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CDD: DH apura se chacina foi causada por confrontos com PMs ou briga de facção; famílias falam em execução

Sete homens achados mortos foram identificados e alguns têm passagens por tráfico

Rio de Janeiro|Do R7

Viaturas entram na Cidade de Deus onde corpos foram encontrados
Viaturas entram na Cidade de Deus onde corpos foram encontrados Viaturas entram na Cidade de Deus onde corpos foram encontrados

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga se os sete homens encontrados neste domingo (20) em área de mata na Cidade de Deus, zona oeste, foram mortos em decorrência de uma briga de facção ou se morreram em confronto com policiais. Já familiares das vítimas falam em execução. Segundo Fábio Cardoso, delegado titular da DH (Delegacia de Homicídios), todos já foram identificados e alguns tinham passagem pela polícia por tráfico de drogas.

O delegado informou que parentes e amigos dos suspeitos já foram ouvidos. Cardoso disse que analisa se a motivação das mortes tem relação com o confronto com PMs no sábado (19), se foi algum conflito interno dentro da comunidade ou alguma tentativa de invasão de facções rivais na Cidade de Deus.

— Estamos avaliando todas as hipóteses possíveis. No dia anterior aconteceu um confronto muito forte da Polícia Militar com traficantes e marginais da Cidade de Deus. Esses policiais foram repelidos com muitos tiros por marginais que estavam fortemente armados. Então vamos verificar se essas mortes foram decorrentes desse confronto.

Os sete homens mortos identificados pela Polícia Civil tiveram os nomes divulgados neta segunda-feira (21). São eles: Leonardo Camilo da Silva, de 30 anos; Rogério Alberto de Carvalho Júnior, de 34; Marlon César Jesus de Araújo, de 22; Robert Souza dos Anjos, de 24, Renan da Silva Monteiro, de 20; Leonardo Martins da Silva Júnior, de 22 anos; e um adolescente de 17 anos.

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As famílias dizem que os rapazes já haviam se rendido, mas teriam sido executados. Alguns deles teriam sido atingidos por tiros na nuca. A polícia também não descarta a possibilidade de haver outros corpos que ainda não foram encontrados. O delegado disse que, caso alguém tenha informações sobre onde esses corpos possam estar, deve avisar à DH. 

As mortes teriam ocorrido durante confrontos em operação policial que começou na noite de sábado (19)após a queda do helicóptero da Polícia Militar, que deixou quatro agentes mortos. Depois da queda da aeronave, a cúpula da Segurança decidiu ocupar a comunidade por tempo indeterminado.

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Moradores relataram intenso tiroteio na comunidade Nova Holanda na manhã desta segunda. O COE (Comando de Operações Especiais) fez uma operação no Complexo da Maré, zona norte. Segundo informações preliminares, traficantes da Cidade de Deus estariam em algumas comunidades do conjunto, que são chefiadas pela mesma facção criminosa. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 14 mil estudantes ficaram sem aula na região da Maré e da Cidade de Deus

Revolta de familiares

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Após a madrugada de confrontos entre policiais e traficantes na Cidade de Deus, moradores da comunidade amanheceram no domingo (20) procurando familiares desaparecidos. O pastor Leonardo Martins da Silva, de 45 anos, descobriu logo cedo que o filho, Leonardo Junior, de 22, estava entre as vítimas.

"Minha revolta não é pela morte, porque eu sei que ele fazia uma coisa errada e por isso estava sujeito a morrer. É pela forma como aconteceu: atiraram pelas costas, quando ele já tinha se rendido. Isso está errado, e agora não deixam nem o rabecão entrar para recolher os corpos. Eu pago impostos, sou cidadão, tenho direito pelo menos que meu filho seja recolhido de forma decente", afirmou à reportagem, enquanto mostrava a carteira de trabalho do filho, recém-confeccionada e sem nenhum registro. "Ele queria mudar, eu pedia isso, mas não deu tempo."

Ainda com as mãos cheias de terra por ter retirado o corpo do filho de um brejo, o pastor foi pedir aos PMs que agilizassem a chegada da perícia, o que só aconteceu duas horas depois.

A declaração de óbito de Leonardo Júnior mostra que ele teve ferimentos por objeto "perfuro cortante". Para o pai dele, não há dúvida de que o filho foi executado. "É execução. Ele não tinha apenas ferimento à bala. Ele foi esfaqueado", afirmou.

A madrasta dele reagiu inconformada. "Eu não estou aqui para defender criminoso. Ele era traficante. Mas o policial se formou para fazer o bem. Por que não prenderam?", indagou Leila Martins da Silva, de 50 anos.

O pai de Leonardo contesta a hipótese levantada anteriormente pelo delegado Fábio Cardoso de que os jovens teriam sido mortos por milicianos da favela Gardênia Azul. "O último confronto foi na sexta-feira. Meu filho foi morto na madrugada de domingo, na mata. O Bope estava na mata", afirmou.

Enquanto as famílias dos mortos estavam no Instituto Médico Legal, chegou a informação de que a polícia havia entrado na casa de uma delas e revistado o imóvel. O grupo deixou o IML às pressas.

Familiares de outras vítimas preferiram não falar. Quando a perícia chegou e tirou os lençóis que cobriam os corpos, os repórteres fotográficos foram pressionados a sair do local.

Um vídeo que circulou pelas redes sociais mostra uma mulher pedindo que PMs permitam sua entrada em uma área de mangue para procurar o filho.

"Meu filho está aqui dentro, eu tenho de procurar", grita. O policial diz que está sem comunicação com outros PMs e por isso seria arriscado permitir a entrada. "Eu vou entrar. Meu filho está aí dentro do mato. Morto, morto! O sangue é meu. Eu sou mãe", repetia a mulher.

Anistia condena política de segurança pública do RJ

A Anistia Internacional divulgou nota condenando a política de segurança pública no Estado do Rio. Segundo o comunicado, o governo tem falhado em proteger a vida tanto dos moradores quanto dos agentes de segurança pública.

"As operações policiais no Rio seguem um padrão de alta letalidade, deixando centenas de pessoas mortas todos os anos, inclusive policiais no exercício de suas funções. São operações altamente militarizadas, que seguem uma lógica de guerra, que enxerga as áreas de favelas e periferias como territórios de exceção de direitos e que resultam em inúmeros outros abusos além das execuções", diz a nota da organização não governamental.

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