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Menino morto na Alba era um dos três filhos deficientes de dona Leonice 

Mais novo de cinco irmãos, Wellington era deficiente auditivo e tinha grau alto de autismo

São Paulo|Caroline Apple, do R7

A panela de feijão estava no fogo quando o incêndio começou
A panela de feijão estava no fogo quando o incêndio começou A panela de feijão estava no fogo quando o incêndio começou

Não havia mais lágrimas no rosto da vendedora Leonice Bernarda Seara, de 37 anos, mãe de Wellington, de 11 anos, morto no incêndio que atingiu ao menos 10 barracos nesta segunda-feira (25) na favela do Alba, no bairro Jabaquara, zona sul de São Paulo.

Comendo pão com mortadela, tomando um copo de café e fumando um "cigarro paraguaio", a mãe, franzina, com a face cansada e uma grande cicatriz e deformidade na cabeça por causa de um aneurisma, conta a rotina da família de cinco filhos, três deles deficientes auditivos. A vítima fazia parte desse trio, mas com o agravante de ter sido diagnosticado como autista há três anos.

A condição de surdo e mudo não permitiria que gritos fossem ouvidos do lado de fora enquanto a criança era consumida pelo fogo. A família acredita que seria mais fácil ouvir palmas, que era o que o garoto deficiente intelectual faria se visse chamas. Ele não tinha como discernir o perigo iminente da morte.

Porém, do lado de fora, parentes e amigos se desesperavam, gritavam e tentavam, em vão, entrar na casa para salvá-lo. O tio, conhecido como Bebeto, descrito como uma pessoa extrovertida, ostentava na tarde desta terça-feira (27) um semblante que beirava a indiferença. A irmã garante que é resultado da culpa. Foi ele quem arrombou a porta para salvar o sobrinho, mas não conseguiu entrar, porque o fogo logo avançou. Se os vizinhos não o segurassem, talvez ele teria sido a segunda perda da família no dia.

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O garoto ainda usava fraldas. Caras. Compradas com o dinheiro conseguido com o salário mínimo que o Estado dá à família. A renda era complementada por até R$ 250, que é o que a mãe tira como vendedora de móveis em uma loja em Parelheiros, a quase 30 km de casa. Ela não sabe explicar porque trabalhar tão longe por tão pouco, mas diz que o esforço vale para manter os filhos alimentados e longe da “vida errada”.

A família agora seguirá sem Wellington, mas no mesmo lugar da tragédia, onde Leonice pretende reconstruir a casa de madeira e papelão. Carinho não está faltando. A família é unida. Fotografá-la não era uma opção para a imprensa. Não por ela, mas pelas amigas que a protegiam como leoas. Amigos que passavam a cumprimentavam. Padres, pastores e outros religiosos marcavam missas e cultos no local. Ela apenas agradecia.

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A mãe aguardava a carona de um colega para ir com os filhos ao IML (Instituto Médico Legal) fazer o reconhecimento do corpo. Lá, ela não veria o filho. O reconhecimento seria por DNA, porque fisicamente Wellington já não era o menino que alternava momentos de paz vendo futebol na televisão com momentos de nervosismo e agitação promovidos pelo alto grau de autismo.

O carro do amigo chegou. A família toda entrou e se acomodou. Dois filhos na ponta e ela no meio no banco de trás. Se despediu de quem pode com um abraço. Agradeceu pela atenção e foi para o IML colher material genético e lidar com o assédio de ser a “mãe do menino que morreu no incêndio do Alba”. Tudo novo. Tudo estranho. O motivo do incêndio não é um assunto importante para a família. Wellington se foi. E só. 

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