“Dá medo”, diz mulher que ficou dentro de shopping durante protesto contra aumento de passagem em SP
Evento reuniu cerca de 2.000 pessoas e teve confronto com a Polícia Militar
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
O protesto contra o aumento da passagem dos ônibus municipais, dos trens metropolitanos e do metrô deixou um rastro de aproximadamente 3 km de destruição, na noite desta quinta-feira (6), entre o centro de São Paulo e a avenida Paulista. A PM deteve 15 pessoas, entre elas o presidente do Sindicato dos Metroviários,Altino Melo Prazeres. Alguns manifestantes depredaram alguns pontos da avenida. A violência casou medo em algumas pessoas que se viram “presas” dentro dela.
Foi o caso da secretária Gisele Santos, que havia acabado de sair do trabalho, na região dos Jardins e chegou ao shopping Pátio Paulista junto com parte do grupo de manifestantes. A Polícia Militar tentou ir atrás deles e o centro comercial acabou fechando as portas por volta das 20h.
Gisele ficou trancada lá dentro e viu parte da depredação: vasos quebrados e pichações. Quando conseguiu sair, cerca de uma hora depois, ela ainda estava assustada.
— Fiquei na praça de alimentação por um tempo, mal percebi tudo isso, só [soube] mesmo quando perguntei para um segurança. Aí preferi ficar aqui dentro, porque dá medo, sabe lá o que pode acontecer, com esse monte de polícia e gente lá fora.
A secretária permaneceu dentro do shopping até a chegada do marido dela. O pedido para que ele a buscasse foi feito, justamente, pelo receio de ter que andar até a estação Brigadeiro do metrô, uma das que tiveram as entradas de vidro quebrada pelos manifestantes.
Segundo a Polícia Militar, houve danos, também, nas estações Paraíso e Trianon-Masp. Alguns membros do protesto também tentaram invadir a estação Anhangabaú.
“Comportamentos animalescos”
O comandante da PM na região central de São Paulo, coronel Reynaldo Simões Rossi avaliou como “comportamentos animalescos” os atos de vandalismo que se estenderam por toda a avenida Nove de Julho e pela avenida Paulista.
Bancas de jornal foram amassadas e pichadas, latas de lixo viradas, sacos de lixo abertos e jogados no meio da avenida Paulista, carros atingidos por pedras jogadas, além de barricadas criadas e fogo em caixotes. Segundo o coronel, “eles não estavam a fim de se manifestar”. O policial ainda classificou o protesto como “uma ação desastrada”.
— Essas pessoas optaram, deliberadamente, não sei se por puro prazer, por puro sadismo, por promover uma série de atos e danos no centro de São Paulo e na região da [avenida] Paulista, talvez para terem algo para contar nas suas histórias, algo que uma pessoa sensata talvez não quisesse.
“Positivo”
Apesar do rastro de destruição deixado, a coordenadora de projetos Caroline Borges, que participou do protesto, entendeu que a ação foi positiva eles também criticaram a suposta truculência dos policiais.
— [O protesto] foi positivo. Apesar da truculência da polícia.
Para outra manifestante, Lynda Souza, houve uma evolução nas reivindicações do movimento.
— O balanço [do protesto] quer dizer que a gente evoluiu. A gente fez uma manifestação pacífica, só que, infelizmente, certos policiais agrediram alguns skatistas, colocaram todo mundo dentro da [avenida] Paulista e outros se machucaram, tem pessoas que machucaram braço, perna, e aí vai.
Ela ainda destacou que, apesar de a maioria dos participantes do movimento ser estudante, as reivindicações buscam representar pessoas de classes mais baixas.
— Tem gente que deixa de comer, deixa de fazer as coisas para pagar a passagem.
Outro protesto
O Movimento Passe Livre se organizou para realizar outro protesto, desta vez no largo da Batata, em Pinheiros, no fim da tarde desta sexta-feira (7). Sobre a ação policial, a PM informou que estará presente e somente agirá caso a manifestação saia da normalidade.