Taleban do Paquistão usa violência para decidir as eleições
Fazer campanha se tornou um jogo perigoso no noroeste do país
Internacional|Do R7
Quando Shahid Khan começou a falar, seus seguranças subiram no telhado de uma escola e observaram as colinas ao redor com lanternas, em busca de sinais de um possível ataque.
Abaixo, Khan, um dos candidatos à assembleia provincial falava a eleitores em potencial – agricultores pobres e comerciantes do vilarejo, reunidos em torno da escola, onde ouviam com atenção a suas promessas. Então, depois de comer avidamente os lanches oferecidos pelos anfitriões, Khan deixou rapidamente o local.
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"Dizem que não é seguro por aqui", afirmou Khan, depois de pular para dentro de um carro que o esperava, acompanhado de um guarda-costas. "É melhor irmos embora."
Fazer campanha se tornou um jogo perigoso no noroeste do Paquistão, onde uma série de ataques organizados pelo Taleban contra o principal partido secular do país está remodelando o futuro da democracia nas eleições parlamentares agendadas para 11 de maio.
Nos últimos dias, militantes realizaram quatro ataques a bomba e um ataque com granada contra o Partido Nacional Awami, de Khan, que governa a província de Khyber-Pakhtunkhwa desde 2008 e cuja ideologia secular é repugnante para os planos talebans de imposição do califado islâmico no Paquistão.
No pior ataque, um homem-bomba matou 19 pessoas e feriu dezenas no centro de Peshawar, quase matando o ex-ministro de vias férreas, Ghulam Ahmed Bilour.
O Taleban alertou eleitores a ficarem longe de comícios organizados pelos três principais partidos seculares – o partido Awami, o Partido do Povo Paquistanês do presidente Asif Ali Zardari, e o Movimento Muttahida Qaumi, com sede em Karachi.
Contudo, até o momento eles concentraram os ataques contra o partido Awami, restringindo as atividades políticas dos candidatos com o objetivo de favorecer partidos mais conservadores, afirmam analistas.
"A campanha mais eficaz é a do Taleban", afirmou Asad Munir, soldado aposentado nascido no noroeste do país e membro da Diretoria de Inteligência Interna. "Eles aprisionaram o Estado paquistanês e agora fazem o que querem."
Essa eleição não seria fácil para o partido Awami, que já havia atraído críticas pela incapacidade de governar e por sua corrupção – deficiências que analistas e membros do partido afirmam que serão cruciais para o mau desempenho do partido nas eleições.
Porém, o Taleban parece determinado a acabar com a capacidade de competir do partido.
Nos últimos cinco anos, militantes mataram 700 membros e apoiadores do partido, incluindo dois legisladores e um ministro, segundo as autoridades – o maior número de mortos entre qualquer partido do Paquistão.
Em Nowshera, uma cidadezinha a 40 quilômetros a leste de Peshawar, Shahid Khan realiza comícios pequenos, geralmente durante a noite e sem chamar muita atenção. Ele envia equipes de batedores para checar se o lugar é perigoso de antemão. Além disso, ele anda sempre cercado de um contingente de guardas armados e policiais com armas pesadas.
"Toda vez que minha equipe sai de casa, não rezamos apenas pelo sucesso das eleições – rezamos por nossas vidas", afirmou enquanto passava por uma rua de terra batida com casas de muros altos.
Pacífico no passado, o distrito de Nowshera, que conta com uma grande presença militar, tornou-se cada vez mais afetado pela violência taleban, sofrendo 26 ataques em 2012 e cinco até agora este ano, de acordo com a polícia.
Em março, a explosão de um carro-bomba em um campo de refugiados matou 16 pessoas e feriu outras 31. Em fevereiro, militantes atacaram um posto policial e lançaram granadas em um veículo policial em um estrada movimentada, matando um policial. Em algumas cidades, soldados talebans forçaram o fechamento de lojas que vendiam filmes.
Conforme a noite avançava e o político ia de comício em comício, realizados em quintais e praças de pequenos vilarejos, Shahid Khan apontou para uma escola que havia sido atacada a bomba no ano passado pelo Taleban. Ele ajudou a pagar pela reconstrução. "Hoje em dia, ninguém sabe o que pode acontecer", afirmou.
O problema foi exacerbado pela indecisão dos políticos paquistaneses em relação a como lidar com o Taleban. O principal concorrente de Shahid Khan é um candidato do Paquistão Tehreek-e-Insaf, o partido da antiga estrela do críquete Imran Khan. Com seu apelo jovem e glamoroso, além do posicionamento público contra as políticas dos Estados Unidos, especialmente os ataques de drones, o partido de Imran Khan deve ter um bom desempenho em Khyber-Pakhtunkhwa.
Contudo, críticos acusam Imran Khan de não agir contra o Taleban, uma vez que defende o diálogo com os membros do grupo. Em uma entrevista para a televisão em abril, Imran Khan afirmou que o Taleban estava bombardeando seus oponentes "porque eles apoiavam a guerra americana".
Da mesma maneira, o líder da oposição Nawaz Sharif, favorito na campanha para o cargo de primeiro-ministro, também foi comedido nas críticas à militância.
"Se Imran Khan ou Nawaz Sharif creem que isso só está acontecendo aos outros, estão enganados", afirmou Munir, o militar aposentado, referindo-se aos ataques a candidatos seculares. "Se eles não se manifestarem agora, sua hora vai chegar mais tarde."
Muitas vezes, a liderança do partido Awami prejudicou a própria causa. Bilour, o ex-ministro que sobreviveu ao ataque a bomba em Peshawar, caiu nas graças do Taleban no ano passado ao oferecer uma recompensa de R$ 200 mil (100 mil dólares) para qualquer pessoa que matasse um obscuro cineasta americano que lançou um filme que insultava o profeta Maomé.
A oferta foi feita um dia após a realização de um protesto contra o filme em Peshawar, que causou a destruição de diversas salas de cinema, incluindo uma que pertencia a sua família. Contudo, embora o Taleban tenha aceitado a oferta de Bilour, a proteção oferecida pelo grupo foi pequena.
Em dezembro, os militantes mataram seu irmão, o político Bashir Bilour; após o ataque recente, os militantes afirmaram ter intenção de matar o sobrinho de Bilour, que está concorrendo à eleição no distrito político do pai.
Após o comício noturno do candidato Awami em Nowshera, Shahid Khan chegou em casa à meia-noite, finalmente relaxando com um cigarro e uma xícara de chá. Essa eleição não prometia ser fácil, admitiu – os eleitores perderam a confiança nos políticos em consequência da corrupção, e seu oponente, um veterano na política, não seria fácil de vencer.
Contudo, desde que o Taleban entrou na disputa, suas chances ficaram ainda menores. "Quero fazer a diferença", afirmou. "Mas, desse jeito, estamos de mãos atadas."
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