“Versão da polícia está estranha”, diz advogado sobre caso de manifestante baleado em SP
André Zanardo fala de apoio à família da vítima e vê muitas imprecisões em relato de PMs
São Paulo|Thiago de Araújo, do R7
A versão dos fatos que levaram Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves, de 22 anos, a ser ferido por dois disparos feitos por policiais militares, durante o protesto contra a Copa do Mundo que aconteceu no sábado (25) em São Paulo, ainda gera dúvidas entre familiares e grupos ativistas. O advogado André Luiz Zanardo, da ONG Advogados Ativistas, é um deles.
Em entrevista ao R7 na noite deste domingo (26), logo após deixar a Santa Casa de São Paulo, para onde Chaves foi levado, Zanardo disse ter estado em contato com familiares do jovem e que muitas perguntas ainda precisam ser respondidas pela investigação desse caso, a cargo do 4º Distrito Policial da Consolação. Nem mesmo a alegação de que o rapaz seria um adepto da tática black bloc está clara, na visão do advogado.
— Ele (Chaves) estava em uma região afastada do ocorrido (na rua Augusta), em um momento posterior. A versão da polícia está muito estranha. Se começarem a se justificar, acusando todos de serem black blocs, aí você está legitimando um massacre da PM? É complicado.
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Zanardo e um grupo de advogados prestaram auxílio jurídico aos 135 manifestantes detidos pela polícia durante o protesto no centro da capital, sendo a maioria levada para o 78º Distrito Policial, nos Jardins, e para outras delegacias na região central. Todos foram ouvidos e liberados em seguida. No caso de Chaves, a versão dos policiais é de que ele teria tentado fugir e agredir os agentes com um estilete, após ter um coquetel molotov encontrado em sua mochila.
O advogado vê um relato “absurdo” e “desproporcional” para justificar os disparos, que atingiram o tórax e o pênis do manifestante, encontrado na esquina das ruas Sabará e Piauí que está internado em estado grave, porém estável, de acordo com o que informou a assessoria de imprensa da Santa Casa no início da noite deste domingo.
— Parte da versão dos fatos que eles relataram é que ele estivesse com coquetel molotov na mão, e isso é algo que você aprende no direito: é preciso ter proporcionalidade na ação. Você está com coquetel molotov na mão, então a primeira pergunta que faço é se ele estava aceso ou apagado. Se estivesse apagado, não oferece risco. O risco do objeto é muito pequeno e a agilidade para ele acender é ridícula. (Chaves) poderia ser contido com gás de pimenta no caso.
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Zanardo disse ainda ter testemunhado a presença de pelo menos dois policiais na entrada do ambulatório da Santa Casa. Segundo ele, tal fato caracterizaria que o manifestante já seria considerado preso e, por isso, justificaria uma escolta. O fato – não confirmado pelo hospital – estaria, inclusive, trazendo dificuldades à família do rapaz em ter informações sobre o seu estado de saúde.
— O que posso dizer é que as informações estão completamente sendo cerceadas, a família está com dificuldade de ter acesso ao garoto. Há dois policiais acompanhando, porque ele está detido, só que isso não é usual acontecer. Ele está em coma induzido, então não há essa necessidade porque ele não pode se locomover. Então o Estado está gastando a sua força policial por uma desnecessidade.
Já a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou, em nota, que "não há escolta".
"A Polícia Militar informa que esperou no hospital a autoridade policial deliberar se Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves seria preso ou não. Também aguardou a chegada de um familiar – o irmão de Chaves – para prestar apoio."
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A reportagem tentou contato com o delegado do 4º Distrito Policial responsável pelo caso, mas ele não foi localizado. De acordo com a SSP, um “exame pericial para o local dos fatos e para os objetos apreendidos com os averiguados, e exame residuográfico para os policiais militares” foram colhidos.
Ativistas marcam vigília para esta segunda-feira
Ativistas do movimento Não Vai ter Copa marcaram para esta segunda-feira (27), às 17h, uma vigília pelos manifestantes que ficaram feridos durante o protesto do último sábado. O ato acontece em frente à Santa Casa, onde Fabrício Chaves está internado. Segundo a página do evento no Facebook, a meta é chamar a atenção da mídia para a “brutal violência policial”, de maneira pacífica.
Até as 21h30 deste domingo, quase 200 pessoas já haviam confirmado presença na página do ato.