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Comando de Serra no Itamaraty pode colocar em risco legado da diplomacia brasileira, diz especialista

Próximos dois anos podem ser suficientes para “desconstruir” a política externa do País, afirma

Internacional|Do R7*

José Serra tem a carga de ser um dos poucos chanceleres que não é diplomata de carreira desde a redemocratização
José Serra tem a carga de ser um dos poucos chanceleres que não é diplomata de carreira desde a redemocratização José Serra tem a carga de ser um dos poucos chanceleres que não é diplomata de carreira desde a redemocratização

A gestão “truculenta” do ministro das Relações Exteriores José Serra vem gerando atritos no cenário internacional, principalmente com países vizinhos, como Uruguai e México. Para o professor de Relações Internacionais da ESPM, Guilherme Casarões, caso áreas tradicionais da diplomacia brasileira — dentre elas a integração regional, as relações entre países do sul e as aspirações multilaterais do país — não sejam administradas de maneira sustentável pelo chanceler, “o próprio legado diplomático brasileiro pode ser colocado em risco”.

— A defesa desses elementos é muito mais antiga do que os governos anteriores do PT: quem consolidou o Mercosul foram Sarney, Collor e Itamar; quem consolidou o universalismo sul-sul da política externa brasileira foram presidentes tão distintos como Jânio Quadros, João Goulart, Ernesto Geisel e Lula; o apoio intransigente ao multilateralismo vem dos tempos de Barão do Rio Branco e Rui Barbosa. Em todos os casos, observamos a força do Itamaraty como fio condutor da inserção internacional do Brasil.

Segundo o especialista, o ministro vem promovendo “guinadas externas” na diplomacia brasileira, e os dois próximos anos podem ser suficientes para “desconstruir” a política externa do País.

Casarões lembra que a relação do Brasil com quaisquer vizinhos latino-americanos é “profundamente assimétrica”, e diz acreditar que a melhor saída para resolver as divergências na região é administrando as crises — e não aumentá-las. “A não ser que isso seja politicamente interessante para o ministro”, completa.

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— A atuação do Serra reflete as convicções e os cálculos políticos de um chanceler que vem tratando o Itamaraty como plataforma para a sua candidatura presidencial em 2018, e que pode entrar em choque com as necessidades e os interesses de longo prazo da diplomacia brasileira.

Imprevisível

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Ex-ministro da Saúde e ex-governador do Estado de São Paulo, o tucano José Serra entrou no Itamaraty em maio deste ano, após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, com a carga de ser um dos poucos ministros das Relações Exteriores que não é diplomata de carreira desde a redemocratização.

Em seu discurso de posse, Serra afirmou que um dos objetivos de sua gestão no Itamaraty seria retirar progressivamente o ministério “da penúria de recursos em que foi deixado pela irresponsabilidade fiscal que dominou a economia brasileira nesta década”. No entanto, segundo o doutorando do programa San Tiago Dantas, Daniel Coronato, o dinheiro que o tucano prometeu não veio, e o resultado foi a greve dos funcionários do órgão.

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Por outro lado, o especialista acredita que o Itamaraty ganhou visibilidade durante sua gestão. No discurso de posse, Serra havia prometido que o Ministério voltaria ao núcleo central do governo. No entanto, Coronato afirma que o modelo de gestão do tucano “chama muita atenção”, e sua retórica forte do ponto de vista diplomático “pode virar um problema” — como no caso da nota em que o chanceler criticou os países latino-americanos que pediram explicações sobre o processo de impeachment que gerou a troca de governo no Brasil.

Tucano teria tentado comprar o voto do país para isolar a Venezuela no Mercosul, segundo afirmou o chanceler uruguaio
Tucano teria tentado comprar o voto do país para isolar a Venezuela no Mercosul, segundo afirmou o chanceler uruguaio Tucano teria tentado comprar o voto do país para isolar a Venezuela no Mercosul, segundo afirmou o chanceler uruguaio

— Para quem está acostumado com o discurso político, acusações são normais. Mas, quando você fala em um universo cuja linguagem internacional tende a falar mais dizendo menos, há uma comoção muito grade. O Serra é imprevisível, e já provou que fala o que não deveria dizer de vez em quando.

Professora de Relações Internacionais da UniSantos (Universidade Católica de Santos), Natalia Fingermann afirma que a gestão de Serra “com certeza vai ser uma marca negativa na história do Itamaraty”. Ela cita o caso recente da denúncia do chanceler uruguaio de que o tucano teria tentado comprar o voto do país para isolar a Venezuela no Mercosul como exemplo da “total desqualificação da política externa brasileira”.

— A diplomacia brasileira sempre foi muito respeitada no mundo inteiro. Não consigo me relembrar da última vez que houve um incidente tão grave como esse. Claramente, ele tem uma postura ideológica que não segure os padrões do Itamaraty, uma diplomacia que usa de ameaça e chantagem.

Natalia levanta dúvidas também sobre até que ponto a diplomacia do chanceler tem o desenvolvimento do país como meta. Para ela, “parece se tratar de uma política externa que visa mais a privatização dos recursos do País para uma oligarquia que está no poder”.

— Arrancar tudo que pode do estado brasileiro, sem se preocupar se vai gerar desenvolvimento ou não.

*Por Luis Felipe Segura

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