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Caso Amarildo: PM finge ser traficante e ex-comandante de UPP combina depoimento, revelam escutas

Justiça do Rio autorizou que celulares dos dez PMs acusados fossem grampeados

Rio de Janeiro|Do R7, com Fala Brasil

Policiais da DH fizeram em setembro passado reprodução simulada do caso com as versões dos PMs envolvidos
Policiais da DH fizeram em setembro passado reprodução simulada do caso com as versões dos PMs envolvidos Policiais da DH fizeram em setembro passado reprodução simulada do caso com as versões dos PMs envolvidos

Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça do Rio ajudaram a Divisão de Homicídios nas investigações que levaram à prisão preventiva de dez PMs acusados de torturar, matar e ocultar o corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias em 14 de julho. Os dez agentes tiveram dos telefones celulares grampeados e monitorados.

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Uma escuta revelou conversa de um PM com a namorada três dias após a reprodução simulada na Rocinha, que refez as versões dos PMs da noite em que Amarildo desapareceu. Segundo o delegado Rivaldo Barbosa, o acusado disse à mulher: "Eles já sabem o que aconteceu, só não têm como provar".

Para atrapalhar as investigações, um dos PMs tentou se passar por um traficante conhecido como Catatau. Segundo a polícia, o acusado telefonou para um celular apreendido que vinha sendo monitorado e assumiu a autoria da morte de Amarildo, como se fosse Catatau. Entretanto, segundo a delegada Elen Souto, ficou provado que a voz não era do traficante.

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As gravações das conversas dos acusados ainda mostraram, segundo a polícia, que eles combinavam versões sobre o crime na tentativa de não cair em contradição diante dos investigadores. Em uma das delas, o major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, liga para um dos PMs acusados, segundo Barbosa.

— O major Edson tenta combinar depoimentos com o soldado Vital. Quando o soldado Vital sai da DH, ele [Edson] liga para o soldado Vital e pergunta: 'Vital, você disse na DH que foi lá embaixo só para buscar o Amarildo?'

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Tiveram a prisão preventiva decretada pela juíza Daniella Alvarez Prado, da 35ª Vara Criminal do Rio, o major Edson Raimundo dos Santos; o tenente Luiz Felipe de Medeiros, ex-subcomandante da UPP; o sargento Jairo da Conceição Ribas; e os soldados Douglas Roberto Vital Machado, Marlon Campos Reis, Jorge Luiz Gonçalves Coelho, Victor Vinicius Pereira da Silva, Anderson Cesar Soares Maia, Wellington Tavares da Silva, e Fabio Brasil da Rocha Graça.

A magistrada também recebeu a denúncia do Ministério Público e abriu processo penal contra os policiais pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Eles devem aguardar julgamento detidos no BEP (Batalhão Especial Prisional), em Benfica (zona norte).

Marcos Espínola, advogado dos PMs, procurou minimizar as investigações e negou envolvimento dos clientes no crime.

— Não há provas precisas que os policiais militares tenham participado de qualquer evento criminoso. Na realidade, o que há são indícios. A denúncia do MP é vaga, não diz a participação de cada no evento.

Amarildo: 23ª vítima da tortura

Os investigadores da DH ouviram 133 pessoas durante o inquérito. Segundo a DH, o crime foi uma tentativa de reverter o fracasso da Operação Paz Armada na comunidade, que tinha como objetivo prender traficantes e apreender armas e drogas.

Um informante dos PMs, que está agora sob o Programa de Proteção de Testemunhas, disse a eles que Amarildo tinha a chave de um paiol. Como a ação policial não havia feito apreensões, Amarildo foi torturado pelos PMs para que indicasse a localização desse depósito de armas, de acordo com as investigações.

Depoimentos ao Ministério Público apontam que outras 22 pessoas foram torturadas por agentes da UPP da Rocinha. Esse documento foi anexado ao inquérito policial encaminhado à Justiça. Segundo essas testemunhas, as sessões de tortura aconteciam no Parque Ecológico da Rocinha, onde fica a sede da UPP. Elas disseram que os PMs usavam técnicas de sufocamento e choques elétricos para encontrar drogas e armas. A delegada Elen Souto disse que, entre as técnicas, estavam o uso de saco plástico na cabeça, choques elétricos no corpo molhado e ingestão de cera líquida.

Segundo ela, os PMs acusados partiram da sede da UPP com a missão de sequestrar Amarildo e levá-lo ao encontro do comando. Ele foi levado para a sede da UPP da Rocinha no dia 14 de julho. Legalmente, ele teria de ser conduzido para uma delegacia — essa foi a primeira das muitas irregularidades verificadas.

Amarildo estava em um bar com outras quatro pessoas. Entretanto, só ele foi abordado e, apesar de ter apresentado documento de identificação, foi detido, conforme mostrou câmera de segurança do local. O delegado Rivaldo Barbosa disse que, na ocasião, ele foi chamado pelo apelido de Boi.

— Uma testemunha ouviu o soldado Vital falando para o Amarildo: 'Boi, perdeu. Chegou a tua hora'.

Na versão dos PMs, Amarildo teria sido liberado após a suposta averiguação e seguido para casa por uma escadaria. Mas, uma câmera que funciona no local não confirma a versão.

Assista à reportagem:

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