Promotor: divido um carro com assassinos e traficantes, mas não com Gil Rugai
Rogério Zagallo disse ainda que legado de julgamento é: "Vale a pena praticar crime"
São Paulo|Ana Cláudia Barros e Vanessa Beltrão, do R7
Após cinco dias de um julgamento tenso, o promotor do júri que condenou Gil Rugai, Rogério Zagallo, destacou a suposta periculosidade do estudante. Zagallo, que chegou a se emocionar ao saber da condenação do réu, disparou contra Rugai, dizendo que o rapaz tinha um “desvio de personalidade" e "não poderia conviver em liberdade". Ele acrescentou que não dividiria o mesmo carro com o condenado.
— Eu posso dizer: eu já cansei de fazer acusações contra inúmeros réus, bandidos, traficantes, homicidas dos mais perigosos. Em qualquer desses casos, eu divido um carro com qualquer um dos réus que eu já condenei, mas com Gil Rugai, eu não divido.
Apesar de satisfeito com a condenação, Zagallo questionou a legislação brasileira, tendo em vista que o ex-seminarista não foi preso apesar do tamanho da pena. E usou palavras duras para se referir ao criminoso.
— Esse rapaz tem um desvio de personalidade. Como o próprio juiz consignou na sua decisão, ele tem uma personalidade dissimulada, ele é perigoso, não é esse anjinho que parece, não vai participar do conclave. Realmente é uma pessoa que não poderia conviver em liberdade.
Gil Rugai é condenado a 33 anos e 9 meses de prisão por morte de pai e madrasta
Diante da possibilidade de o estudante, sentenciado a 33 anos e 9 meses de reclusão, cumprir apenas 1/6 da pena em regime fechado, descontando ainda os cerca de dois anos em que permaneceu preso, o representante do Ministério Público desabafou:
— Vale a pena praticar crime. Esse é o legado de cinco dias de julgamento, nove anos de um processo, para chegar nisso: “Eu matei meu pai, eu matei a minha madrasta, mas vou ficar mais dois anos e meio (preso)”.
Gil Rugai "não é um anjinho" e não pode conviver em liberdade, diz promotor do caso
"Temo pela fuga de Gil Rugai", diz assistente de acusação
"Podem tirar do Gil a liberdade, mas nunca a inocência dele", afirma advogado de defesa
Ele completou:
— Esse é o atual estágio, o atual nível da Justiça criminal brasileira: vale a pena praticar crimes.
Relembre o caso
O publicitário Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e sua mulher, Alessandra de Fátima Troitino, 33 anos, foram assassinados a tiros dentro da casa onde moravam em Perdizes, zona oeste de São Paulo no dia 28 de março de 2004.
Alessandra foi baleada cinco vezes na porta da cozinha, segundo laudo da perícia. Luiz Carlos teria tentado se proteger na sala de TV. A pessoa que entrou no imóvel naquela noite arrombou a porta do cômodo com os pés e disparou quatro vezes contra o publicitário.
O comportamento aparentemente frio de Gil Rugai, na época com 20 anos, ao ver o pai e a madrasta mortos chamou a atenção da polícia, que passou a suspeitar dele.
Os peritos concluíram que a marca encontrada na porta arrombada era compatível com o sapato de Rugai, que, ao ser submetido pela Justiça a radiografias e ressonância magnética, teria apresentado lesão no pé direito.
Na mesma semana do duplo homicídio, os policiais encontraram no quarto do rapaz, um certificado de curso de tiro e um cartucho 380 deflagrado, o mesmo calibre da arma usada no assassinato do casal.
As investigações apontaram ainda que ele teria dado um desfalque de R$ 228 mil na empresa do pai, a Referência Filmes, falsificando a assinatura do publicitário em cheques da firma. Poucos dias antes do assassinato, ele foi expulso de casa.
Um ano e três meses após o duplo homicídio, uma pistola foi encontrada no poço de armazenamento de água de chuva do prédio onde o rapaz tinha escritório, na zona sul. Segundo a perícia, seria a mesma arma de onde partiram os tiros que atingiram as vítimas.
Rugai respondeu pelo crime em liberdade. Ele foi julgado e condenado por duplo homicídio qualificado por motivo torpe.