Moradores da Vila Madalena, reduto boêmio de São Paulo, tiveram mais uma madrugada tensa neste sábado (14). Excesso de barulho, sujeira e vandalismo voltaram à cena depois da passagem de blocos carnavalescos — alguns, segundo denúncias, continuaram a desfilar após o horário permitido.Prefeitura notifica bloco que passou do horário na Vila O som alto de carros tocando funk, os chamados pancadões, também atravessou a madrugada, assim como ocorreu no último fim de semana. O coordenador da SOSsego Vila Madalena, Tom Green, grupo formado por moradores e comerciantes da área, teve a fachada da casa depredada. Iirritado com o volume alto que vinha dos veículos, pouco antes das 3h, ele resolveu jogar um balde de água em um homem que urinava na porta de seu estabelecimento.Leia mais notícias de São Paulo Algumas pessoas que participavam de um pancadão se revoltaram e atiraram garrafas e pedaços de madeira na janela de Green, que registrou tudo em vídeo. Após ser atingido por estilhaços, ele teve um pequeno corte em um dos ombros. Por três vezes, a mulher dele pediu ajuda à Polícia Militar e ouviu, como justificativa para a demora, o argumento de que havia muitas ocorrências por ser "de sexta-feira para sábado". Apesar da informação de que uma viatura estava a caminho do local, a solicitação não foi atendida, conforme Green. — Foram cerca de 20 minutos de ataque e a polícia não veio. Detonaram a fachada do prédio. Entrou garrafa dentro da minha casa. Para Green, o poder público falha na fiscalização, o que favorece a desordem no bairro. — Pelo que percebi, a prefeitura conseguiu dispersar o pessoal que ficava na rua Aspicuelta. O povo saiu de lá e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que estava fazendo o bloqueio, sumiu. Não tinha mais fiscal. De repente, começaram a entrar carros, inclusive, vendendo bebidas. Eles ficaram com som alto a madrugada inteira.Mais tensão Por volta da meia-noite, Green já havia passado por outra situação tensa. Ao filmar da janela de casa o desfile de um bloco, ele foi nominalmente citado por um dos integrantes que, com microfone, informou ao público que o SOSsego Vila Madalena procurou o Ministério Público para proibir o carnaval no bairro. Alguns participantes debocharam da situação. O homem afirmou que não podia falar por todos, porque não era o dono da verdade, e afirmou, dirigindo-se a Green. — Você está muito, muito errado, parceiro. Na avaliação do coordenador do SOSsego Vila Madalena, os responsáveis pelos blocos não pensam nas consequências provocadas pelas grande aglomerações na região. — Os blocos se recusam a entender que o fluxo de pessoas que trazem para o bairro acaba nesses pancadões. Só pensam na festa, e não nas consequências imediatas e a longo prazo, como degradação, evasão de moradores.Jogando a toalha Green, que é britânico, vive e trabalha na Vila Madalena há mais de 15 anos. Apesar do amor pelo bairro, ele resolveu “jogar a toalha”. Segundo conta, alguns moradores estão fazendo o mesmo caminho. — Uma vizinha vai entregar a casa dela hoje. Ela nasceu nesta casa. Desistiu. Já foi agredida na Copa [do Mundo] e no carnaval anterior. Com pesar, ele revela que colocou a propriedade dele à venda. — Além de não ter qualidade de vida, sumiram os fregueses. O bairro não tem mais espaço para pessoas comuns. Há dois anos, passou a ser só boêmio. Quem for morar na Vila Madalena que fique esperto. É uma monocultura [...] Vou vender minha casa. Tenho funcionários de 15 anos que vão perder seus empregos. Green afirma que o sentimento que prevalece é “o de abandono e o de desespero”. — Não há nada que vai nos salvar. Estamos ladeira abaixo e todo mundo finge que está bem.Ministério Público De acordo com ele, foi feito abaixo-assinado, com 1.424 adesões de moradores e comerciantes, reivindicando a limitação da quantidade de blocos — eles consideram o número excessivo e alegam que, extraoficialmente, acontecem mais de 100 desfiles —, a diminuição dos dias de festa e a proibição de carros de som e de venda de bebidas alcoólicas. Sem sucesso, o grupo protocolou uma representação junto ao Ministério Público, solicitando a suspensão do carnaval de rua 2015 na região da Vila Madalena e de Pinheiros, incluindo a instauração de inquérito civil e ajuizamento de Ação Civil Pública.Prefeitura de SP coleta 53 toneladas de lixo na Vila Madalena e em Pinheiros A solicitação de um inquérito civil específico não foi acolhida e o MP incluiu a representação em outro inquérito da 5ª Promotoria da Justiça que trata da "insuportabilidade de vida comum na Vila Madalena em virtude de ter se tornado reduto de boemia". A realização do Carnaval foi aprovada pela Promotoria sob o argumento de que a cidade e o espaço público são de todos. Procurada pela reportagem do R7, a Polícia Militar emitiu o seguinte comunicado:ESCLARECIMENTO A Polícia Militar esclarece que, por meio de planejamento estratégico e da análise de outros eventos de mesmas características, já organizados na região, determinou o reforço no policiamento ostensivo e preventivo na região, o que incluiu o emprego de policiais do próprio 23º Batalhão (responsável pela área), de Cadetes do Bacharelado de Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública da Academia do Barro Branco e policiais militares de outras regiões.Tais reforços foram destinados, principalmente, para os dias e horários nos quais o público estimado e de maior incidência. Assista ao vídeo:
