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Morte de promotor aumenta pressão sobre governo argentino

Depois de 20 anos, atentado na Amia ainda não foi esclarecido, o que causa irritação no país 

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Nisman iria falar no Congresso sobre denúncias contra o governo
Nisman iria falar no Congresso sobre denúncias contra o governo

A morte do promotor argentino Alberto Nisman, ocorrida no último fim de semana, é mais um capítulo desta nebulosa história do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em Buenos Aires, em 1994, que deixou 85 mortos, a maioria da comunidade judaica.

A acusação de falta de transparência e a ineficácia na busca dos culpados marcaram negativamente a imagem do país na história recente e já se tornou motivo de irritação da população.

As circunstâncias da morte do promotor ainda não foram esclarecidas e isso aumenta a pressão sobre o governo argentino, que estava sendo acusado por Nisman de ter entrado em um acordo com o Irã para acobertar os culpados pelo atentado.

Depois de 10 anos de investigação, o caso voltou à estaca zero com a substituição do antigo promotor, no momento em que Nisman entrou no caso. Passados outros dez anos, ninguém foi responsabilizado pela Justiça argentina.


Foi o antecessor de Cristina, Néstor Kirchner, quem deu início ao novo direcionamento no caso, passando, na ocasião, a impressão de que a Argentina iria finalmente desvendar a autoria do crime.

Neste segundo mandato, principalmente, o governo de Cristina Kirchner, reeleita em 2011 com expressivos 53% dos votos, a maior votação desde o retorno de Juan Domingos Perón à presidência, em 1973, foi perdendo popularidade diante de acusações de desmandos, como o suposto favorecimento do vice-presidente, Amado Boudou, a empresas.


Na semana passada, foi a vez de Nisman dar outro golpe no Executivo ao acusá-lo de acobertar os culpados do atentado.

Cristina, da coalizão Frente para a Vitória (FPV), que inclui o seu partido, o Partido Justicialista (peronista), também comprou briga com muitos grupos opositores e foi alvo de críticos, que a consideram centralizadora e perseguidora de quem discorda de sua política.


Nesta segunda-feira (19) Nisman iria apresentar suas denúncias ao Congresso Nacional e a sua morte causou estranheza e fortes suspeitas de que tenha sido uma "queima de arquivo" ou uma ameaça à continuidade das investigações.

O advogado Humberto Martin Ruani, do partido PRO (Proposta Republicana), de oposição, afirmou que o caso está intrigando a população, apesar dele ressaltar que, de acordo com as informações obtidas no local, ainda não seja possível apontar com precisão as causas da morte do promotor. Ruani é assessor do presidente de uma importante comuna (distrito) de Buenos Aires, que representa a população da região.

Sem falar em nome de seu partido, cujo principal líder é o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, Ruani acredita que o ocorrido abala ainda mais a imagem da presidente Cristina Kirchner. Em 2014, segundo levantamento da consultoria Management & Fit , 67,5% dos entrevistados desaprovaram a maneira de a presidente governar.

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— Não acredito em impeachment, o mandato de Cristina Kirchner deve ir até as próximas eleições. Agora, é inegável que, diante de uma situação tão incomum, a imagem do governo fica arranhada.

Na mesma linha, o professor Paulo Pereira, coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, observa que é cedo para afirmar que o fato poderá causar fortes abalos no governo de Cristina, a ponto até dela deixar o cargo. Para ele, o caso está rodeado de suspeitas, mas longe de confirmar que houve participação do governo.

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—Seria um assassinato, algo dos mais hediondos que um governo poderia cometer. Mas seria leviano agora falar que houve algum tipo de participação. Agora, se for provado que não houve suicídio, mesmo que a vinculação com o governo não estiver estabelecida, o caso vai ganhar uma dimensão grande e será difícil conter a crise política que virá na sequência.

Em defesa de Cristina, Carlos Gullo, representante do partido da presidente, dentro de comuna de Buenos Aires, observa que o governo está tranquilo em relação ao desfecho do caso.

— As perícias estão demonstrando que não houve a participação de mais ninguém na morte. Acusar qualquer pessoa de participação já é um disparate, quanto mais fazer alguma acusação contra o governo. Isso prejudica quem acusa, e não o governo. A distribuição dos poderes se mantém intacta e a Justiça continuará com a sua independência. O atentado na Amia continuará a ser investigado.

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