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Depois da renúncia de Boris Ieltsin, que trabalhou por uma ampla liberalização da economia da Rússia, Vladimir Putin, 62 anos, ascendeu ao poder em 2000 e vem tentando conduzir o país com um estilo centralizador. Neste dia 7 de maio, completam-se 15 anos desde que assumiu o cargo de presidente, com uma interrupção entre 2008 e 2012, quando foi primeiro-ministro e se manteve no comando
Reuters
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Desde o fim da Guerra Fria, nos anos 80, que contrapôs por décadas a União Soviética comunista e os Estados Unidos capitalista, a Rússia, país que tinha a hegemonia soviética, busca se recolocar no cenário mundial tentando reavivar seu status de superpotência. Controvertido, Putin encarna bem esse ideal, comandando uma economia capitalista, mas ainda muito atrelada aos interesses de um poder central
Reuters
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Mesmo acusado de ter um estilo implacável com os opositores e postura pouco aberta ao diálogo com as potências europeias e com os Estados Unidos, muitos o consideram um heroi por desafiar o Ocidente. Mas para seus críticos ele não passa de uma espécie de ditador que busca governar nos moldes dos antigos czares russos. Czar vem do nome César, dado aos imperadores romanos
Reuters
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Mas a bipolaridade da Guerra Fria é algo do passado. Agora, como afirma o professor Demétrius Pereira, de Relações Internacionais da ESPM, o governo russo tenta demonstrar força por meio do Brics (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul), bloco que reúne países emergentes que buscam independência em relação à política americana e da União Europeia
Vídeo: Milhares de russos marcham para homenagear opositor de Putin morto a tiros
Putin diz que economia russa pode voltar a crescer em menos de 2 anosReuters
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— A Rússia não consegue liderar sozinha uma oposição aos Estados Unidos, como na Guerra Fria. Mas para continuar rivalizando, ela atua em uma liderança compartilhada com os países do Brics. O sistema de relações internacionais passou a se pautar por um estilo multilateral
Reuters
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Ao assumir o cargo, no ano 2000, Putin chegou com uma postura conciliadora, falando até em se alinhar à Otan (Organização dos Países do Atlântico Norte). Mas esse discurso foi modificado ao longo do tempo, com a Rússia dando suporte econômico a países em conflito com o mundo ocidental, como a Síria e o Irã
05.09.13 /AP Photo/Pablo Martinez Monsivais/Pool
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À TV Rússia-1, ele, que trabalhou por 20 anos na KGB, declarou recentemente:
—Os nossos parceiros precisam entender que um país como a Rússia tem, e não poderia deixar de ter, os seus interesses geopolíticosGetty Images
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Neste momento, o presidente comanda um país isolado e que sofre sanções do Ocidente em função do conflito com a Ucrânia, ainda fruto da desintegração soviética, e da anexação da Crimeia sem reconhecimento internacional, em março de 2014
Reuters
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As sanções e a queda no preço do petróleo fizeram a Rússia entrar em uma séria crise econômica, o que tem acirrado ainda mais seu estilo refratário ao Ocidente, já que, por ter amplas reservas minerais, o país utiliza o trunfo de ser um dos líderes mundiais na produção de gás natural, carvão e petróleo
Reprodução/dailymail.co.uk
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A professora Maria Helena de Castro Santos, de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, afirma que Putin está adotando uma tática errada ao se contrapor às grandes potências
AP
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— Ele não está escolhendo um caminho de cooperação. Talvez ele até pense nisto para depois, mas agora está em uma corrida para se impor como potência. É uma linha de ação diferente da da China, que não quer problema com ninguém
Reprodução/dailymail.co.uk
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Nestes 15 anos, Putin se destacou por seu personalismo. Para tanto, seu governo tem investido muito em publicidade, tem patrocinado eventos esportivos, sendo escolhido como sede da próxima Copa do Mundo. Politicamente, ele alimenta uma imagem de democrata. Fez um discurso de indignação contra o assassinato do opositor Boris Nemtsov. Opositores consideraram que ele tenta evitar que seu governo seja visto como culpado pelo ocorrido
Reuters
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No poder, Putin alimentou uma mágoa ainda maior do Ocidente, conforme disse á Rússia-1.
— Tenho, por vezes, a impressão de que eles (os ocidentais) nos amam quando é preciso enviar para nós ajuda humanitária. (...) Os chamados círculos governamentais, as elites políticas e econômicas desses países gostam de nós quando estamos miseráveis, pobres e ficamos com a mão estendidaALEXEI NIKOLSKY / RIA-NOVOSTI / AFP
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A Grande Rússia é um conceito que surgiu junto com o nascimento da nação russa, em forma de império, com o primeiro czar, Ivan IV, o Terrível, em 1547. O Estado desde então se tornou centralizado, com a dinastia dos Romanov e ainda mais absolutista a partir do século 17, com Pedro, o Grande
AP
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Isso não tira a origem comum que têm Rússia e Ucrânia, ambas desmembramentos do Principado de Kiev, que foi precursor da geopolítica da região, a partir do ano 880. A origem mais aceita do nome Rússia vem de povo Rus, que compunha um estado do principado
AFP / RIA-NOVOSTI/ POOL/ MIKHAIL KLIMENTYEV
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Essa obsessão pela Grande Rússia esteve presente em todos os governos do país. E Putin manteve tal diretriz, mesmo não ansiando novamente, e aparentemente, grandes conquistas territoriais
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Segundo matéria do The Guardian, o presidente comandou grandes mudanças no país. Mas também é muito contestado, por, entre outras coisas, tratar a Geórgia e a Ucrânia como "estrangeiros próximos", ser autocrata, se opor à Otan, ser personalista, basear o crescimento econômico apenas nos recursos naturais e agravar as relações com a União Europeia, buscando ser uma referência na Asia, continente em que a Rússia também se localiza
Alexander Zemlianichenko/AP
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Apesar deste período de crise econômica, Putin conseguiu promover um amplo período de crescimento da Rússia, após o comunismo. Estatizou novamente algumas indústrias e buscou manter certa hegemonia na região, em função da interdependência de recursos naturais
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Em 2005, o PIB russo era de US$ 1,5 trilhão (R$ 4,6 trilhões). No momento, o PIB russo é de US$ 2,9 trilhões (R$ 8,82 trilhões), contra US$ 9,2 trilhões da China (cerca de R$ 30 trilhões) e cerca de US$ 16,8 trilhões (R$ 51 trilhões) dos Estados Unidos
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