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Não se deixe enganar pelo glamour do crescimento

Sucesso dos números da economia doméstica não é garantia de lucros

Internacional|Do R7


O crescimento econômico sempre foi uma perspectiva atraente para investidores. Economias como a do Brasil, da China e da Índia sempre foram aclamadas por seu rápido crescimento e por retornos aparentemente intermináveis. Da mesma forma, empresas que crescem rapidamente, como o Facebook, o Google e o LinkedIn excitam investidores com esperanças similares.

Entretanto, no artigo "Blinded by Growth", publicado no segundo semestre do ano passado pela revista The Journal of Applied Corporate Finance, Javier Estrada avisa que contar com o crescimento pode ser perigoso para os investidores. Estrada examina o crescimento dentro de determinadas economias e seu efeito sobre o retorno das ações, antes de passar a estudar o efeito do crescimento corporativo sobre a lucratividade. Em seguida, o autor compara os benefícios do investimento em empresas voltadas para o crescimento, com os do investimento em empresas voltadas para a criação de valor, concluindo que é melhor investir nessas últimas.

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Muitos investidores presumem que economias que crescem rapidamente, como a China e a Índia, são um caminho certo para conseguir um maior retorno sobre as ações. Entretanto, dados históricos demonstram que isso não é verdade. Ao longo de períodos de 23, 42 e 100 anos, Estrada descobriu que não há correlação entre crescimento econômico e o retorno das ações.

Por que o senso comum nos diz outra coisa? O pesquisador destaca as três principais razões para essa discrepância.


Em primeiro lugar, empresas multinacionais recebem parcelas desproporcionais do retorno das ações. Frequentemente, as empresas que mais se beneficiam com o crescimento de determinado país são estrangeiras. Empresas como a Coca-Cola, a Nike e a Nokia obtêm uma porção substancial de seus lucros por meio da venda de produtos em economias que crescem rapidamente e os acionistas dessas e de outras multinacionais lucram com o crescimento.

Em segundo lugar, grandes empresas locais são expostas aos mercados internacionais. As maiores empresas são aquelas que têm mais importância no índice de ações do mercado local e costumam vender seus produtos e serviços em mercados internacionais, isolando-se dos ciclos do mercado local. Por essa razão, mudanças na economia regional nem sempre refletem na rentabilidade dessas empresas.

Em terceiro lugar, investidores costumam pagar caro demais pela possibilidade de crescimento. O fator mais importante talvez seja o preço que os investidores pagam pelo crescimento. Mais precisamente, a vontade dos investidores de participar das perspectivas de crescimento do país é tão grande que eles ignoram o preço que pagam para fazer isso. Os investidores se deixam enganar pelas possibilidades e aceitam participar do negócio a qualquer preço.

Uma vez que os investidores acreditam que economias de crescimento rápido fornecem ótimos retornos às ações, muitos também acreditam que o mesmo possa ser dito em relação ao crescimento corporativo. Porém, isso também é um erro.

Bons resultados corporativos podem significar retornos baixos a investidores, ao passo que desempenhos medíocres podem produzir retornos excepcionais. Basta ver o exemplo do desempenho do Google entre o início de 2006 e 30 de junho de 2010. O preço das ações passou de 414,90 a 445 dólares, crescendo 1,6 por cento ao ano. Uma vez que o Google não paga dividendos, isso é tudo que os investidores embolsaram. Curiosamente, o lucro por ação do Google durante o mesmo período passou de 5,02 a 23,03, crescendo 40,3 por cento ao ano. Em outras palavras, embora o faturamento do Google tenha aumentado mais de 40 por cento ao ano, o retorno embolsado pelos investidores foi de apenas 1,6 por cento ao ano.

Por que isso acontece? Ainda que o faturamento do Google tenha crescido muito rapidamente, a relação entre preço e faturamento – ou seja, sua valorização – caminhou na direção oposta, cancelando boa parte do impacto positivo do crescimento da lucratividade sobre o retorno. Em outras palavras, os investidores pagaram caro demais pelo crescimento.

Empresas voltadas para o crescimento são aquelas com grandes possibilidades de crescimento e, com frequência, são empresas glamorosas, pelas quais os investidores pagam altos preços. Por outro lado, empresas voltadas para a criação de valor são maduras, com possibilidades de crescimento moderado e frequentemente sem muita sorte no mercado, para as quais os investidores estão dispostos a fazer pagamentos mais modestos.

As evidências mostram claramente que, no longo prazo, o valor obtém melhores resultados que o crescimento, um fenômeno bem documentado que muitas pessoas conhecem como "efeito valor". Por exemplo, entre 1927 e 2011 o valor e o crescimento dos Estados Unidos deram aos investidores retornos anuais de 12,8 e 9,5 por cento, respectivamente. Além disso, apesar de seus retornos maiores, o investimento em valor não sofre com a volatilidade da economia.

Embora Estrada admita que seu estudo não tenha explorado exaustivamente os riscos relativos ao valor e ao crescimento, suas descobertas sugerem que os retornos sobre o valor não parecem ser uma compensação pela grande volatilidade, pelos maiores riscos de déficit e por betas maiores, ou seja, pela volatilidade relativa ao mercado.

Investir em valor não é nada fácil. Estrada afirma que podem existir riscos escondidos ou impossíveis de quantificar. Investidores podem descobrir que, por diversas razões, é muito mais fácil falar do que realmente investir em empresas em crise.

Não é fácil nadar contra a maré. Investir em empresas rechaçadas pelo mercado e deixar de lado as empresas amadas pelo setor é um caminho que poucas pessoas escolhem seguir. Por exemplo, quantas pessoas teriam a coragem de investir em serviços públicos ou em ferrovias, ao invés de ações na internet entre 1997 e 1999? Se o mercado está disposto a pagar muito dinheiro por determinadas empresas e pouco dinheiro por outras, muitos investidores acreditam que o mercado sabe algo que eles não sabem.

Embora o valor dê melhores resultados que o crescimento no longo prazo, Estrada reconhece que há períodos em que o contrário pode acontecer. Ainda assim, apenas os investidores que se mantêm fiéis ao valor durante altos e baixos podem obter os valores discutidos.

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