Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

"Há um medo do futuro", diz embaixador italiano sobre crise na Europa

Antonio Bernardini diz que a Itália espera a conclusão do acordo União Europeia-Mercosul

Internacional|Do R7*

Antonio Bernardini iniciou sua missão diplomática no Brasil em julho deste ano
Antonio Bernardini iniciou sua missão diplomática no Brasil em julho deste ano Antonio Bernardini iniciou sua missão diplomática no Brasil em julho deste ano

Presa em meio a uma crise econômica que já dura pelo menos 6 anos e uma das maiores crises de refugiados das últimas décadas, além do fortalecimento de grupos de extrema-direita e as discussões em torno da saída do Reino Unido da União Europeia, o velho continente vive hoje um momento decisivo, enquanto sua população tem "medo do futuro". É essa a avaliação do embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini.

Nesta segunda-feira (21), Bernardini participou do evento “Condividere Valori per Creare Valore - Alimentação e Esporte para uma Vida Saudável”, promovido pela embaixada italiana em parceria com a marca de chocolates italiana Ferrero.

Em entrevista ao R7, o embaixador — que iniciou sua missão diplomática no Brasil em julho deste ano — comentou sobre a necessidade de uma política europeia integrada para diminuir os impactos da crise migratória, o referendo constitucional na Itália, o fenômeno do conservadorismo na Europa e as expectativas para a aprovação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. 

O governo brasileiro tem uma expectativa grande em relação à aprovação do acordo da União Europeia com o Mercosul. Você acredita que o comércio entre o Brasil e a Itália tende a melhorar com a aprovação do tratado?

Publicidade

Nós esperamos muito uma resolução do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, porque achamos que as barreiras tarifárias que limitam o comércio podem ser abaixadas. Isso pode aumentar o comércio entre a Itália e o Brasil.

Atualmente, nós exportamos muitos carros e maquinários para o Brasil. Também exportamos muitos produtos de moda e alimentos, que podem ser aumentados com menos limitações.

Publicidade

Além disso, temos aproximadamente mil empresas italianas atuando no Brasil — desde companhias grandes, como Fiat, Pirelli e Ferrero, até empresas pequenas. Muitas dessas empresas têm atividades em temas importantes, inclusive políticos, que também interessam a embaixada.

A política da Itália é de trabalhar junto com as empresas, com parcerias para eventos públicos que promovem a imagem da Itália e também das empresas italianas. 

Publicidade

Eventos recentes como o Brexit e o fortalecimento de grupos de extrema-direita parecem estar no topo das preocupações da União Europeia no momento. Levando isso em consideração, você acredita que o acordo com o Mercosul é mesmo uma prioridade para os políticos europeus?

Claro que existem prioridades diferentes para cada país. Para a Itália, o comércio ibero-americano é uma prioridade. Estamos esperando a conclusão do acordo com os Estados Unidos e com o Mercosul.

A questão do Brexit e da ascensão da extrema-direita na Europa diz respeito à resposta política aos problemas europeus. Se não há respostas políticas adequadas, ocorre uma pressão da opinião pública, que vai escolhendo as opções políticas que têm propostas relacionadas às suas preocupações. Isso gera muitos debates, porque a Europa está exposta a crises que não existiam antes, como a crise de imigrantes e a crise econômica, que foi muito longe.

Trump e Brexit: 5 fatores em comum

Há um medo do futuro. A resposta política é a coisa mais importante que temos que achar na Europa agora.

A localização geográfica da Itália faz com que o país seja a porta de entrada para a Europa dos refugiados que atravessam o Mar Mediterrâneo. Quais são as medidas que a Itália tem tomado para amenizar a crise e receber os refugiados de maneira adequada?

A questão é que um país sozinho não pode enfrentar um problema grande como a crise de imigrantes. É um problema Europeu. Nós falamos em uma política europeia para os refugiados, até porque agora há um problema de imigrantes econômicos também.

Os números são incríveis, temos que organizar uma resposta política da Europa. Se não houver uma política europeia integrada, diversos países estarão sujeitos a um problema enorme. A quantidade de imigrantes que chegam à Itália diariamente, ou à Grécia, são números que não podemos controlar. Com políticas europeias na África, por exemplo, seria outra coisa.

“Superimperialismo” é causa da pior crise de refugiados das últimas décadas, diz especialista

Se não tivermos solidariedade entre os países europeus e uma política europeia integrada, será muito difícil resolvermos o problema da crise de imigração.

A Itália passa neste momento por debates sobre uma reforma em sua constituição, proposta pelo premiê Matteo Renzi. De que maneiras a aprovação da medida pode beneficiar o sistema político italiano?

Trata-se um debate muito forte pelo qual estamos passando agora. Inclusive, os cidadãos italianos estão votando no Brasil.

Premiê da Itália sugere que pode deixar cargo caso referendo não seja aprovado

É claro que, depois de tantos anos, há ideias diferentes sobre uma reforma constitucional ideal. A proposta trata-se de uma modificação do sistema do parlamentarismo na Itália, que é baseado na Câmara dos Deputados e no Senado, com uma modificação das competências dos poderes do Senado e a mudança das relações entre o Estado Central e as regiões.

As opiniões são diferentes, vamos ver qual será a resposta do eleitorado.

Qual a solução para amenizar os impactos dos terremotos recentes no país?

O problema dos terremotos é um problema de engenharia, precisamos de investimento para modificar os prédios e permitir que eles resistam aos terremotos. Nossas experiências no país demonstram que existem tecnologias que podem evitar a destruição decorrente dos terremotos.

O problema é que, quando você tem prédios velhos, de 400, 500 anos, os proprietários acham que não vai acontecer nada com eles porque depois de 4 ou 5 séculos, é impossível que algo vá destruir o prédio, mas isso não é verdade. Eventualmente, acontecem terremotos muito fortes e que geram toda a destruição que vimos.

Por que acontecem tantos terremotos na Itália?

A solução é reconstruir, reparar, restaurar e intervir sobre o patrimônio que está nas regiões afetadas pelo terremoto.

A Itália pode ser afetada pela onda conservadora que vem se manifestando em países da região?

Tudo é possível. Mas eu acho que o campo conservador na Itália é muito fragmentado. A experiência política do Berlusconi, que era de um partido conservador muito forte, agora não existe mais. Os partidos conservadores são fragmentados em pequenas formações políticas que não tem maioria no nosso sistema político.

Agora tem o fenômeno político do Movimento 5 Estrelas (partido criado pelo comediante Beppe Grillo que tem como bandeira colocar cidadãos comuns no poder).

Com o sistema eleitoral que temos agora, eu acho que a parte política que tem coerência e unidade, ganha eleições. A parte que tem fragmentação, não ganha.

* Por Luis Felipe Segura

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.