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OMS levanta mais dúvidas do que certezas sobre origem da covid

Investigação na cidade Chinesa de Wuhan afastou possibilidade de início da pandemia naquele local, mas deixa respostas pendentes

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Mercado de Huanan chegou a ser apontado como ponto de origem da doença
Mercado de Huanan chegou a ser apontado como ponto de origem da doença Mercado de Huanan chegou a ser apontado como ponto de origem da doença

Os resultados preliminares da investigação da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a origem do coronavírus causador da covid-19 trouxeram ainda mais perguntas acerca da procedência do vírus que já matou mais de 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo.

Após visita à cidade de Wuhan, onde houve o primeiro grande surto da doença, uma missão de cientistas independentes praticamente afastou a possibilidade de que a pandemia tenha começado lá. 

Segundo os investigadores, não foram detectadas amostras do vírus na população de Wuhan antes de meados de novembro de 2019 — os primeiros casos graves começaram a chegar aos hospitais em dezembro.

A delegação visitou o local que era apontado até então como epicentro inicial das infecções: o mercado de frutos do mar e animais selvagens de Huanan.

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"Mercado molhado"

Mercado molhado na cidade chinesa de Shenzhen
Mercado molhado na cidade chinesa de Shenzhen Mercado molhado na cidade chinesa de Shenzhen

O mercado de Huanan era classificado como um "mercado molhado", por necessitar lavagem frequente do chão devido ao sangue e excrementos de animais que escorriam das barracas onde eram vendidos e abatidos.

Uma suposta lista de preços do mercado de Wuhan começou a circular nas redes sociais após a epidemia.

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Nela, aparecem valores de animais como filhotes de lobo, cobras, salamandras gigantes, pavões, ratos, jacarés e raposas vivas.

A oferta incluía também o abate dos animais escolhidos ou a carne congelada, como a de camelo. Tudo isso "entregue à sua porta", dizia o anúncio.

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Moradores das proximidades do mercado confirmaram ao jornal South China Morning Post a comercialização de animais exóticos.

"Havia tartarugas, cobras, ratos, ouriços e faisões", disse a vizinha do centro de compras. Um vendedor de frutas acrescentou que esse tipo de prática ocorria "há muito tempo".

Autoridades chinesas encontraram o coronavírus que infectou humanos em amostras coletadas no mercado após a interdição do local, em 1º de janeiro de 2020. As amostras que deram positivo estavam na ala oeste, onde havia mais comércio de animais vivos.

Hipóteses investigadas

O grupo da OMS também passou por hospitais e pelo Instituto de Virologia de Wuhan antes de concluir que possivelmente a cidade, de 11 milhões de habitantes, não tenha sido o berço do coronavírus.

Quatro hipóteses para o surgimento do vírus foram avaliadas pelos investigadores, sendo que a de vazamento acidental do SARS-CoV-2 de algum laboratório já é tratada como "extremamente improvável".

Foi do próprio Instituto de Virologia de Wuhan que foi emitido um alerta, em março de 2019, para o risco de um surto no país.

A possibilidade de o vírus ter chegado à população por meio de alimentos congelados é a mais defendida por autoridades chinesas e continua sendo apurada pela OMS.

Entretanto, virologistas ouvidos pelo R7 desde o início da pandemia rechaçam essa versão. A própria OMS minimizou, em agosto do ano passado, o risco de haver surtos de covid-19 por meio de alimentos.

Restaram, então, duas hipóteses que serão investigadas com mais profundidade: a transmissão diretamente do vírus de algum animal para seres humanos; ou a transmissão de um animal para outro (hospedeiro intermediário) e posteriormente para humanos.

Os hospedeiros naturais do coronavírus são os morcegos. Mas é pouco provável, segundo especialistas, que eles tenham transmitido o vírus diretamente a seres humanos, uma vez que são animais selvagens.

O chefe da missão, Peter Ben Embarek, afirmou que a existência de um hospedeiro intermediário permanece sendo a suposição mais sólida. 

Pangolim

Estudo chinês no começo da pandemia relacionou o pangolim à covid-19
Estudo chinês no começo da pandemia relacionou o pangolim à covid-19 Estudo chinês no começo da pandemia relacionou o pangolim à covid-19

Pangolins (os mamíferos mais traficados do mundo), semelhantes um tatu, chegaram a ser apontados por cientistas chineses como os hospedeiros intermediários, mas nenhum trabalho conclusivo ainda foi publicado.

Um documentários sobre as origens da pandemia, exibido pelo canal National Geographic no ano passado, mostra pangolins doentes, com nariz escorrendo. Alguns morreram.

Uma vez que esses animais ainda são muito comuns na medicina tradicional chinesa — muitos acreditam que suas escamas têm propriedades curativas —, era frequente o contato dos chineses com os pangolins.

Em junho, a China proibiu a caça e comercialização do pangolim. A organização não governamental WildAid estima que cerca de 200 mil pangolins são mortos todos os anos em países da Ásia para consumo de carne e uso de suas escamas.

O que precisa ser respondido

Ao praticamente descartar Wuhan como o local onde o SARS-CoV-2 emergiu, a investigação deixa ainda mais dúvidas acerca da pandemia.

• Por que o vírus só começou a se espalhar após o surto em Wuhan, se já poderia estar em circulação antes?

• Como o vírus estava presente em amostras congeladas esgoto de diversas cidades do mundo meses antes de fazer as primeiras vítimas na China? Na Espanha, pesquisadores acharam o SARS-CoV-2 em esgoto coletado em março de 2019. Na cidade de Florianópolis (SC), em outubro de 2019.

• Se realmente o vírus já circulava pelo antes de levar milhares aos hospitais chineses, como não provocou situações semelhantes nessas localidades?

• A origem do vírus não ser a cidade de Wuhan pode também significar que o animal hospedeiro natural e o intermediário sejam outros além dos que já foram classificados como potenciais transmissores?

Com mais perguntas do que respostas, a própria OMS admite que pode levar anos até que seja possível reconstituir a história do SARS-CoV-2.

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