Goleiro Bruno diz que quer voltar aos campos e pede perdão ao presidente do Tombense
Em entrevista à RecordTV, o ex-jogador contou que pretende ter o filho Bruninho por perto
Minas Gerais|Do R7 com RecordTV Minas
Seis anos e sete meses de detenção contribuíram para que o ex-goleiro do flamengo Bruno Fernandes aprendesse que tudo na vida tem um momento certo. Esse é o lema que o jogador tem aplicado em diversos aspectos da vida dele, após deixar o presídio, graças a um habeas corpos concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal). Há um desses momentos que ele aguarda acontecer e garante ser o mais difícil: encontrar o filho Bruninho, fruto da relação com a modelo Eliza Samudio. “Eu vou ter que explicar para ele tudo o que aconteceu”.
Aos poucos, novos desafios ganham o devido espaço na vida do jogador que, em 2013, foi condenado a 22 anos e três meses, pela morte de Eliza, em 2010. Fernandes concedeu uma entrevista ao apresentador Eduardo Costa, da RecordTV Minas, após deixar a Apac (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado) de Santa Luzia, na última sexta-feira (24). Além de contar sobre como tem sido a vida desde a condenação e falar das expectativas para o futuro, o goleiro contou que a entrevista era o momento certo de ele enviar um pedido de perdão a alguém que o ajudou muito: Lane Gaviolle, presidente do Tombense.
— Eu estou feliz por ter sido colocado em liberdade. Mas ao mesmo tempo eu não estou feliz pelo fato que aconteceu no passado. Eu fico feliz por estar solto e, quem sabe, correr atrás do tempo perdido e seguir em frente.
Voltar à vida normal e sentir 100% inserido na sociedade são alguns dos problemas enfrentados por quem já passou dias trancado em uma cela. Fernandes se mostra consciente do desafio que será estar nas ruas novamente, principalmente, em um tempo em que as pessoas têm, em qualquer lugar, acesso a uma câmera de celular, compartilhando fotos e assuntos que consideram ser importante.
— Se eu falar para você que eu estou pronto, eu vou estar mentindo, mas a gente vem se preparando. Por enquanto, quanto mais eu ficar em casa, tranquilo com a minha esposa para a gente colocar a nossa vida em ordem, é melhor.
Vida em cárcere
Em setembro de 2015, Fernandes foi transferido para a Apac de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Nessas penitenciárias modelos, enquanto cumprem a pena, os detentos podem estudar e trabalhar. Eles também são responsáveis pela manutenção do espaço e o trabalho do goleiro era de fazer a guarda da unidade. Porém, antes de chegar à Apac, Fernandes passou por dois presídios comuns em Minas Gerais. A Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, também na Grande BH, e na penitenciária de Segurança Máxima, em Francisco Sá, no norte de Minas Gerais. Ele contou que essas foram as piores experiências da vida dele.
— Nelson Hungria. Eu acho que um dos piores momentos da minha vida foram lá. Eu acho que o sistema prisional brasileiro hoje está falido. Se paga muito para não recuperar ninguém. A Nelson Hungria é um destes presídios.
Na unidade prisional de Francisco Sá, o goleiro ficou três meses. Ele contou que, quando esteve lá, chegou a receber as refeições em uma pá.
— É outro lugar que é muito desumano. Para eles passarem a alimentação, é como se eles tivessem passando para um animal selvagem. Os agentes penitenciários passam com a alimentação, colocam em uma pá e estendem para você pegar. Eu percebi que tinha chegado no fundo do poço.
Em meio a todo sofrimento enfrentado com a condenação e pela repercussão da morte de Eliza Samudio, tirar a própria vida foi uma das possibilidades que passou pela cabeça do jogador.
— Pela pressão, tanto dentro do sistema prisional, quanto de tudo que estava acontecendo naquele momento, eu achava que tirando a minha vida, eu resolveria os meus problemas. Mas como tirar a minha vida tendo, ainda, pessoas que acreditavam e confiavam em mim?
