Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

O papa humilde 

Vaticano diz que escolha do próximo papa começará após 15 de março

Internacional|

Igreja Católica afirmou que novo papa sairá até a Páscoa
Igreja Católica afirmou que novo papa sairá até a Páscoa Igreja Católica afirmou que novo papa sairá até a Páscoa

O Papa Bento 16 é o último de um pequeno número de papas que renunciaram à Cátedra de São Pedro. O mais famoso deles – aquele cuja renúncia tinha todas as marcas de uma abdicação – foi Pietro da Morrone, o Papa Celestino 5, o santo eremita beneditino que renunciou em 1294 depois de apenas alguns meses, percebendo ter sido chamado para servir sua igreja através da oração e da penitência em vez da política amarga e de incríveis e intermináveis cerimônias públicas.

Foi uma decisão que Bento 16 honrou. Em julho de 2010, ele participou da celebração do oitavo centenário do nascimento de Celestino em Sulmona, Itália, e falou sobre a capacidade desse pontífice medieval de silêncio interior e da "experiência vívida da beleza da criação".

Veja os desafios que aguardam o novo papa

Legado de Bento 16 será marcado por sua renúncia

Publicidade

Conheça por dentro o palácio onde o papa mora no Vaticano

No ano anterior, visitando a mesma região após um terremoto devastador, o papa Bento 16 colocou o seu pálio – faixa estreita de lã com a qual ele foi investido em sua posse – sobre o caixão contendo os restos mortais de Celestino, e não o pegou de volta. Foi um importante prenúncio do momento em que ele também renunciaria e, como Celestino, enfrentaria o veredito incerto da história.

Publicidade

Não pode ter escapado à atenção de Bento 16 que, segundo uma interpretação tradicional (embora discutível) de "O Inferno" de Dante, Celestino é o personagem que Dante encontrou na entrada do inferno: "Eu vi e reconheci a sombra daquele que, por covardia, fez a grande rejeição". Qualquer um nessa função é passível de ser mal entendido.

Os principais entre os mal-entendidos do pontificado de Bento 16 são aqueles que cercam o rótulo inútil de "conservador". Como erudito, ele é astuto demais e, como clérigo, moderno demais para esse rótulo ter alguma serventia. Infelizmente, ainda ouvimos acusações de que ele retrocedeu nas reformas do Segundo Concílio do Vaticano, impedindo a renovação litúrgica que o concílio determinava e mantendo os leigos firmemente estabelecidos – uma impressão que não sobreviveria a uma leitura cuidadosa de seus documentos papais junto aos textos reais do concílio. De fato, na liderança de Bento 16, a celebração da Missa, "fonte e cume" da vida católica, começou a transmitir com mais fidelidade as reformas que o Segundo Concílio do Vaticano pretendia. A beleza está em evidência outra vez, e milhões de católicos pelo mundo estão abraçando essa mudança com gratidão.

Publicidade

Vaticano diz que escolha do próximo papa começará após 15 de março

Papa diz em audiência que renunciou pelo bem da Igreja

Papado de Bento 16 viu avanço de Islã e evangélicos

Para os intelectuais de muitos credos que o admiram, Bento 16 é um profundo pensador religioso na tradição agostiniana segundo a qual o anseio pela verdade é inato e universal e as várias disciplinas da filosofia, da teologia e das ciências naturais têm todas como objetivo final a união pessoal com a verdade. Com sua interpretação distintamente não fundamentalista do livro de Gênesis; seu tratamento sofisticado das tendências recentes de crítica bíblica (mais notavelmente, embora menos percebido, em seu livro "Escatologia: A Morte e a Vida Eterna"); seu papel na criação do catecismo católico moderno; e seus escritos papais sobre a fé, a razão e o amor (começando com sua primeira extraordinária encíclica "Deus É Amor"), o Papa Bento XVI abriu uma nova era no diálogo entre a religião e o racionalismo secular.

Seus erros, é claro, foram amplamente registrados. Receberam menos atenção os seus esforços de reparação. O discurso que ele proferiu em 2006 na Universidade de Regensburg foi um desastre de relações públicas: nos perguntamos como, no meio de uma reflexão profundamente cuidadosa sobre a fé e a razão, ele não conseguiu prever o dano que causaria ao citar, sem avaliação, os comentários islamofóbicos de um imperador Bizantino do século 14. A conclusão do debate que seguiu, porém, foi uma melhoria nas relações entre os católicos e muçulmanos, pela qual Bento 16 merece algum mérito. Sua crítica das versões da Nova Era do budismo como narcisista foi mal colocada, e imediatamente mal entendida; no entanto, mesmo essa gafe forneceu uma ocasião para um diálogo frutífero.

Ele estava disposto a admitir que preservativos poderiam ter valor na prevenção da transmissão do HIV na África. E em relação à bioética e a ética sexual, ele procurou esclarecer a lógica consistente do ensinamento católico, de defender a dignidade da pessoa humana, e a continuar a versão do feminismo que associamos a João Paulo II.

A declaração de Bento 16 de que está se aposentando – feita no dia da festa de Nossa Senhora de Lourdes, no Dia Mundial dos Doentes, no limiar de uma quaresma estendida – foi seu "Cântico de Simeão", seu "Eu Quero Diminuir", sua convocação final de uma igreja cansada a enxergar além da política e do cálculo do poder, e a recuperar suas fontes reais de renovação. Mesmo o grupo "espiritual mas não religioso" pode se intrigar com um papa que, ao abdicar da sua posição, admite não apenas a sua fragilidade mas também a do trono no qual ele se assenta. O que vejo no Papa Bento 16 não é a sombra de quem, por covardia, fez a grande rejeição, e sim a essência de alguém que, através da humildade e sabedoria, fez a grande aceitação.

(Carol Zaleski é professora de religiões mundiais no Smith College.)

Veja a galeria do dia

O que acontece no mundo passa por aqui

Moda, esportes, política, TV: as notícias mais quentes do dia

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.