Em meio a crise econômica, eleições da UE podem dar novo fôlego à integração do bloco
Pleito é oportunidade para ampliar o debate sobre o futuro da região
Internacional|Do R7*
Entre os dias 22 e 25 de maio, os 28 países que compõem a União Europeia vão às urnas para escolher os novos membros do Parlamento Europeu, um processo que ocorre a cada cinco anos. Este é o único momento em que os mais de 500 milhões de cidadãos do bloco podem escolher diretamente quais políticos irão representá-los. Além da importância que estas eleições já possuem geralmente, neste ano elas estão ainda mais significativas: a Europa vive uma grande crise, tanto econômica quanto de identidade.
Para alguns, a crise europeia ocorre por falta de integração. Ao mesmo tempo, defende-se que esta é uma crise de excesso de integração. Visões opostas à parte, o fato é que o bloco caminha para uma unificação cada vez maior, com união fiscal e política.
Como define a reitora da Universidade de Évora e ex-assessora do presidente da Comissão Europeia, Ana Maria Costa Freitas, “a abertura de fronteiras e o diálogo entre os povos, bem como o fortalecimento do mesmo [diálogo], são uma bandeira Europeia”.
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No entanto, sempre haverá os discordantes. A crise econômica gerou uma grande insatisfação com as instituições europeias, contexto que é terreno fértil para o florescimento de partidos extremistas eurocéticos.
A diminuição de benefícios sociais e o aumento do desemprego, resultado da crise econômica, são apontados pela extrema direita como consequência e responsabilidade das instituições europeias, e não dos governos nacionais. Ou seja, tomam força vozes que defendem o fim da União Europeia, ou pelo menos uma maior autonomia dos países europeus.
Recentemente, a extrema direita tem conseguido um aumento na participação em eleições nacionais e, nas pesquisas de intenção de voto para o Parlamento Europeu, vários partidos deste espectro político também tiveram uma porcentagem maior do que em anos anteriores.
Na França, por exemplo, a Frente Nacional poderá conseguir entre 23% e 25% dos votos válidos e, no futuro, talvez se torne um dos maiores partidos franceses.
Na Inglaterra, o Partido pela Independência do Reino Unido, de extrema direita, irá provavelmente obter muito mais votos em 2014 do que em anos anteriores, ainda que se mantenha distante da maioria no resultado.
Porém, a extrema direita, além de buscar o fim do projeto de unificação europeu, também é contra a imigração e costuma ter ideias muito intolerantes. Para se ter uma ideia, o líder da Frente Nacional francesa, Jean-Marie Le Pen, declarou recentemente que o vírus fatal da ebola poderia “solucionar” o problema do crescimento demográfico e da imigração africana para a Europa.
Para os que se preocupam com tais declarações, a professora Ana Maria Freitas traz um alívio: “Há realmente um descontentamento e uma agitação social da qual a extrema direita se tem aproveitado, mas não me parece que conseguirá uma representação expressiva no Parlamento Europeu”.
Segundo o professor Bruno Luciano, pesquisador de estudos europeus no Centro de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getulio Vargas), essas visões opostas sempre estiveram presentes dentro da construção da Europa. Ao mesmo tempo em que se reivindicava uma maior integração, mantinham-se presentes setores conservadores representativos: “Há estas duas forças atuando no mesmo modelo, e há respostas diferentes acerca da crise”.
Mas, agora, a grande variável interessante é o fato de que os partidos ditos eurocéticos, tanto de extrema direita quanto de esquerda, começaram a fazer parte do quadro do Parlamento Europeu, mesmo que ainda em menor número: “São pessoas que vão trabalhar na União Europeia defendendo o fim da organização, ou o fim do euro”.
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Para o professor, mais importante do que analisar o crescimento dos extremismos na Europa é observar quais serão as alianças políticas que serão feitas para indicar o candidato à Comissão Europeia, pois essa instituição é a que efetivamente faz cumprir os tratados do bloco. Só a partir daí é que se poderá dizer com mais precisão quais rumos poderão ser tomados pela UE — se continuará com a unificação cada vez maior, como tem feito desde o seu surgimento, ou se partirá para um novo caminho.
Porém, os especialistas consultados pelo R7 concordam quanto ao provável futuro do bloco. Ainda que a extrema direita grite pelo fim da unificação, a resposta da União Europeia às crises que foram acontecendo ao longo dos séculos 20 e 21 sempre se baseou em iniciativas de maior integração, e assim deverá manter-se.
* por Maria Cortez, estagiária do R7