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Recentemente, o ator Márcio Garcia e a mulher Andréa Santa Rosa optaram pelo parto humanizado para o nascimento do quarto filho do casal. Uma das que também apostaram em uma maneira mais natural de ter a prole foi a modelo brasileira Gisele Bündchen. Porém, o parto humanizado ainda é um assunto muito polêmico entre a classe médica. Assim como as famosas, as mamães anônimas Beatriz Takata, 27 anos, e Natalia Araujo Boldrin, 26 anos, não pensaram duas vezes ao decidirem deixar a natureza fazer o seu trabalho sem intervenção do bisturi
Texto e entrevista: Fabiana Grillo, do R7Carla Raiter/Montagem - R7
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Para as mamães Beatriz e Natalia, o nascimento é um acontecimento natural e deve ser realizado com o mínimo de intervenções médicas e apenas as autorizadas pela própria gestante. Na entrevista a seguir, elas lembram os momentos mais emocionantes do parto e garantem não se arrepender de suas escolhas
Carla Raiter
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Beatriz é fotógrafa de parto humanizado e mãe de dois meninos: Flávio Takata Corredato, de dois anos, e Vinícius Takata Corredato, de quatro meses. Para ela, o parto é “um momento muito importante da vida da família para ser vivido anestesiada em cima de uma mesa de cirurgia”.
— Participei de grupos de apoio, pesquisei muito e me deparei com um universo que até antes de ser mãe nem imaginava existir. Descobri que as estatísticas de óbito e sequelas na mãe e no bebê são muito maiores em cesáreasCarla Raiter
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O primeiro filho, Flávio, nasceu em uma casa de parto que, segundo Beatriz, tem uma estrutura “bem próxima de uma casa, aconchegante, com profissionais dedicados a atenderem bem e com carinho”.
— Flávio nasceu de parto natural, com mecônio [fezes do feto] e com o cordão enrolado no pescoço, mas totalmente saudável, lindo e forte, derrubando esses dois mitos que levam tantas mães a cesárea. Nasceu com ele também uma mãe confiante e segura de suas escolhasCarla Raiter
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Para a chegada do segundo filho Vinícius, o casal optou pela própria casa. O bebê nasceu dentro de uma piscina inflável e foi recebido pelo pai David Corredato Takata, 27 anos.
— O irmão pulou na piscina para conhecê-lo e Vinícius foi entregue aos meus braços, de onde não saiu mais. Toda a avaliação foi feita com ele recebendo o calor do meu corpo, enquanto o cordão ainda pulsava e mamou como se não houvesse amanhãCarla Raiter
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Beatriz conta que seu maior medo era “acabar caindo em uma cesárea sem indicação, pois estatisticamente os riscos para a mãe e para o bebê são bem maiores”.
— Por isso, tomei muito cuidado na escolha da equipe humanizada “de verdade”. Pesquisei muito, estudei sobre fisiologia do parto, participei de grupos de apoio e li alguns relatos de partoCarla Raiter
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Sobre a dor, Beatriz revela que sempre tomou remédios para se livrar do incômodo, mas durante a gestação do primogênito Flávio adquiriu hábitos mais saudáveis e um deles foi não se automedicar.
— Passei a lidar com todos os incômodos da gestação de forma natural e ao final dela já me sentia mais preparada para lidar com este medo que envolve a dor do parto. Contei com o auxílio de uma doula [assistente de parto] em ambos os partos que deu o suporte físico com massagens, sugestões de posição e muito carinho. A presença do pai também foi essencial, pois me deixou segura e minimizou a dor, assim como o uso de águaCarla Raiter
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A recuperação pós-parto da fotógrafa foi muito rápida e tranquila, garante ela.
— Em ambos os partos, me senti muito bem e disposta, continuei com a minha rotina e com a alimentação habitual. Percebo que no segundo parto meu corpo se recuperou mais rápido, não tive nenhuma laceração e o preparo do períneo [músculo localizado entre a vulva e o ânus] foi essencial para este resultado. No dia seguinte, nem parecia que havia passado um bebê por láCarla Raiter
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O casal Natalia Araújo Boldrin, 26 anos, e Tiago Boldrin, 31 anos, sempre concordou que a chegada do pequeno Otto, hoje com um ano e cinco meses, tinha que ser um acontecimento natural.
— A humanização possa a ser polêmica por falta de informação. Acho que se toda mulher pudesse entender e visualizar o que é parir com respeito e receber seu bebê da melhor forma possível, não teriam dúvidas na escolha [do parto]Bia Takata
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Durante a gestação, Natália, que é designer, conta que frequentou alguns grupos de mulheres que defendem o parto normal. Segundo ela, a busca de informação foi fundamental para confirmar a decisão do parto humanizado.
— Pesquisamos tanto quando vamos escolher uma profissão, nos preparamos tanto para o casamento e por que não fazer o mesmo ou até mais em um momento tão importante como é o nascimento dos filhos?Bia Takata
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Desde então, a decisão do casal Natália e Tiago foi pelo parto domiciliar.
— Escolhemos que o Otto nasceria em casa, no nosso ninho e com o nosso cheiro.
Mas, no decorrer do trabalho de parto, a equipe avaliou a necessidade de transferência para o hospital. E, segundo Natália, a decisão foi tomada em conjunto.
— A equipe [humanizada] foi fundamental pra amenizar a frieza do ambiente hospitalar e possibilitar que eu recebesse meu filho nos braços, quentinho, me olhando. Uma emoção indescritívelBia Takata
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O parto demorou oito horas e foi realizado “com iluminação amena, sem barulho e gente entrando e saindo da sala”.
— Em momento algum pensei em pedir pra tomar analgésicos. A água quente do chuveiro nas costas era um alívio, além de relaxanteBia Takata
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Após o nascimento de Otto, Natalia admite que sentiu como se tivesse corrido uma maratona.
— Cansada, com dor no corpo todo, mas feliz e realizada pela conquista. Mesmo assim, ela garante que pretende ter mais filhos e “todos serão respeitados em seus nascimentos”Bia Takata
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A doula Ana Cristina Duarte, coordenadora do Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa), explica que parto humanizado é respeitar os tempos da mãe e do bebê.
— Qualquer aceleração do processo, quer indução, aumento artificial das contrações ou agendamento de cesariana precisa de uma forte justificativa clínica. O uso de uma intervenção (ou mais, se necessário) não tira o aspecto humanizado do parto, desde que seja necessária no contexto e de que seja dada a escolha para a mãe, portanto, utilizada em caráter de exceçãoBia Takata
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Para obstetra Sergio Luz, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), o parto pode ser em casa, se a mãe optar pelo acompanhamento de profissionais que trabalhem dessa maneira.
— É necessário que ela seja classificada como baixo risco, para que não tenha complicações severas e nem no desenvolvimento do bebê no útero. A maioria das mulheres no Brasil teria condições de ter parto em casaBia Takata
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No entanto, o médico afirma que no parto domiciliar existe risco para o bebê.
— Existe um pouquinho mais de risco para o recém-nascido. É pequeno, quase desprezível, mas existe. Se ele nascer um pouco doente e precisar de atendimento hospitalar, cada minuto é importanteBia Takata
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A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que, em cada país, apenas 15% dos nascimentos seja por cesárea — somente quando a cirurgia é inevitável. Entretanto, no Brasil, essa taxa chega a 43% ao ano. Na rede privada, o índice é de 82%
Bia Takata