Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Desapaixonando-se da China

Chineses estão descobrindo que não basta ter uma das economias mais importantes do mundo

Internacional|Do R7

Apesar do governo chinês investir na imagem do país, opinião internacional sobre a China varia entre a ambígua e a ruim
Apesar do governo chinês investir na imagem do país, opinião internacional sobre a China varia entre a ambígua e a ruim

Agora que está se tornando uma potência mundial, a China começa a reconhecer a importância da imagem global e da necessidade de acentuar seu "soft power". O país acompanha pesquisas de opinião pública no mundo inteiro e investe enormes quantias de dinheiro na expansão de sua marca cultural global, "propaganda externa" e diplomacia pública.

Infelizmente, no caso da China, isso não é o bastante.

Por que o Irã talvez esteja pronto para negociar

Que o Estados Unidos voltem para a casa 


Senhor presidente, derrube este muro

Embora diversas opiniões positivas acerca da China possam ser encontradas ao redor do planeta, pesquisas de opinião do Projeto de Atitude Global do Centro de Pesquisas Pew e da BBC revelam que a imagem da China varia entre a ambígua e a ruim. Além disso, a perspectiva negativa está crescendo. Durante quase uma década, a opinião pública europeia em relação à China vem se mostrando a mais negativa do mundo, mas esses números foram alcançados nos Estados Unidos e na Ásia.


Outrossim, existem sinais crescentes de tensão com a Rússia. À primeira vista, existe uma harmonia considerável em termos de visão de mundo e interesses, mas, no fundo, podem ser encontrados suspeitas históricas persistentes, atritos comerciais em crescimento, problemas nascidos das vendas militares da Rússia para a China, controvérsias quanto à imigração e à nascente concorrência estratégica na Ásia Central.

A reputação chinesa também se deteriorou no Oriente Médio e em meio à Liga Árabe, devido ao seu apoio aos governos da Síria e do Irã, em conjunto com a perseguição a minorias muçulmanas no extremo ocidental do país, política que também veio a macular sua imagem na Ásia Central.


Até mesmo na África, onde as relações continuam positivas como um todo, a imagem da China vem se deteriorando nos últimos três anos em função da enxurrada de empreendedores chineses, sua extração voraz de petróleo e outras matérias-primas, projetos de ajuda que parecem beneficiar construtoras chinesas na mesma proporção que os países recebedores e o apoio a governos repugnantes. Uma queda similar se tornou aparente na América Latina pelos mesmos motivos.

Por fim, a relação mais importante da China, com os Estados Unidos, também vive problemas. Agora, ela é uma combinação de interdependência firme, cooperação ocasional, concorrência crescente e desconfiança aprofundada.

Em ambos os lados, a questão fundamental é como administrar um relacionamento mais e mais competitivo e desconfiado sem deixar que este se torne um completo confronto entre adversários. Nenhum dos dois países tem muita experiência em lidar com tamanha concorrência estratégica em meio à interdependência profunda, embora possamos esperar que a segunda característica sirva de escudo para a primeira.

Embora o declínio da imagem da China possa ser mundial, as razões variam de região para região.

O enorme superávit comercial chinês contribui direta e indiretamente para a perda de empregos pelo planeta inteiro, mas o impacto na imagem é mais pronunciado na Europa, América Latina e nos Estados Unidos, onde a China parece assomar como uma ameaça econômica sem precedentes.

Entretanto, a modernização militar da China e a intromissão regional na Ásia mancharam a reputação entre os vizinhos. Os ataques cibernéticos sem precedentes dispararam para o topo da agenda das relações sino-americanas nas últimas semanas, enquanto a situação dos direitos humanos dentro do país se mantém como uma preocupação no Ocidente.

De forma latente, muitas dessas reclamações têm a ver com o sistema político autoritário da China e suas práticas comerciais, as quais são opacas e infestadas de corrupção.

Enquanto tentam ampliar as operações globais, as corporações multinacionais chinesas muitas vezes se deparam com dificuldades substanciais para se estabelecer no exterior e ganhar participação no mercado planetário. A China não tem nenhuma marca corporativa entre as cem mais respeitadas do ranking mundial da Business Week/Interbrand.

Dadas as taxas de crescimento da China, sua imagem pode parecer não ter muitas importância. Porém, ela tem. Em função do declínio de sua imagem, o novo presidente, Xi Jinping, e a nova equipe de relações exteriores enfrentam dificuldades e desafios crescentes na política externa, tanto de forma perceptiva quanto substancial.

As suspeitas e atritos em crescimento são parte integrante de ser uma potência global. Seria melhor para a China se envolver efetivamente nas críticas externas do que negá-las por puro reflexo ou reagir a elas com campanhas de relações públicas pouco convincentes.

Existem diversos medidas imediatas que a China poderia adotar. Ela deveria agir para deter seus hackers. Deveria abrir os mercados e reduzir o superávit comercial, além de restringir os subsídios aos investimentos externos e exportações. Deveria proteger os direitos da propriedade intelectual e ratificar e aderir ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, segundo o qual os membros devem se comprometer em proteger as liberdades individuais.

Em termos de política externa, ela deveria se envolver em negociações multinacionais sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e resolver suas disputas no sul do Mar da China, negociar um acordo com o Japão pelas ilhas disputadas e pressionar a Coreia do Norte e o Irã a pôr um fim em seus programas nucleares. O país também deveria ser transparente nos programas de ajuda internacionais e no orçamento militar, além de respeitar mais as sensibilidades dos países em desenvolvimento quanto à extração de recursos naturais.

Dar esses passos daria muito mais resultado em termos de aprimorar a imagem internacional da China do que os bilhões de dólares investidos atualmente em publicidade no exterior.

(David Shambaugh, autor de "China Goes Global: The Partial Power" – "A globalização da China: a potência parcial", em tradução livre, Oxford University Press, 2013 –, é professor de ciência política e relações internacionais da Universidade George Washington.)

O que acontece no mundo passa por aqui

Moda, esportes, política, TV: as notícias mais quentes do dia

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.