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Empresa envolvida em escândalo de dados chefiou campanha de Trump

Em gravações, executivos contam como influenciaram a campanha de Trump e espalharam informações falsas sobre Hillary Clinton na internet

Internacional|Fábio Fleury, do R7, com agências internacionais


Mark Turnbull questionado ao chegar à sede da CA
Mark Turnbull questionado ao chegar à sede da CA

A Cambridge Analytica, empresa britânica de consultoria de dados envolvida em um escândalo de vazamento de perfis do Facebook, afirmava a clientes que realizou toda a campanha presidencial de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016, e manipulou eleitores indecisos em estados-chave para definir o resultado.

Executivos da CA afirmaram, sem saber que estavam sendo gravados por jornalistas da emissora britânica Channel 4, que além de determinar toda a estratégia digital para os eleitores, a companhia ainda utilizou grupos independentes para espalhar conteúdo negativo na internet contra a adversária de Trump na eleição, Hillary Clinton.

Campanha de Trump

Uma matéria divulgada pelo Channel 4 nesta terça-feira (20) mostrou que os executivos da Cambridge Analytica alegam que comandaram toda a estratégia de campanha de Trump e costumam levar o crédito pela vitória que chocou o mundo.


"Trump perdeu a eleição popular por 3 milhões de votos, mas ganhou no colégio eleitoral. O crédito é dos dados e pesquisas. Fazer comícios nos lugares certos, fazer eleitores saírem de casa para votar nos estados certos. Foi assim que vencemos a eleição", afirma na gravação o chefe de dados da CA, Alex Tayler.

Outro executivo, Mark Turnbull, completa: "ele venceu a eleição por causa de 40 mil votos em três estados".


Grupos anônimos

O trecho mais revelador aparece no momento em que Turnbull explica aos jornalistas britânicos a estratégia de separar a campanha em duas partes. Uma, "limpa", fica por conta do comitê oficial do candidato. O jogo sujo é feito por fora dos canais oficiais.


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"Fazer uma campanha baseada em fotos não funciona, porque na realidade é tudo emoção. O grande erro dos partidos é querer vencer a discussão com argumentos, em vez de achar o centro emocional do problema e direcionar tudo ali", explica o executivo.

Ele explica que, nos Estados Unidos, uma campanha oficial tem limites legais de quanto dinheiro pode receber e o que pode divulgar. Grupos independentes não têm esse limite. No entanto, a legislação eleitoral norte-americana proíbe coordenação entre campanhas e grupos independentes.

Contra Hillary

Nas conversas com os jornalistas, o executivo também se gaba, dizendo que a empresa criou o principal slogan contra Hillary Clinton durante o processo eleitoral, "Defeat Crooked Hillary" ('Derrotem a trapaceira Hillary', em tradução livre).

"Criamos o slogan e foi um grande acerto, os dois 'o' de 'crooked' foram usados para formar uma algema. Fizemos isso e funcionou muito bem", conta Turnbull.

Segundo ele, o uso de organizações de fachada e grupos de ativismo já estabelecidos facilitou o trabalho da campanha. A explicação sobre o processo mostra como as informações espalhadas pela internet podem ser usadas por campanhas pouco éticas.

"Às vezes você usa organizações de fachada que já existem, grupos de caridade, de ativistas. Nós lhes damos o material e eles fazem o serviço, colocam em circulação. O assunto se espalha pelo fluxo da internet, vai se infiltrando, crescendo, se expande, mas não tem marca, não é assinado, não é possível rastrear", diz Turnbull.

Ligações com a Rússia

Entrevistada pelo Channel 4, Hillary Clinton disse que a estratégia usada pela Cambridge Analytica foi chave no resultado eleitoral, afetando 'os processos de decisão dos eleitores', e ligou o escândalo à investigação do Departamento de Justiça dos EUA sobre a influência da Rússia na eleição de 2016.

"Ninguém jamais havia enfrentado uma campanha como essa. A questão é como os russos sabiam onde enviar as mensagens de maneira tão precisa para eleitores em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. Esse é o cerne da questão", afirmou.

Os três estados foram chave para determinar a vitória de Trump no colégio eleitoral. O procurador especial Robert Mueller, responsável pela investigação, pediu todos os dados da CA relativos à eleição.

Destruição de provas

O executivo Alexander Nix, que foi afastado do comando da Cambridge Analytica nesta terça-feira, também aparece nas gravações, dizendo que a empresa não exporia seus clientes durante uma investigação e fazendo uma recomendação para que e-mails da campanha passem por um sistema que não deixa traços.

"Nós gostaríamos que vocês instalassem um sistema de ProtonMail (serviço de e-mails criptografados). Ninguém sabe que usamos, e configuramos o sistema para que os e-mails sejam apagados duas horas depois que eles sejam lidos", afirma.

Gravações

A denúncia faz parte de uma série de reportagens realizadas pela emissora britânica Channel 4. Produtores se disfarçaram de emissários de um canditado à eleição do Sri Lanka e procuraram a empresa.

A primeira reportagem, divulgada no sábado, mostrou que os dados de 50 milhões de usuários do Facebook foram vazados para a empresa. O fundador do portal, Mark Zuckerberg, foi convocado a prestar explicações ao Parlamento britânico.

Na segunda-feira, a segunda matéria trazia gravações em que os executivos sugerem práticas como espalhar notícias falsas, criar escândalos e até mandar garotas de programa para as casa dos candidatos para chantageá-los depois.

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