bairros e estabelecimentos cristãos não contam com segurança adequada.

— Em Minya, simpatizantes da Irmandade Muçulmana alojaram-se em uma rua da vila e abriram fogo contra um prédio cristão ao longo da noite, até destruir toda a construção. Nenhuma força policial ou militar estava presente. Não havia ninguém para oferecer ajuda ou fornecer proteção.

De acordo com Samir, um amigo que vive nessa cidade informou que a situação no local é tensa e que os cristãos foram instruídos a não saírem de casa.

Ele disse ainda que “algumas muçulmanas têm ajudado suas vizinhas cristãs indo ao supermercado para elas, a fim de que não corram risco ao sair de casa. Em uma empresa, colegas muçulmanas tiveram de emprestar véus para encobrir suas amigas cristãs a fim de levá-las às escondidas para casa”.

Apesar da violência, Samir ressalta que a situação exige reflexão, principalmente porque os dois lados estão sofrendo com a atual crise.

— Este não é o momento para decidir quem está certo e quem está errado ou o que deveria ou não ter sido feito em primeiro lugar. (...) Os edifícios podem, eventualmente, ser reconstruídos, mas e quanto às pessoas que morreram?! Nunca poderemos recuperá-las.

Samir se emociona e mostra bastante preocupação com o futuro de muçulmanos e cristãos do país.

— Esses são os dias mais difíceis que já presenciei no meu país. O Egito pacífico está agora embebido em violência, ódio e desejo de vingança. Meu coração e os corações de milhões de cristãos e muçulmanos egípcios sangram ao ver o Egito se transformar em um país estranho, diferente do lugar que conhecemos como nosso lar.

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