Citada em relatório de delegado, mulher de Amarildo nega envolvimento com o tráfico da Rocinha
Segundo ex-delegado da 15ª DP, Elizabete e o pedreiro colaboraram com criminosos
Rio de Janeiro|Do R7, com Agência Brasil
A mulher do pedreiro Amarildo, Elizabete Gomes da Silva, disse que todas as acusações de envolvimento dela e do marido com o tráfico de drogas são mentirosas e têm o objetivo de desviar o foco de atenção das investigações sobre o paradeiro do pedreiro, desaparecido há cerca de um mês, após ser abordado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha.
— Isso é tudo mentira. Para eles falarem isso, têm que ter prova.
Na semana passada, o delegado Ruchester Marreiros, que participou da primeira fase de investigações sobre o sumiço de Amarildo na Delegacia da Gávea (15ª DP), apresentou relatório no qual cita o pedreiro e Elizabete como colaboradores do tráfico da comunidade.
Irritada, a mulher de Amarildo declarou que, sem imagens, fica fácil falar qualquer coisa.
— Estão querendo sair do foco e querendo me envolver. Minha casa nunca foi alvo de nada.
Anderson Dias Gomes, de 21 anos, filho de Amarildo e Elizabete, declarou estar angustiado com as insinuações feitas contra a mãe e o pai.
— Nós já estamos sofrendo bastante para eles inventarem uma calúnia dessa sem provas.
Relatório polêmico
Escutas telefônicas feitas com autorização da polícia captaram uma conversa na qual um traficante conhecido como Catatau fala com um policial infiltrado no tráfico sobre o desaparecimento de Amarildo Dias. Segundo o criminoso, Boi, como seria chamado o pedreiro, foi morto para jogar a população contra o comandante da UPP da Rocinha. A conversa teria ocorrido quatro dias após o sumiço de Amarildo.
Em um dos trechos, Thiago da Silva Mendes, o Catatau, diz que "tombaram o Boi, esposo da Beth". A Beth citada seria Elizabete Gomes da Silva, mulher de Amarildo. O material faz parte do relatório concluído pelo delegado Ruchester Marreiros — já fora da investigação sobre o caso —, que aponta o pedreiro como colaborador do tráfico.
O relatório feito pelo delegado se baseia em depoimentos de moradores, policiais e também em vídeos de testemunhas que afirmam ter sido torturadas na casa de Amarildo. A casa da família seria alugada para que os criminosos realizassem sessões de tortura. O material coletado por Ruchester, que era delegado adjunto da Delegacia da Gávea (15ª DP), veio à tona após ele ser transferido para a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
Uma das testemunhas que gravaram depoimento aparece com as duas mãos enfaixadas e diz ter sido torturada na casa onde Amarildo vivia com a família.
— Eles me botaram sentado na escada da porta da Bete. Ela é conhecida minha. Aí ela comentou: “você vai tomar um coro, né?”. Eu falei: “pô, acho que vou”. Então você vai ser o nono [disse ela]. Quebraram minhas duas mãos e me queimaram todo, no peito, na barriga, tudo.