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Presidente da Turquia pode ter forjado golpe militar, afirmam especialistas

Erdogan teria "oportunidade para ele se livrar de focos de descontentamento" com seu governo

Internacional|Do R7*

Presidente defendeu a pena de morte contra os golpistas, afirmando ser a “opinião do povo"
Presidente defendeu a pena de morte contra os golpistas, afirmando ser a “opinião do povo" Presidente defendeu a pena de morte contra os golpistas, afirmando ser a “opinião do povo"

A tentativa de golpe na Turquia na noite de sexta-feira (15) pegou muitos analistas internacionais de surpresa e provocou o caos nas ruas do país. Após horas de instabilidade — nas quais setores do exército turco fecharam importantes vias da capital, Ancara, e de Istambul — o governo do presidente eleito Recep Tayyip Erdogan afirmou ter retomado o controle da nação.

Depois do incidente, o governo turco acusou o clérigo Fethullah Gulen — que atualmente está exilado nos Estados Unidos — de ter planejado o golpe. No entanto, Gulen afirma que o responsável pelo levante teria sido o próprio presidente Erdogan — uma hipótese que vem ganhando força nas redes sociais.

”Evidentemente, houve uma tentativa de golpe”, analisa o coordenador do NEOM (Núcleo de Estudos do Oriente Médio) da UFF (Universidade Federal Fluminense), Paulo Hilu. No entanto, segundo o especialista, não é possível afirmar categoricamente se o levante foi forjado ou não.

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— É uma troca de acusações. O Erdogan desde o início acusou o Gulen. A questão é que, obviamente, o fracasso do golpe beneficia o Erdogan, porque dá a oportunidade para ele se livrar de focos de descontentamento com seu governo, tanto dentro do exército quanto do judiciário.

Erdogan é acusado de impor uma “islamização forçada” ao país
Erdogan é acusado de impor uma “islamização forçada” ao país Erdogan é acusado de impor uma “islamização forçada” ao país

Desde a tentativa fracassada de golpe, 30 governadores e 7.899 policiais foram detidos na Turquia, segundo o Ministério do Interior do país. Na segunda-feira (18), o presidente Tayyip Erdogan defendeu a pena de morte contra os golpistas, afirmando que “o povo tem a opinião de que esses terroristas deveriam ser mortos”. Ele também pediu a extradição do clérigo Fethullah Gulen dos Estados Unidos e anunciou que vai “limpar” o exército turco.

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Todas essas medidas, somadas à denúncia de um membro da União Europeia de que os nomes de quase 3.000 juízes e oficiais militares presos após o golpe fracassado já constavam de uma lista preparada pelo governo antes do levante, reforçam a teoria de que as autoridades do país poderiam ter conhecimento prévio da trama.

Também na segunda-feira, os Estados Unidos alertaram o governo turco para não “ir longe demais” ao levar à justiça os responsáveis pela tentativa de golpe.

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Tradição

Fundado em 1922 por Mustafa Kemal Ataturk, o estado moderno da Turquia tem como modelo o secularismo (é um estado laico) e o nacionalismo turco. Ao longo dos anos, os seguidores dessa corrente passaram a ser denominados kemalistas — cujos maiores defensores se concentraram no exército turco.

Nas últimas décadas, o exército foi responsável por quatro golpes de estado na Turquia — em 1960, 1971, 1980 e 1997 —, justificados pela suposta defesa dos valores kemalistas. Essa motivação teria sido a mesma que levou os setores militares a se levantarem contra Erdogan e tentar conquistar o poder à força na noite de sexta-feira.

No poder desde 2003 — inicialmente como primeiro-ministro e, a partir de 2014, como presidente —, Erdogan é membro do partido AKP, e vem, ao longo dos anos, sendo acusado por seus inimigos políticos de impor uma “islamização forçada” ao país, o que contraria a tradição secular do estado moderno da Turquia.

Seu compromisso com a democracia também é colocado em dúvida, tendo seu governo perseguido e prendido jornalistas arbitrariamente e impondo a censura aos órgãos de comunicação do país e até mesmo às redes sociais. Ele também já comparou a democracia com “um ônibus que você pega até seu destino, e depois desce.

Cientista político e professor de Relações Internacionais da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Bruno Lima Rocha também desconfia da informação oficial divulgada pelo governo turco a respeito do golpe militar.

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Ele lembra que Erdogan já foi acusado de ter forjado atentados contra o próprio povo, e vem usando a retórica da segurança nacional para perseguir as minorias do país, como os curdos no sul. Além disso, seu governo foi acusado pela Rússia de favorecer o grupo extremista Estado Islâmico na Síria — país que faz fronteira com a Turquia.

— A conspiração dos militares para tomar o poder pode ter existido, mas com requintes de manipulação. Aposto que se houve autogolpe, poucos oficiais sabiam que se tratava de uma farsa. Eu entendo que existe tal possibilidade, assim como algo semelhante pode ter ocorrido com o atentado ao aeroporto de Istambul.

De acordo com Rocha, com a fracassada tentativa de golpe no país, o presidente Erdogan deverá endurecer ainda mais seu governo e, ao mesmo tempo, avançar “de forma paulatina” para a islamização da Turquia.

*Por Luis Jourdain

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