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Caso Amarildo: ex-comandante de UPP pressionava PMs a dar a mesma versão, diz delegado

Segundo Rivaldo Barbosa, réus agiram de forma "ardilosa" para responsabilizar terceiros

Rio de Janeiro|Do R7

Anderson Dias e Elizabeth Gomes, respectivamente, filho e viúva de Amarildo Dias, acompanham audiência no Rio
Anderson Dias e Elizabeth Gomes, respectivamente, filho e viúva de Amarildo Dias, acompanham audiência no Rio

O delegado titular da Delegacia de Homicídios, Rivaldo Barbosa, abriu os depoimentos na primeira audiência de instrução e julgamento dos 25 PMs acusados de tortura e do desaparecimento do corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, na favela da Rocinha. Ele disse que os réus tentaram responsabilizar pelo crime pessoas não envolvidas no desaparecimento. O depoimento é fechado à imprensa e as declarações são repassadas aos jornalistas por meio da assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

— A ação dos policiais foi manobra ardilosa para imputar a terceiros a tortura contra Amarildo.

Rivaldo afirmou também que os depoimentos dos PMs levantaram suspeita porque todos apresentavam a mesma versão.

— Os depoimentos dos PMs eram incongruentes porque todos davam a mesma versão. Nas escutas, a polícia percebeu que o major [Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha] pressionava os PMs a dar a mesma versão.


Rivaldo ainda revelou que o major demorava para liberar seus então subordinados a dar depoimentos à Polícia Civil. Por isso, a os investigadores tiveram de recorrer à CGU da PM (Coordenadoria Geral Unificada da Polícia Militar).

Viúva deve ser ouvida


Começou por volta das 14h40 desta quinta a primeira audiência do caso Amarildo. A 35ª Vara Criminal da Capital realiza audiência de instrução e julgamento dos 25 PMs acusados de tortura e do desaparecimento do corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, na favela da Rocinha. Estão previstas para esta quinta as oitivas de 20 testemunhas convocadas pela acusação, entre elas, a da viúva de Amarildo, Elizabeth Gomes da Silva. Das 20 testemunhas, 19 são delegados e inspetores da Polícia Civil.

Os policiais militares foram denunciados pela promotoria pelos crimes de tortura com resultado morte, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha. Os 25 réus estão presentes na sessão — 13 estão presos e 12 aguardam a sentença em liberdade. Anderson Dias, filho de Amarildo, acompanha o julgamento.


Entenda o caso

Amarildo desapareceu no dia 14 de julho de 2013 após ser levado por policiais militares para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha para averiguação durante a operação Paz Armada, da Polícia Militar. Após o desaparecimento, familiares e vizinhos fizeram protestos que chegaram a fechar o túnel Zuzu Angel. Todos se perguntavam: Onde está o Amarildo?

O caso ganhou repercussão e entrou na pauta dos protestos que tomaram a cidade no segundo semestre do ano passado. Em outubro, 25 PMs da UPP da Rocinha foram presos sob acusação de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha. Entre eles, o major Edson Santos, comandante da unidade.

De acordo com o MP, o ajudante de pedreiro foi torturado por cerca de 40 minutos em um pequeno depósito atrás do contêiner da UPP da Rocinha. Além de receber choques elétricos, Amarildo teria sido afogado em um balde e sufocado com saco plástico na boca e na cabeça.

Segundo a promotora Carmem Elisa Bastos, quatro PMs teriam sido efetivamente os torturadores de Amarildo: tenente Luiz Medeiros, o sargento Gonçalves e os soldados Maia e Vital. De acordo com depoimentos, 11 policiais receberam ordem do tenente para permanecer dentro do contêiner e puderam ouvir as agressões. Outros 12 vigiavam o local.

Os policiais ouvidos também disseram que o major Edson Santos, hoje preso no complexo de Bangu, ficou em seu escritório, no andar de cima do contêiner, em frente ao local da tortura. As testemunhas também disseram ter ouvido o pedido para trazer uma capa de moto para cobrir o corpo, retirado do depósito pelo telhado em frente à mata.

Segundo a DH, que ouviu 133 pessoas e obteve na Justiça autorização para grampear os celulares dos policiais acusados, um informante dos PMs, que está agora sob o Programa de Proteção de Testemunhas, disse a eles que Amarildo teria a chave de um paiol. O ajudante de pedreiro teria, então, sido torturado para que indicasse a localização desse depósito de armas. A delegada Elen Souto disse que, entre as técnicas usadas, estavam asfixia com saco plástico na cabeça, choques elétricos no corpo molhado e ingestão de cera líquida.

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