Empresa de Coronel Lima cresceu com Temer como secretário de SP
Ministro do STF Luís Roberto Barroso afirma que Argeplan teve “crescimento exponencial nos últimos 20 anos"
Brasil|Thais Skodowski, do R7
A empresa Argeplan Arquitetura & Engenharia, que tem como um dos sócios o coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho, amigo e ex-assessor do Michel Temer, teve o crescimento impulsionado justamente quando o presidente foi o secretário de Segurança Pública de São Paulo, entre 1984 e 1993.
Em 1993, pelo menos dois contratos de pouco mais de R$ 500 mil (valor corrigido) foram firmados com a secretaria. Antes, entre 1991 e 1992, quando Lima era chefe do Centro de Suprimentos e Manutenção de Obras da PM, o coronel contratou a própria Argeplan para projetos da PM. As informações são do jornal "Folha de S.Paulo".
Já quando Temer assumiu a vice-presidência da República, a empresa passou a receber pagamentos por obras feitas para a União. De 2011 a 2016, foram R$ 1,1 milhão por serviços de transporte. A Argeplan também conseguiu o contrato na usina de Angra 3, que está sendo investigada na Operação Lava Jato.
Lima se tornou oficialmente sócio da Argeplan em 2011, mas desde os anos 1980 tinha parceria com a empresa, trabalhando como seu procurador legal e fazendo negócios imobiliários.
Delação
Ricardo Saud, ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, em sua delação premiada reforçou a proximidade entre Temer e o Coronel Lima. Ele também falou que a propina era entregue na Argeplan, que fica na Vila Madalena, em São Paulo.
“O Temer me deu um papelzinho e falou 'ó Ricardo tem um milhão que eu quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui' [..] Temer falou isso na porta do escritório dele, na calçada, só eu e ele na rua na praça Panamericana e ele me deu o coisa e falou 'ó na Rua Juatuba' [...] e lá funciona uma empresa que já foi investigada na Lava Jato, que é a tal de Argeplan: [...] quem recebeu ele [Florisvaldo funcionário de Ricardo Saud] lá foi o João Batista Lima e Filho, eu acho que é vulgo Coronel Lima”, diz o trecho da delação.
Contratos sem ter competência
O contrato da Argeplan com Angra 3 foi questionado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso no despacho que pediu a prisão do Coronel Lima.
Barroso destaca que um relatório da investigação demonstra “crescimento exponencial da Argeplan nos últimos 20 anos, inclusive no setor nuclear, em parceria com a AF Consult do Brasil, o que se vê de um contrato no valor de R$ 160 milhões com a Eletronuclear para as obras da Usina de Angra 3…”.
Ainda de acordo com o ministro “... segundo José Antunes Sobrinho, só teria ocorrido ‘por ser a Argeplan ligada a Temer e precisou subcontratar a Engevix porque não tinha capacidade para o serviço”.
José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, já foi preso pela Operação Lava Jato.
Depoimento da filha de Temer
Nesta quinta-feira (3), Maristela Temer, filha do presidente, deve prestar depoimento a respeito de uma reforma feita na casa dela. Segundo o inquérito, o presidente Michel Temer recebeu R$ 2 milhões das empresas JBS e Engevix, por intermédio de seu amigo e coronel aposentado João Baptista de Lima Filho.
Duplex
O coronel se aposentou da PM em 1993, recebendo cerca de R$ 15 mil mensais. Nos anos 2000, Lima comprou um apartamento duplex de 446 metros quadrados com seis vagas na garagem no Morumbi. O valor venal do imóvel, estabelecido pelo Poder Público, é de R$ 3,3 milhões.
De acordo com a matrícula do imóvel, que a Folha de São Paulo teve acesso, o apartamento foi adquirido em 1995 por uma offshore no Uruguai e cinco anos depois vendido ao coronel, por R$ 650 mil (quase R$ 1,9 milhão em valor corrigido), por meio de um pacto promissório (parcelamento).
À época, o coronel disse que o apartamento foi adquirido diretamente do construtor do prédio em condições mais favoráveis porque um casal, que tinha comprado o imóvel, desistiu da compra.
Defesa do Coronel Lima
O R7 entrou em contato com o advogado Cristiano Benzoto, que defende o Coronel Lima. O advogado disse que que o “Sr. Lima nega qualquer irregularidade, assim como a prática ou a participação em qualquer ato ilícito”.