MV Bill denunciou que policias invadiram apartamentos de vizinhos
Reprodução/ Facebook / ArquivoO rapper MV Bill, morador da Cidade de Deus, denunciou em uma rede social, na manhã desta quarta-feira (23), suposto abuso de policiais contra moradores da comunidade. Segundo ele, apartamentos vizinhos ao dele foram arrombados e invadidos por agentes na ausência dos moradores.
O delegado titular da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), Felipe Curi, disse à Rede Record ter obtido na Justiça mandado coletivo de busca e apreensão, que autoriza agentes a entrar em residências de quatro áreas da CDD.
— Não foi feito de maneira aleatória, houve um trabalho de inteligência que identificou localidades com maior concentração de traficantes. [O mandado coletivo de busca] foi cumprido sob a supervisão de 25 delegados, para que as garantias constitucionais fossem respeitadas. Alguns [imóveis] foram arrombados com dois vizinhos como testemunhas.
Segundo Curi, a partir da operação que visava a busca de nove suspeitos de chefiar o tráfico na região, 14 suspeitos foram detidos, e armas e drogas apreendidas. Nenhum dos presos está entre os traficantes procurados.
Na mesma rede social, a página CDD Acontece também falou sobre as invasões às casas vazias. Segundo o relato, moradores que "saíram para trabalhar estão tendo suas residências arrombadas e deixadas abertas, tendo a privacidade violada e exposta sem serem comunicados".
Em um vídeo (assista abaixo), moradores mostram portas arrombadas de apartamentos cujos residentes estavam trabalhando. Indignada, uma das moradores, não identificada, afirma: "Eles acham que Cidade de Deus é só bandido. Aqui não mora só bandido. Temos de ser respeitados".
A Polícia Civil realizou nova operação na Cidade de Deus desde o início da manhã desta quarta. O objetivo é cumprir o mandado de prisão de nove suspeitos de participarem dos confrontos com policiais militares no último final de semana. Os agentes fazem buscas nas ruas e casas da comunidade.
Na segunda-feira (21), a Justiça do Rio autorizou buscas e apreensões coletivas na Cidade de Deus. Com o mandado, os moradores são obrigados a permitirem a entrada dos policiais. Segundo o TJ (Tribunal de Justiça do Rio), "os mandados coletivos autorizam a vistoria nas residências, porém a coordenação e efetivação das buscas e apreensões são de responsabilidade da Polícia Civil".
Em nota, a Polícia Militar informou que "denúncias sobre procedimentos considerados inadequados devem ser formalizadas junto à corporação para que seja feita a apuração dos fatos".
Rotina de violência
Há cinco dias a comunidade vive uma rotina de medo. No sábado (19), a PM iniciou uma operação após uma viatura ser atacada próximo a entrada da Cidade de Deus. Durante a ação, o helicóptero da PM, que dava apoio aos agentes em terra, caiu e matou quatro oficiais. As causas do acidente ainda não foram esclarecidas. No dia seguinte, os corpos de sete jovens foram encontrados na área de mata da comunidade. A polícia ainda investiga o caso.
Na segunda-feira, o confronto entre policiais e o tráfico de drogas deixou mais de sete mil alunos sem aulas na região. As escolas voltaram a fechar as portas, nessa quarta-feira (23), em decorrência da operação da Polícia Civil na Cidade de Deus.