Família e amigos
Algumas das pessoas que deram suporte a ele foram a mãe e a mulher Ingrid Calheiros. O rapaz, de 32 anos, reconhece que o alicerce para uma vida bem-sucedida é a família e a fé.
— A partir do momento em você tem Deus na sua casa, as outras coisas vão acontecendo, automaticamente.
O jogador também recebeu apoio dos amigos, embora não todos, e, inclusive, de quem ele não conhecia. Um desses “desconhecidos” foi o goleiro Fábio, do Cruzeiro, que fez uma visita a ele na prisão.
— Mas as pessoas que eu gostaria, como o grupo de 2009, eu queria ter recebido, no mínimo uma carta. Eu não quero nada de nenhum deles, mas independente do que tivesse acontecido, eu mandaria uma carta. Eu ia ser mais radical e ia lá. Eu ia prestar solidariedade. Faltou isso.
Durante a entrevista, Fernandes se declarou apaixonado e agradecido à Ingrid. Ela participou da conversa e contou que sentiu que precisava mostrar à verdeira personalidade do Bruno Fernandes, que apenas ela conhecia.
— Eu conheço um Bruno que ninguém conhecia e que hoje ele está mostrando. Foi muito aprendizado e muito amadurecimento. Se precisasse de passar por isso de novo, eu passaria para ter o marido que eu tenho hoje.
Entenda o que levou à liberação do goleiro Bruno
Futuro
A carreira pós prisão é um dos assuntos que ainda despertam a curiosidade de muitas pessoas. Sobre isso, Fernandes garantiu que quer voltar aos campos de futebol e que já recebeu algumas propostas que ainda precisam ser analisadas.
— Se Deus hoje tocou no coração do ministro que me colocou em liberdade, quando Deus abre uma porta, ele abre por completo e não pela metade. Eu vou voltar. Não vou desistir dos meus sonhos.
O primeiro final de semana em liberdade, após seis anos de detenção, Fernandes passou com as filhas. Ele compara o momento com a vitória de um importante campeonato esportivo.
— Isso [ser solto] para mim foi a mesma coisa que ganhar um campeonato, um título. Eu acho que a gente tem que comemorar com as pessoas que a gente ama.
Sobre o filho Bruninho, fruto da relação com Eliza Samudio, Fernandes declarou que é o maior desafio que ele deve enfrentar. Mesmo assim, ele garante que vai lutar para tê-lo por perto
— O destino vai nos colocar cara a cara. Eu ter que explicar para ele tudo o que aconteceu é o maior desafio da minha vida. No momento oportuno, trazer ele para perto de mim é o que eu pretendo fazer. Eu acho que quem mais sofreu com toda a história foi ele.
Corpo de Eliza
Até hoje, os restos mortais da modelo Eliza Samudio não foram encontrados e o foi questionado sobre onde eles estariam.
— Eu não saí de casa. Eu não sei. A gente fica chateado com a situação. É muita cobrança em cima disso, mas sinceramente eu não sei. Eu poderia dizer que eu não quero comentar, mas eu não sei. Eu já disse isso [que não determinou que alguém fizesse alguma coisa com Eliza] no juri. Eu nunca mandei matar ninguém.
Relembre momentos marcantes do caso Eliza Samudio
Pedido de desculpas
“Tudo tem o momento certo”, assim pensa o goleiro que ainda aguarda o julgamento dos recursos apresentados à condenação dele. Durante a entrevista, chegou o momento certo que ele aguardava para pedir desculpas a uma pessoa que, segundo Fernandes, foi importante na vida dele: Lane Gaviolle, presidente do Tombense.
— Em outras oportunidades de entrevista, eu pensei em pedi perdão para ele, mas eu acho que tudo tem o momento certo e eu acho que agora chegou essa hora. Talvez se eu tivesse dado mais ouvido a ele, não digo que não teria caído nessa situação, mas, com certeza, eu teria ido muito mais além de onde eu estava. Então Lane, me perdoa. Sobre tudo que aconteceu, eu gostaria de te pedir perdão.
Veja mais: