“Vou acordar de um pesadelo”, diz viúva de catador morto por Exército
Dayanna Fernandes, de 27 anos, conta que marido recolhia madeira no dia de sua morte para construir um barraco. Ela está grávida de 5 meses
Rio de Janeiro|Lucas Ferreira, do R7* com Record TV Rio
A viúva do catador de material reciclável Luciano Macedo, morto pelo Exército, contou em entrevista à ONG Rio de Paz como foram os momentos antes do fuzilamento de seu marido. Segundo Dayanna Fernandes, ela ainda espera “acordar de um pesadelo”.
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“Ele beijava a minha barriga, falava todos os dias para mim: “Quero ver o rosto da minha filha”. Eu acho que vou acordar de um pesadelo”, disse a viúva, que está grávida de 5 meses.
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Dayanna, de 27 anos, contou que ela e seu marido saíram no dia de sua morte, 7 de abril, para recolher madeira para construir um barraco para sua filha.
Segundo a viúva, Luciano correu em direção ao carro para salvar o filho do músico Evaldo dos Santos Rosa, atingido por nove dos 83 tiros disparados por militares, em Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro.
“Meu marido segurou o filho dela [viúva de Evaldo] e mandou ela sair de perto. E o filho gritando: “Meu pai, ajuda o meu pai”. Eu disse: “Luciano, deixa ele aí. Ele acabou de morrer. Ele tá morto”. Ele falou que não, que ia tirar ele [do carro].”
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Dayanna disse que correu e se escondeu entre dois carros na calçada, próximo a uma oficina. “Ouvi muito tiro. Eu gritei pra ele vir, eu gritei: “Luciano, vem pra cá, corre”. Quando eu olhei pro lado ele já estava baleado. Ele apertou minha mão e me falou para ficar calma".
Luciano levou três tiros nas costas e foi levado para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na zona norte do Rio, onde ficou internado por 11 dias.
“Hoje foi meu marido, amanhã será mais um, mais outro... E assim vai. Infelizmente um pobre que mora na favela não tem valor.”
*Estagiário do R7, sob supervisão de Celso Fonseca