Famílias relatam mortes de três detentas em presídio no Rio
Secretaria de Administração Penitenciária confirmou dois casos na Penitenciária Talavera Bruce. Advogados querem que MP-RJ apure mortes
Rio de Janeiro|Bruna Oliveira, do R7, com Record TV Rio
Três detentas morreram no presídio Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, somente no mês de novembro, de acordo com denúncias de familiares. Parentes acreditam que o forte calor nas celas e a falta d'água tenham provocado as mortes.
Em nota oficial, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) confirmou apenas dois casos que, segundo a pasta, estão sendo acompanhados pela Subsecretaria de Tratamento Penitenciário e pela Coordenação de Unidades Prisionais Femininas e Cidadania LGBT.
Parentes de Nancy Cristina disseram que a interna passou mal no dia de visitas. Eles chegaram a ver o momento em que a vítima foi socorrida, mas, horas depois, receberam a informação de que ela não havia resistido.
"[Acredito que o motivo da morte tenha sido] Calor na cela, tava muito quente. Como ela era muito obesa, então o calor a fez passar mal", afirmou Andrea Rocha.
Segundo familiares de Nancy, as presas também sofrem com falta d'água. Eles contaram que quando tem, a água é racionada. E, para piorar, as detentas não têm acesso à agua filtrada.
"Elas bebem a água que tomam banho. Muitas vezes, não conseguem beber porque vem suja e com restos de bichos", contou Andrea.
O vice-presidente da ONG Somos Todos Vítimas, Edson Castro, também acompanha as investigações e destacou que as presas são submetidas a péssimas condições.
"Bangu é o lugar mais quente do Rio de Janeiro. Se aqui fora fizer 40 ºC, lá dentro faz 60ºC ou 70º C. A alimentação já chega estragada e com cabelo, muitas vezes até com bicho", afirmou.
Um grupo de advogados que atende às famílias das detentas pretende levar os casos ao MP-RJ (Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro).
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"Os presos não podem sofrer a pena de morte. É proibido pela Constituição, assim como a tortura. No momento em que elas se encontram em uma cela com várias presas, acima de uma quantidade normal, em um calor absurdo, a ponto de vir a óbito mais de uma presa, isso é contra a dignidade da pessoa humana", declarou o advogado Rodrigo Salgado.
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Em nota, a Seap informou que uma interna passou mal no dia 16 de novembro e outra sofreu um mal súbito, no dia 18. As duas foram socorridas ao Hospital Dr. Hamilton Agostinho Vieira de Castro, dentro do Complexo de Gericinó, porém não resistiram.
No laudo preliminar do hospital, não há sinais de agressão ou de queda. A pasta aguarda o laudo do IML (Instituto Médico Legal) que deve apontar as causas das mortes.