O superintendente da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Irineu Massaia, anunciou nesta terça-feira (23) que a instituição vai fazer um empréstimo em janeiro, no valor de R$ 44 milhões, para quitar contas imediatas, incluindo o pagamento de salários e 13º que estão atrasados e também fornecedores. Hoje, a Mesa Administrativa se reuniu e aprovou uma das condições do empréstimo: dar um imóvel na avenida Paulista como garantia.
Ontem, o provedor da Santa Casa, Kalil Rocha Abdalla, colocou o cargo à disposição. Trata-se de uma licença de 90 dias que pode ser prorrogada.
A entidade filantrópica vive crise financeira, agravada durante os seis anos da gestão dele, quando o déficit passou de R$ 80 milhões para mais de R$ 400 milhões — estimativas apontam que o valor poderia ultrapassar R$ 770 milhões.
Auditorias encomendadas pelo governo do Estado apontaram indícios de má gestão, até mesmo superfaturamento em contratos firmados pela Santa Casa. Em meio à crise, a instituição abriu, em julho, uma sindicância para apurar as irregularidades.
Abdalla justificou seu afastamento justamente por causa das investigações. A licença do atual provedor é de 90 dias e pode ser prorrogada, caso a sindicância não seja concluída. A reunião da Mesa Administrativa aprovou hoje a saída do provedor.
No lugar dele, assume o jurista Ruy Altenfelder, que já foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e membro do Conselho Superior de Assuntos Jurídicos e Legislativos da Fiesp.
Pacientes da Santa Casa enfrentam dificuldades para agendar exames
Empréstimos
O empréstimo de R$ 44 milhões anunciado hoje é o segundo em poucos dias, já que a instituição fechou um acordo com a Caixa Econômica Federal para receber R$ 14 milhões ainda em 2014.
Os salários atrasados não serão pagos no dia 29 de dezembro, conforme prometido anteriormente, segundo Massaia. O processo para a obtenção do empréstimo com a Caixa deve ser concluído apenas nos primeiros dias de janeiro. Somente então, a Santa Casa poderá honrar parte das dívidas com os funcionários.
O superintendente defendeu que o plano de reestruturação da Santa Casa, iniciado em setembro, deve organizar as finanças da instituição em até dois anos.
— O que vai pagar a dívida da Santa Casa não é benevolência, não são novos empréstimos bancários. O que vai pagar a dívida inteira é a própria operação da Santa Casa, que vai ser sustentável. [...] Em janeiro já começa o novo convênio com o SUS. Então, começa o repasse adequado do contrato que nós temos com o SUS. Haverá uma restruturação ampla de toda a operação SUS/Santa Casa. Está havendo também uma readequação inteira da operação do Hospital Santa Isabel para trazer mais receita.
Atendimento
Massaia admitiu que os pacientes podem enfrentar dificuldades em alguns casos e que a situação pode ser essa durante o processo de recuperação do hospital. Ele fala que pode haver “medidas impopulares” e “de impacto no atendimento da população”.
— Os pacientes podem ter certeza que não falta esforço nem qualidade da equipe toda que está 24 horas na Santa Casa de atendê-los. O que nós temos hoje é uma dificuldade estrutural para alguns procedimentos e para alguns atendimentos eletivos.
Em julho deste ano, o pronto-socorro chegou a ser fechado, porque não havia dinheiro para compra de materiais e medicamentos. O governo do Estado disponibilizou R$ 2 milhões em caráter emergencial para que os atendimentos fossem retomados. O superintendente garantiu que as consultas de urgência estão garantidas.