Testemunha diz que polícia insistiu para que ela contasse ter visto alguém sair da casa dos Rugai
Vigia trabalhava na rua onde crime aconteceu; ele negou, porém, ter sido ameaçado
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
Quarta testemunha ouvida neste terceiro dia de julgamento do ex-seminarista Gil Rugai, o vigia Valeriano Rodrigues dos Santos afirmou, ao ser indagado pelo advogado Marcelo Feller, que a Polícia Civil insistiu para que ele afirmasse ter visto alguém sair da casa onde moravam Luiz Carlos Rugai e Alessandra Troitino no dia do duplo homicídio do casal. Gil Rugai é acusado de matar o pai e a madrasta a tiros na mansão onde as vítimas moravam, em março de 2004, no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo.
Santos, que trabalhava como vigia da rua Atibaia — a mansão dos Rugai tinha saída pelas ruas Atibaia e Traipu —, relatou no plenário dez do Fórum Criminal da Barra Funda que seu depoimento no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) na época foi “bem pesado”.
— Ele [o delegado] achou que eu tinha visto e não queria falar. Ficou nervoso comigo.
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A testemunha completou, dizendo que o delegado — sem citar nomes — teria até mesmo batido na mesa. Quando perguntado pelo advogado de Gil Rugai se havia se sentido intimidado, o vigia respondeu:
— Para falar a verdade, não me senti não. Se eu não vi, como poderia falar isso?
Porém, ao ser questionado pelo advogado Ubirajara Pereira, assistente de acusação, se alguém do DHPP fez qualquer espécie de ameaça para que ele mudasse o depoimento, ele afirmou que isso não havia ocorrido.
Primeiro dia
No primeiro dia de julgamento, que aconteceu na segunda-feira (18), o vigia Domingos Ramos de Oliveira disse que viu o ex-seminarista sair da casa das vítimas após os disparos na noite do crime. No dia do crime, ele trabalhava na rua Traipu.
— Sempre reconheci ele [Gil Rugai] como uma das duas pessoas que saíram de lá. A outra pessoa não sei reconhecer.
Em suas declarações durante o júri, o vigia reafirmou diversas vezes de que não há dúvidas de ter visto o Gil Rugai no dia do crime e também afirmou categoricamente que nunca foi intimidado a dizer que viu o ex-seminarista.
Relembre o caso
O publicitário Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e sua mulher, Alessandra de Fátima Troitino, 33 anos, foram assassinados a tiros dentro da casa onde moravam em Perdizes, zona oeste de São Paulo, no dia 28 de março de 2004.
Alessandra foi baleada cinco vezes na porta da cozinha, segundo laudo da perícia. Luiz Carlos teria tentado se proteger na sala de TV. A pessoa que entrou no imóvel naquela noite arrombou a porta do cômodo com os pés e disparou quatro vezes contra o publicitário.
O comportamento aparentemente frio de Gil Rugai, na época com 20 anos, ao ver o pai e a madrasta mortos chamou a atenção da polícia, que passou a suspeitar dele.
Os peritos concluíram que a marca encontrada na porta arrombada era compatível com o sapato de Rugai, que, ao ser submetido pela Justiça a radiografias e ressonância magnética, teria apresentado lesão no pé direito.
Na mesma semana do duplo homicídio, os policiais encontraram no quarto do rapaz, um certificado de curso de tiro e um cartucho 380 deflagrado, o mesmo calibre da arma usada no assassinato do casal.
As investigações apontaram ainda que ele teria dado um desfalque de R$ 228 mil na empresa do pai, a Referência Filmes, falsificando a assinatura do publicitário em cheques da firma. Poucos dias antes do assassinato, ele foi expulso de casa.
Um ano e três meses após o duplo homicídio, uma pistola foi encontrada no poço de armazenamento de água de chuva do prédio onde o rapaz tinha escritório, na zona sul. Segundo a perícia, seria a mesma arma de onde partiram os tiros que atingiram as vítimas.
Rugai responde pelo crime em liberdade e é julgado por duplo homicídio qualificado, por motivo torpe.