Ataque ao Charlie Hebdo foi pretexto para espalhar terror nas democracias, afirma diretor do jornal
Durante palestra em SP, Riss disse que atentado deve ser analisado de forma mais ampla
Internacional|Marta Santos, do R7
Policiais armados, detector de metal, revistas pessoais e listas com nomes pré-aprovados pela Polícia Federal. O forte esquema de segurança do lado de fora do auditório da Universidade Anhembi Morumbi na manhã deste sábado (4), em São Paulo, justificava-se com facilidade: faltava poucos minutos para o início da palestra de Laurent Sorriseu, o Riss, diretor do jornal francês Charlie Hebdo, no 10° Congresso da Abraji.
Com uma calorosa salva de palmas, bem mais adequada à situação do que um passivo minuto de silêncio, os participantes homenagearam os 12 mortos no atentado realizado em janeiro deste ano por radicais islâmicos contra a sede do jornal satírico, que publicava caricaturas de Maomé e deuses de outras religiões, em Paris. Para Riss, o atentado teve um significado muito maior.
— Nós não devemos pensar que o ataque foi contra as caricaturas em si, elas foram apenas um pretexto para algo mais amplo, que é espalhar o terror nas democracias, assim como o recente atentado na Tunísia. Ninguém lá havia feito caricaturas ou algo do tipo.
Nesse sentido, Riss defendeu o direito de o jornal publicar caricaturas independente do conteúdo, e enfatizou a importância de a sociedade lutar pela liberdade expressão.
— Quando algum tema está no noticiário, nós sentimos a liberdade de nos expressar sobre ele. Nós lutamos pela liberdade de expressão de todos, mas se ninguém usar esse tipo de liberdade, certamente ela irá desaparecer.
Em 2006, o Charlie Hebdo foi acusado de racismo contra os muçulmanos devido às charges publicados. Cinco anos depois, a sede do jornal foi incendiada, pouco antes de uma edição sobre a reintrodução da sharia, a lei islâmica, ser publicada na Líbia.
— As caricaturas nunca foram perdoadas, o ódio contra o Charlie foi mantido até acabar com o ataque de janeiro. Fazer humor sobre religião é muito sensível, e o Charlie pagou o preço por isso.
Ao final da palestra, Riss foi questionado se ele está otimista em relação ao futuro. Mesmo quem não fala francês conseguiu entender a mensagem: "Non".
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