Africana do Mais Médicos critica a saúde do Brasil: “Aqui você só é atendido se tem dinheiro”
Formada em Portugal, médica afirma que estrutura hospitalar do País não é ruim
Saúde|Do R7*
Nascida no Congo Belga, na África, a médica Kátia Miranda, de 62 anos, é uma das poucas estrangeiras do Mais Médicos que não vieram de países da América Latina. Apesar de ser africana, ela se formou em Lisboa, em Portugal, e resolveu vir ao Brasil por seu filho ter se casado com uma brasileira. Assim como outros profissionais, Kátia começa a atuar oficialmente no SUS (Sistema Único de Saúde) nesta segunda-feira (23) e vai trabalhar em Indaiatuba, interior de São Paulo.
— Sempre quis vir para cá e quando o meu filho casou com uma brasileira, essa vontade só aumentou. Não estou vindo pela conta bancária e, sim, pelas pessoas. Minha expectativa é ficar até o fim da vida aqui e usar meus anos de experiência para ajudar os brasileiros.
Especialista em medicina familiar e hematologia, Kátia atua há 36 anos na área. Em conversa com o R7, ela revela que fala seis idiomas e já trabalhou em Portugal, Inglaterra, França, Bélgica, Espanha, Alemanha e Holanda.
94% dos estrangeiros estão sem registro no 1º dia oficial de trabalho
Apesar de ter vivido muitas experiências em países desenvolvidos, a médica, filha de portugueses, disse que não vê diferença entre a infraestrutura da saúde pública do Brasil com a de países europeus, como Portugal e Espanha. Porém, ela revela que percebeu que existe uma grande diferença no tratamento do paciente.
— Aqui você é atendido de acordo com o dinheiro. Se você tem condições, você tem médico. Em países como a França, se você não tem condições de pagar a consulta de um especialista, o governo paga para você.
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Kátia diz que percebeu essas diferenças de postura não apenas durante seu treinamento de três semanas e na semana de acolhimento, mas também ao conhecer melhor a cidade de São Paulo.
— Você anda pela cidade e vê zonas muito pobres e zonas muito ricas. Sem contar as pessoas arrogantes que andam pela rua.
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"Faltam médicos, não estrutura"
Após visitar uma UBS (Unidade Pública de Saúde) no período do treinamento do programa, a estrangeira conta que notou que a infraestrutura das unidades “não deixa a desejar, mas que, sim, faltam médicos”.
— Vi que há uma grande equipe que tem vontade de trabalhar, mas faltam médicos. E um médico com um estetoscópio pode fazer muito mais tanto para o paciente quanto para a equipe.
Prática
Apesar de o Ministério da Saúde ter adiado para esta segunda-feira (23) o início dos profissionais do programa Mais Médicos com diplomas estrangeiros, o começo dos trabalhos dos médicos no SUS (Sistema Único de Saúde) ainda está indefinido. Segundo o governo federal, até a manhã desta segunda-feira (23), apenas 39 dos 633 pedidos de registros de profissionais foram liberados. Ou seja, 594 médicos — 94% dos que solicitaram o registro — ainda não podem começar a atuar hoje.
Brunna Mariel, estagiária do R7